ESCÂNDALO

Criptomoedas: vídeo vazado revela que Milei combinou previamente perguntas de entrevista

Em dado momento, assessor do presidente argentino chega a interromper entrevista gravada pois declaração poderia gerar "problemas judiciais"; assista

Vaza vídeo que mostra que perguntas de entrevista de Milei foram previamente combinadas.Créditos: Reprodução
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Um vídeo vazado na noite desta segunda-feira (17) revela que a equipe do presidente argentino Javier Milei combinou previamente as perguntas feitas em uma entrevista ao canal de televisão "Todo Noticias", em meio ao escândalo da criptomoeda $LIBRA

Na sexta-feira (14), Milei publicou em sua conta na rede social X uma postagem promovendo a nova criptomoeda. Na publicação, ele afirmava que o projeto serviria para financiar pequenas empresas e empreendimentos locais na Argentina. Após o endosso do presidente argentino, a capitalização de mercado da nova criptomoeda subiu para US$ 4,6 bilhões, graças a aproximadamente 40 mil compradores. Na sequência, após poucas horas, o valor do ativo desabou com um pequeno grupo de carteiras digitais retirando quase US$ 90 milhões.

A primeira declaração pública de Milei sobre o assunto veio nesta segunda-feira durante a entrevista ao "Todo Noticias". O presidente argentino argumentou que não promoveu a moeda, mas "apenas a divulgou". O extremista chegou comparar as operações com a criptomoeda com jogos de azar: "Se você vai ao cassino e perde dinheiro, qual é a reclamação, se você sabia que tinha essas características?". 

Uma versão não editada da entrevista, que não foi ao ar na televisão, entretanto, foi divulgada por engano – ou deliberadamente por algum funcionário da Todo Noticias – no canal do YouTube da emissora. No vídeo em questão, há um momento em que fica claro que as perguntas foram previamente acordadas e, em dado momento, um assessor chega a interromper para avisar que uma declaração de Milei sobre a criptomoeda $LIBRA poderia gerar "problemas judiciais", ao que o apresentador acata e orienta o entrevistado. 

Veja vídeos: 

Milei investigado 

Uma firma de advogados argentinos enviou ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos e ao Federal Bureau of Investigation (FBI) um "relatório de operações criminosas" sobre as atividades envolvendo a criptomoeda $LIBRA.

O documento destaca a participação do presidente argentino Javier Milei e de sua irmã, Karina Milei, secretária-geral da Presidência. Também menciona Mauricio Novelli e Manuel Terrones Godoy, que já trabalharam com o mandatário no passado, do estadunidense Hayden Mark Davis e do cingapuriano Julian Peh.

"Solicitamos que o Departamento de Justiça investigue o papel do Presidente da República Argentina, Javier Milei, neste golpe, já que ele o promoveu e no passado promoveu vários empreendimentos que acabaram sendo golpes", disse o advogado do escritório, Mariano Moyano Rodríguez. A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA também foi notificada sobre as possíveis atividades criminosas.

Os advogados argumentam que os Estados Unidos teriam jurisdição para realizar a investigação já que cidadãos ou residentes dos EUA foram vítimas dos crimes. Além disso, a plataforma utilizada, chamada Kip Protocol, é desenvolvida nos Estados Unidos e a empresa controladora, Kip Network Inc, está registrada em Kansas City, no Missouri.

A outra empresa que estaria por trás da operação, a Kelsen Ventures, teria como proprietário Hayden Mark Davis, ambos estadunidenses.

O tamanho do escândalo

Na sexta-feira (14), Javier Milei publicou em sua conta na rede social X uma postagem promovendo um novo token digital chamado $LIBRA. Na publicação, ele afirmava que o projeto serviria para financiar pequenas empresas e empreendimentos locais na Argentina.

Após o endosso do presidente argentino, a capitalização de mercado da nova criptomoeda subiu para US$ 4,6 bilhões, graças a aproximadamente 40 mil compradores. Na sequência, após poucas horas, o valor da criptomeda desabou com um pequeno grupo de carteiras digitais retirando quase US$ 90 milhões.

Empresas de inteligência de criptomoedas identificaram transações suspeitas sugerindo um esquema de rug pull, um tipo de golpe em que os desenvolvedores de um projeto abandonam o empreendimento repentinamente, levando junto os fundos dos investidores, deixando-os com ativos sem valor. Segundo uma publicação do The Solana Post, a operação afetou 74.698 pessoas que perderam mais de 286 milhões de dólares.

Na madrugada do sábado (15), Milei deletou sua postagem e postou uma nova publicação no X. "Há algumas horas publiquei um tweet, como tantas outras inúmeras vezes, apoiando um suposto empreendimento privado com o qual obviamente não tenho ligação. Não conhecia os detalhes do projeto e após me inteirar decidi não continuar divulgando (por isso apaguei o tweet)", disse ele.

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