GENOCÍDIO

Soldados israelenses agrediram e humilharam médicos após ataque a hospital em Gaza

Equipe médica relatou casos de tortura à rede BBC durante invasão ao Hospital Nasser, segundo maior de Gaza

Feridos em Gaza.Créditos: Imagens Wafa
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Médicos que trabalhavam no Hospital Nasser, na Faixa de Gaza, atacado por Israel em fevereiro, contaram que foram espancados e humilhados por soldados israelenses. A informação foi divulgada pela rede BBC, de Londres, nesta terça-feira (12). 

Ahmed Abu Sabh, um dos médicos que trabalhava no local durante o ataque, contou que passou uma semana detido pelos militares israelenses e, durante esse tempo, foi atacado por cães e teve sua mão quebrada por um soldado. 

Outros dois médicos palestinos, que não quiseram se identificar por medo de represálias, também afirmaram terem sido humilhados, espancados, encharcados com água fria e forçados a ficar ajoelhados em posições desconfortáveis por horas. 

As forças militares de Israel atacaram o hospital, localizado na cidade de Khan, ao sul da Gaza e um dos únicos que ainda funcionavam, no dia 15 de fevereiro, argumentando que os serviços de inteligência apontaram que havia soldados do Hamas no local. 

O Exército de Benjamin Netanyahu também afirmava que os reféns israelenses sequestrados em 7 de outubro estavam no hospital. 

Em imagens filmadas de forma escondida no dia 16 de fevereiro e compartilhadas com a BBC, é possível ver homens de cueca, de joelhos, enfileirados e com as mãos atrás da cabeça. “Qualquer pessoa que tentasse mover a cabeça ou fazer qualquer movimento era atacada”, contou o gerente-geral do hospital, o médico Atef Al-Hout, à BBC. “Eles os deixaram por cerca de duas horas nesta posição vergonhosa", acrescentou.

O médico recém-formado Abu Sabha, de 26 anos, era voluntário no hospital na época e afirmou que teve medo de ser executado durante a operação. “Eles me colocaram em uma cadeira, parecia uma forca”, disse. "Ouvi sons de cordas, então achei que seria executado".

“Depois disso, eles quebraram uma garrafa, e [o vidro] cortou minha perna, eles deixaram sangrar. Aí começaram a trazer um médico atrás do outro, e começaram a colocá-los um ao lado do outro. Eu ouvia seus nomes e suas vozes", acrescentou.

Segundo o relato, eles foram obrigados a ficar quase nus e foram empilhados. Também foram retirados de Gaza pelos militares. "Durante todo o caminho fomos espancados, xingados e humilhados. E jogaram água fria na gente".

Ele relatou que alguns médicos também eram obrigados a ficar deitados de bruços por longos períodos e atrasar as refeições.

Ainda de acordo com Hout, após as Forças de Defesa de Israel (IDF) assumirem o controle da unidade de saúde, as operações militares de Israel tornaram incapaz o tratamento de pacientes, que somavam quase 200 pessoas, seis delas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Outros relatos reunidos pela BBC apontam que os médicos não tiveram permissão para enterrar mortos, mover os corpos de pacientes que morreram durante a invasão e tiveram que tratar casos que não tinham preparação. Já os familiares de outros cincos médicos afirmaram que seus entes ainda estão desaparecidos

Um relatório interno da Organização das Nações Unidas (ONU), ao qual a BCC teve acesso, descreve os abusos generalizados de palestinos que foram capturados e interrogados em centros de detenção israelenses improvisados desde o início da guerra, que são semelhantes aos relatos fornecidos pelos médicos.

O que diz a IDF

Em nota à BCC, a IDF não respondeu perguntas e somente negou que a equipe médica tenha sido ferida durante a operação. No entanto, assumiu terem pedido para que os palestinos "suspeitos de terrorismo ficassem nus durante a operação para que fossem melhor revistados". 

“As roupas não são devolvidas imediatamente aos detidos, devido à suspeita de que possam esconder meios que podem ser usados para fins hostis (como facas). Os detidos recebem suas roupas de volta quando é possível fazer isso", diz a nota.

A Defesa de Israel também afirmou que “cerca de 200 terroristas e suspeitos de atividades terroristas foram detidos, incluindo alguns que se passaram por equipe médica”. Além disso,“foram encontradas muitas armas, assim como medicamentos fechados destinados aos reféns israelenses”.