A ameaça dos houthis, que controlam a maior parte do Iêmen, de atacar navios que estão passando pelo cabo da Boa Esperança, no sul da África, está causando alarme entre os navegadores.
Os houthis, que recebem apoio do Irã, passaram a atacar navios no mar Vermelho e no Golfo de Aden desde outubro do ano passado, alegando solidariedade com o povo de Gaza sob ocupação de Israel.
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Uma frota naval dos Estados Unidos, com apoio de vários países, navega na região monitorando o lançamento de drones e mísseis por parte dos houthis, além de atacar bases de lançamento em território iemenita.
Apesar disso, o líder dos houthis fez um discurso na quinta-feira, 14, ameaçando ampliar a área de ataque até o Oceano Índico, na rota alternativa que passa pelo cabo da Boa Esperança, na África do Sul.
Al-Sayyid Abdul Malik Al-Houthi fez um balanço dos ataques:
O número esta semana atingiu doze operações visando navios e navios de guerra. Elas foram realizadas usando um total de cinquenta e oito mísseis balísticos e de cruzeiro e drones. Estas operações ocorreram no Mar Vermelho, no Mar da Arábia e no Golfo de Aden, e desta vez alcançaram distâncias sem precedentes, com três operações atingindo o Oceano Índico, pela graça de Allah. O número total de navios e navios de guerra alvo atingiu setenta e três.
O Comando Central dos Estados Unidos, em sua conta no X, faz um registro de cada incidente e sustenta que a maioria dos ataques não afetou diretamente os alvos.
Porém, só a ameaça já fez disparar o preço dos fretes e do seguro dos navios, uma vez que a rota do mar Vermelho é uma importante ligação do comércio entre a China e o Ocidente.
Os houthis alegam que só estão atacando navios relacionados ao comércio de Israel ou de propriedade dos países que apoiam a ofensiva de Tel Aviv em Gaza.
ATAQUES NA ROTA ALTERNATIVA
Até agora, eles afundaram o cargueiro Rubymar, que navegava sob a bandeira de Belize mas é de propriedade de uma empresa britânica. O navio, que levava uma carga de fertilizante que pode representar risco ambiental, afundou no golfo de Aden.
O Rubymar, operado por uma empresa do Líbano, navegava da Arábia Saudita com destino à Bulgária.
O ataque aconteceu no dia 18 de fevereiro, mas o navio só afundou em 2 de março. Nenhum país se dispôs a despachar resgate para o navio, por medo de sofrer novos ataques.
Navios que não estão em movimento são muito mais vulneráveis a bombardeios certeiros de mísseis.
No primeiro incidente com mortes, os houthis também acertaram o cargueiro True Confidence no dia 6 de março. Três marinheiros filipinos morreram e dois ficaram gravemente feridos.
Segundo o operador, o navio carregava caminhões e produtos de aço e navegava da China com destino ao porto jordaniano de Aqaba. Ele foi alvo quando estava a cerca de 100 quilômetros de Aden, no Iêmen.
O True Confidence navegava com a bandeira de Barbados, é operado por uma empresa grega e registrado na Libéria. Os operadores fizeram questão de registrar que não tinham qualquer relação com os Estados Unidos.
No mundo da navegação, o uso de bandeiras de outros países é uma prática comum, para reduzir taxação ou esconder os verdadeiros donos, que ficam livres de responsabilidade em caso de acidente.
Nos registros da Libéria, o True Confidence aparece como sendo da empresa Oak Tree Gerenciamento de Capital, baseada na Virgínia. Mesmo assim, isso não significa que o dinheiro por trás do navio seja estadunidense.
DESVIO DE ROTAS
A escalada dos houthis tem relação com o fato de que navios mercantes estão evitando o mar Vermelho e usando a rota que passa pelo sul da África em direção à Europa.
Segundo a empresa de pesquisa Clarksons, o trânsito de navios com contêineres que entram no mar Vermelho com destino ao Mediterrâneo caiu 91% desde a primeira metade de dezembro. Cerca de 620 navios foram desviados para a rota mais longa, pelo sul da África.
Estas são em geral as cargas mais caras. A redução para o trânsito de cargueiros e petroleiros foi de 37% e 31%, segundo a mesma empresa.
O aumento da tonelagem que agora passa pelo Cabo da Boa Esperança foi de 81%.
Isso impacta não apenas o preço dos fretes, mas também as taxas cobradas pela União Europeia por conta das emissões de carbono.
Segundo a Offshore Energy, estas taxas aumentaram de 98 mil euros para 285 mil por viagem.
Com o aumento de 80% na distância, por conta do desvio, a empresa OceanScore calcula que os navios estão emitindo três vezes mais carbono, ao aumentar a velocidade de 16 para a média de 20 nós.
Os houthis dizem que agora dispõem de mísseis hipersônicos, que viajam a pelo menos 5 vezes a velocidade do som.
A informação foi publicada pela agência estatal russa RIA-Novosti, baseada em entrevista com um líder houthi não identificado.
Embora sem confirmação, é uma notícia que deixa os armadores de cabelo em pé.
O Irã dispõe de mísseis hipersônicos Fattah, que são manobráveis e tem alcance de até 1.400 quilômetros.
Embora tenham apoio de Teerã, os houthis dificilmente utilizariam um míssil do gênero, por causa das implicações internacionais.
Porém, prometem uma "surpresa" aos navegadores.
Se os houthis acertarem um navio na rota que passa pelo cabo da Boa Esperança, a repercussão no preço dos fretes e dos seguros de navegação será imensa.