A cientista social e professora da Universidade Federal do ABC Maria Carlotto participou do Fórum Onze e Meia desta sexta-feira (7) para comentar sobre o governo de Donald Trump nos Estados Unidos e suas políticas que violam direitos e promovem limpeza étnica não só no país americano mas pelo resto do mundo.
A especialista defende que é preciso fazer um acompanhamento sistemático do novo governo Trump nos EUA porque o destino do país será decisivo para o conjunto da humanidade. Para Carlotto, o presidente representa um "novo passo" para os governos de extrema direita que já estão instaurados em outros países. A professora traz uma comparação entre Trump e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em relação à produção de discurso e as práticas adotadas pelos dois governos. Para ela, Bolsonaro agiu mais do ponto de vista do discurso - que teve efeitos práticos e graves, pontua a professora - mas o que Trump faz é ir muito além do discurso de eliminação do outro neste segundo mandato.
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"Ele está partindo para medidas práticas e isso é uma mudança qualitativa. A gente pode analisar o quanto já tinha disso no governo anterior, mas eu acho que o que ele está fazendo do ponto de vista da sua ação política é implementar medidas efetivas que vão resultar, por exemplo, em limpeza étnica e no desrespeito sistemático aos direitos humanos. Não que não tivesse isso antes, mas não era um programa de governo tão explícito e tão prioritário", explica Carlotto.
Além disso, a professora destaca a atenção que Trump está dando para a América Latina já nos primeiros dias de governo. "Ele assumiu dando muita prioridade para a América Latina, um pouco por conta da questão dos migrantes, mas não só, porque ele tem interesses muito importantes na região. Na disputa com a China, o conjunto das Américas, especialmente a América Latina, é muito central para ele pela presença de minerais raros que são decisivos para o programa de reindustrialização que ele quer implementar", pontua Carlotto.
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Carlotto também chama atenção para uma questão que classifica como "decisiva" no governo Trump, que é a implementação política de um programa "racista, sem vergonha de ser racista, masculinista, sem vergonha de ser masculinista, e de bilionários e oligárquicos". "Então, o programa de Trump apresenta a oligarquia masculina branca da América", afirma.
"É uma coisa absolutamente impressionante como isso é desavergonhado. Por mais que ele tenha vencido as eleições ampliando a sua votação, e tem várias razões para isso, a extrema direita e o neofascismo se caracterizam justamente por terem base de massas, e o Trump tem base de massa,que transcende esse núcleo político do governo, as políticas que ele implementa são para este núcleo político. Ele não fez absolutamente nada para seus eleitores até agora", completa a professora.
"A prioridade número zero é atender esse núcleo. Inclusive a ação dele recebendo o Netanyahu, fazendo essas ameaças que ferem o direito internacional, tudo isso é para agradar este núcleo político muito pautado nesse masculinismo, nessa branquitude", diz Carlotto.
Confira a entrevista completa da cientista social Maria Carlotto ao Fórum Onze e Meia abaixo: