BLOCO

A atual posição do Brics sobre a criação de uma moeda única

Brasil sediará reunião preparatória para a Cúpula dos Líderes do bloco em fevereiro; embaixador brasileiro detalha os temas em discussão

Embaixador Maurício Lyrio falou sobre os planos do Brasil na presidência do Brics
Embaixador Maurício Lyrio falou sobre os planos do Brasil na presidência do BricsCréditos: Divulgação/Itamaraty
Escrito en GLOBAL el

A presidência brasileira no Brics terá como foco as áreas de saúde, clima, comércio, inteligência artificial e fortalecimento institucional, segundo o embaixador Maurício Lyrio, sherpa do Brics pelo Brasil. 

O encontro com jornalistas aconteceu nesta sexta-feira (21) antes da Reunião de Sherpas do Brics, que será realizada nos dias 25 e 26 de fevereiro, em Brasília. "Sherpa" é o nome dado aos assessores de alto nível que fazem negociações prévias e estabelecem as bases para decisões que serão tomadas pelos líderes. O termo é uma analogia aos guias de montanha que ajudam os alpinistas a escalar picos difíceis.

Na Cúpula dos Líderes, prevista para ser realizada em 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro, não será debatida a criação de uma moeda única do grupo, de acordo com Lyro. "Moeda do Brics não é um tema que está sendo discutido", declarou.  “Não há acordos sobre o tema e também porque é muito complexo este processo. São economias grandes. Esse não é um tema fácil de administrar e, obviamente, há outras maneiras de redução de custos de operação. Tem a ver com a lógica interna do Brics.”

O foco atual está em reduzir os custos das operações comerciais e financeiras entre os países membros, com o uso de moedas locais, uma prática que já se tornou comum em transações bilaterais. Ele destacou que iniciativas como o sistema de pagamentos transfronteiriços e mecanismos entre bancos centrais são as prioridades.

“É algo que já se desenvolve no Brics desde 2015 e nós continuamos a avançar, até porque o uso de moedas locais já é praxe no comércio bilateral entre membros do Brics. Vários membros já usam moedas locais no seu comércio bilateral, o que continuará no período da presidência brasileira”, pontuou.

Decisão sem relação com Trump

Lyrio afirmou que o posicionamento de não discutir uma moeda comum não está relacionado a declarações de autoridades internacionais. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou a ameaçar os países membros do bloco com tarifas de 100% sobre suas importações, caso o Brics constituísse uma alternativa ao dólar nas negociações internacionais.

Em declaração à imprensa após sua posse, Trump afirmou: “Vamos impor, no mínimo, tarifas de 100%" se insistirem na desdolarização. Em seguida, negou que a possível medida representasse uma intimidação. “Isso sequer é uma ameaça."

O embaixador brasileiro não descartou a possibilidade de os chefes de Estado do Brics discutirem a adoção de uma moeda comum no futuro. “Nada impede que os presidentes discutam a possibilidade, em um horizonte mais distante.”

Mudanças do clima

Um tema central abordado por Lyrio e que deve estar em debate pelos países-membros do grupo é o financiamento para o combate às mudanças climáticas.

Os resultados da COP 29 em Baku, no Azerbaijão, não atenderam às expectativas dos países em desenvolvimento, segundo Lyrio, e lembrou que o acordo de Paris previa um financiamento de US$ 100 bilhões anuais para ajudar estas nações na transição energética, mas o valor nunca foi integralmente cumprido. "Até 2023, nenhum ano atingiu esse compromisso", destacou.

As necessidades atuais para o combate à mudança do clima são da ordem de US$ 1,3 trilhão por ano, aponta Lyrio. O Brasil buscará coordenar uma posição conjunta entre os países do Brics para pressionar por mais recursos na próxima COP, em Belém.

O Brics é composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e, recentemente, passou a contar com seis novos países membros admitidos em 2024-25: Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. Juntos, reúnem 48,5% da população mundial e ocupam 35,6% do território global. O Brics responde por cerca de 40% do PIB mundial em paridade de poder de compra e por 28% a 29% do PIB nominal.

Com informações de Agência Gov e Agência Brasil

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar