HOUTHIS

Houthis: quem são os rebeldes que estão desafiando EUA e Israel no Mar Vermelho

Em meio a uma escalada no conflito entre o grupo iemenita e o governo norte-americano, novos ataques a embarcações foram confirmados no Mar Vermelho, e os EUA lançaram explosivos contra civis do Iêmen

Abdul-Malik al-Houthi
Abdul-Malik al-HouthiCréditos: MEHR
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Neste domingo (16), o comando dos Houthis, grupo rebelde de resistência baseado no Iêmen, afirmou que vai atacar "todos os navios de guerra" dos Estados Unidos no Mar Vermelho e no Mar Arábico como retaliação às agressões contra o grupo por parte do governo norte-americano.

O presidente Donald Trump já havia afirmado, em publicação na sua própria rede social, Truth Social, que os EUA atacariam o grupo com uma "força letal esmagadora" até "atingir seu objetivo" — o combate à "pirataria" e o "terrorismo" dos Houthis contra a armadados EUA, composta por bases navais, instrumentos de defesa e transporte. 

Referindo-se ao grupo como terrorista, classificação que recebeu oficialmente durante o primeiro mandato do presidente norte-americano, Trump ainda lançou ameaças ao Irã, que deve "encerrar imediatamente" qualquer apoio [aos Houthis], e será "responsabilizado totalmente" caso represente "ameaça ao povo americano" e ao seu presidente.

Em resposta ao ataque, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Seyed Abbas Araghchi, disse na rede social X que o governo norte-americano "não tem autoridade ou negócios para ditar a política externa iraniana. Essa era acabou em 1979 [com a revolução que deu fim ao governo monárquico apoiado pelos Estados Unidos]." 

Ele prosseguiu acusando o ex-presidente dos EUA, Joe Biden, de "entregar 23 bilhões de dólares, sem precedentes, a um regime genocida", referindo-se ao apoio financeiro massivo dos Estados Unidos a Israel.

"Mais de 60 mil palestinos mortos, e o mundo responsabiliza totalmente a América. Acabe com o genocídio e terrorismo israelense. Pare de matar o povo iemenita", concluiu o ministro iraniano.

Neste sábado (15), os EUA lançaram novos ataques contra os Houthis, que deixaram pelo menos 31 mortos e já se constituem "a maior operação militar no Oriente Médio" desde a volta de Trump.

Os ataques foram feitos a regiões civis do país, como a província de Saada, ao norte do Iêmen — na fronteira com a Arábia Saudita —, em que quatro crianças e uma mulher foram mortas, e outras 14 pessoas ficaram feridas, como noticiou a imprensa local. 

Os ataques foram feitos com explosivos e marcam uma escalada no conflito, que já havia tido um novo desenvolvimento na última terça (11), quando os Houthis anunciaram que voltariam a atacar navios de Israel entre o Mar Vermelho e o Arábico, no Estreito de Bab al-Mandab e no Golfo de Áden, em retaliação ao genocídio de Gaza.

Em novembro de 2024, o grupo afirmou que havia atacado, durante oito horas seguidas, navios da armada naval norte-americana em Bab al-Mandeb, na Península Arábica, sob a justificativa de que tinham ligação com o Estado de Israel. 

Leia mais: O ataque massivo dos Houthis à armada naval dos EUA que durou oito horas | Revista Fórum

Ao longo do domingo (16), os ataques dos Houthis contra a estrutura norte-americana no estreito prosseguiram, com dois novos ataques ao USS Harry S. Truman, um porta-aviões dos EUA estacionado no Mar Vermelho, e o quarto dessa espécie empregado na região, em suporte às operações contra os Houthis.

Ameaças de mais ataques a navios de carga norte-americanos se seguiram.

Quem são os Houthis

Os Houthis se desenvolveram como movimento de resistência e luta armada para a defesa comunitária contra o governo do Iêmen, apoiado pela Arábia Saudita, após o processo de unificação do país — cuja divisão política era feita entre as partes norte e sul do território (isto é, entre República Democrática Popular e República Árabe do Iêmen), nos anos 1990. 

Ligados a uma organização religiosa e cultural criada pelos Zaidis, grupo dissidente e marginalizado que integra xiitas e sunitas, considerados de viés moderado, os Houthis nasceram em combate ao wahabismo, movimento islâmico ligado à Arábia Saudita.

Opostos à influêcia saudita na região, os Houthis lideraram uma insurgência ao governo iemenita ainda no início dos anos 2000. 

O Irã, seu aliado ao norte, atua no suporte militar e tático ao grupo, e contra a influência da coalização formada pela Arábia Saudita para a restauração do ex-presidente do Iêmen, Abd-Rabbuh Mansur Hadi, obrigado a renunciar em 2022.

Em 2014, os Houthis saíram vitoriosos da guerra civil iemenita, com a tomada da capital do país, Sanaa, e a posterior renúncia forçada do governo de Hadi, que fugiu e se isolou. O grupo pôde, então, consolidar-se no controle do norte do Iêmen, e continua a governar partes consideráveis do país, inclusive Sanaa. 

Seu maior campo de influência internacional, a passagem do Golfo de Áden e do Estreito de Bab el-Mandeb pelo Mar Vermelho, é uma rota estratégica para o transporte de armamentos e de hidrocarbonetos — por ali passam cerca de 10% de todo o petróleo mundial. 

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