Uma pesquisa internacional, liderada por um brasileiro e realizada na Universität Berlin, revelou a presença de microplásticos nos cérebros de 15 adultos que viveram em São Paulo ao longo de cinco anos. Os materiais foram detectados nos bulbos olfativos, região do cérebro associada ao sentido do olfato.
A pesquisa marca um feito histórico: pela primeira vez, microplásticos foram encontrados no cérebro humano. Enquanto a presença desses poluentes já havia sido confirmada em outros órgãos, como pulmões e intestinos, como mostra uma reportagem da Fórum de 2023. Esta é a primeira detecção em tecido cerebral.
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No momento, esses estudos se encontram em processo de revisão para possível publicação na revista científica do grupo Nature. O estudo liderado por Luís Fernando Amato Lourenço identificou 16 fragmentos de plástico no cérebro de pessoas que viviam em São Paulo.
A maioria era de polipropileno e nylon, materiais comuns em roupas e embalagens. A pesquisa revelou que 75% dos fragmentos eram partículas e 25% fibras.
A contaminação por microplásticos está sendo cada vez mais associada a sérios problemas de saúde. Pesquisas indicam que a presença dessas partículas no corpo humano pode aumentar significativamente o risco de infarto, AVC e até mesmo levar ao óbito.
O perigo das nanopartículas
O bulbo olfativo, uma pequena estrutura cerebral localizada no interior do nariz, é a porta de entrada dos odores para o cérebro. Separado da cavidade nasal por uma fina camada óssea perfurada, essa região cerebral pode servir como via de acesso para substâncias externas.
Embora os cientistas acreditem que a barreira proteja o cérebro da maioria dos microplásticos, existe a possibilidade de que esses materiais se degradem em nanopartículas, pequenas o suficiente para atravessá-la.
Amato-Lourenço e sua equipe analisaram tecidos dos bulbos olfativos de 15 adultos falecidos, com idades entre 33 e 100 anos, e de dois fetos de 7 meses. Os adultos residiram em São Paulo e serviram como grupo de estudo, enquanto os fetos foram utilizados como controle.
Para identificar os microplásticos, os pesquisadores empregaram duas técnicas: a análise direta do tecido dos bulbos olfativos e a análise por espectroscopia infravermelha de partículas obtidas após a digestão do tecido.
A fim de garantir a confiabilidade dos resultados, todos os procedimentos foram realizados em um ambiente livre de plásticos, utilizando equipamentos e materiais de laboratório 100% livres de polímeros sintéticos.