A presidência brasileira no Brics terá como foco as áreas de saúde, clima, comércio, inteligência artificial e fortalecimento institucional, segundo o embaixador Maurício Lyrio, sherpa do Brics pelo Brasil.
O encontro com jornalistas aconteceu nesta sexta-feira (21) antes da Reunião de Sherpas do Brics, que será realizada nos dias 25 e 26 de fevereiro, em Brasília. "Sherpa" é o nome dado aos assessores de alto nível que fazem negociações prévias e estabelecem as bases para decisões que serão tomadas pelos líderes. O termo é uma analogia aos guias de montanha que ajudam os alpinistas a escalar picos difíceis.
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Na Cúpula dos Líderes, prevista para ser realizada em 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro, não será debatida a criação de uma moeda única do grupo, de acordo com Lyro. "Moeda do Brics não é um tema que está sendo discutido", declarou. “Não há acordos sobre o tema e também porque é muito complexo este processo. São economias grandes. Esse não é um tema fácil de administrar e, obviamente, há outras maneiras de redução de custos de operação. Tem a ver com a lógica interna do Brics.”
O foco atual está em reduzir os custos das operações comerciais e financeiras entre os países membros, com o uso de moedas locais, uma prática que já se tornou comum em transações bilaterais. Ele destacou que iniciativas como o sistema de pagamentos transfronteiriços e mecanismos entre bancos centrais são as prioridades.
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“É algo que já se desenvolve no Brics desde 2015 e nós continuamos a avançar, até porque o uso de moedas locais já é praxe no comércio bilateral entre membros do Brics. Vários membros já usam moedas locais no seu comércio bilateral, o que continuará no período da presidência brasileira”, pontuou.
Decisão sem relação com Trump
Lyrio afirmou que o posicionamento de não discutir uma moeda comum não está relacionado a declarações de autoridades internacionais. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou a ameaçar os países membros do bloco com tarifas de 100% sobre suas importações, caso o Brics constituísse uma alternativa ao dólar nas negociações internacionais.
Em declaração à imprensa após sua posse, Trump afirmou: “Vamos impor, no mínimo, tarifas de 100%" se insistirem na desdolarização. Em seguida, negou que a possível medida representasse uma intimidação. “Isso sequer é uma ameaça."
O embaixador brasileiro não descartou a possibilidade de os chefes de Estado do Brics discutirem a adoção de uma moeda comum no futuro. “Nada impede que os presidentes discutam a possibilidade, em um horizonte mais distante.”
Mudanças do clima
Um tema central abordado por Lyrio e que deve estar em debate pelos países-membros do grupo é o financiamento para o combate às mudanças climáticas.
Os resultados da COP 29 em Baku, no Azerbaijão, não atenderam às expectativas dos países em desenvolvimento, segundo Lyrio, e lembrou que o acordo de Paris previa um financiamento de US$ 100 bilhões anuais para ajudar estas nações na transição energética, mas o valor nunca foi integralmente cumprido. "Até 2023, nenhum ano atingiu esse compromisso", destacou.
As necessidades atuais para o combate à mudança do clima são da ordem de US$ 1,3 trilhão por ano, aponta Lyrio. O Brasil buscará coordenar uma posição conjunta entre os países do Brics para pressionar por mais recursos na próxima COP, em Belém.
O Brics é composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e, recentemente, passou a contar com seis novos países membros admitidos em 2024-25: Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. Juntos, reúnem 48,5% da população mundial e ocupam 35,6% do território global. O Brics responde por cerca de 40% do PIB mundial em paridade de poder de compra e por 28% a 29% do PIB nominal.
Com informações de Agência Gov e Agência Brasil