As tarifas de Donald Trump aproximam China e Brasil. Pequim trabalhará ao lado de Brasília para implementar os consensos estabelecidos pelos presidentes Lula e Xi Jinping e impulsionar resultados concretos na cooperação bilateral.
Com as crescentes tensões comerciais entre EUA e China e o impacto nas economias emergentes, Brasil e China buscam reforçar o diálogo e ampliar parcerias para reduzir a vulnerabilidade às sanções unilaterais de Washington.
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Esse comentário foi feito durante a coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China, nesta terça-feira (18), pelo porta-voz Guo Jiakun, que criticou as novas tarifas anunciadas pelo governo Trump e alertou que o protecionismo comercial "não leva a lugar nenhum".
Questionado sobre a possibilidade de China e Brasil coordenarem respostas conjuntas contra as tarifas dos EUA, Guo destacou a parceria estratégica entre os dois países e a importância da cooperação dentro do BRICS.
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"China e Brasil, como grandes países e representantes do Sul Global, têm mantido uma postura estratégica firme e contribuído ativamente para a paz, a estabilidade e o desenvolvimento global."
Pequim reafirmou seu apoio à presidência brasileira no BRICS em 2025 e garantiu que seguirá colaborando para fortalecer a influência do bloco.
Tarifaço de Trump
No dia 14 de fevereiro, Trump anunciou a intenção de impor tarifas sobre carros importados, com implementação prevista para 2 de abril. Esse anúncio ocorreu no contexto de uma série de medidas protecionistas adotadas pelo presidente dos EUA desde o início de seu segundo mandato, em 20 de janeiro.
Entre essas medidas, destacam-se a imposição de uma tarifa adicional de 10% sobre produtos chineses e a aplicação de tarifas de 25% sobre importações de aço e alumínio.
O objetivo declarado dessas ações é equilibrar o campo de atuação para os produtos estadunidenses e revitalizar a indústria manufatureira dos EUA.
No entanto, essas iniciativas têm gerado preocupações entre empresas e especialistas, que alertam para possíveis aumentos de preços e impactos negativos nas cadeias de suprimentos globais.
Há indícios de que Washington esteja preparando sanções comerciais ainda mais rígidas contra a China, com investigações em andamento que podem resultar em novas tarifas no próximo mês.
O Brasil também foi alvo de medidas protecionistas dos EUA, elevando preocupações sobre o impacto nas exportações.
China rejeita protecionismo e promete resposta firme
Guo Jiakun enfatizou que não há vencedores em uma guerra comercial e que o protecionismo adotado pelos EUA vai contra o consenso da comunidade internacional.
"Os EUA deveriam saber que o que a comunidade internacional precisa não são tarifas, mas sim a resolução de preocupações mútuas por meio de consultas igualitárias e baseadas no respeito mútuo."
O porta-voz chinês reforçou que Pequim tomará todas as medidas necessárias para proteger seus direitos e interesses legítimos, sinalizando uma possível retaliação caso as tarifas sejam intensificadas em abril.
Visita de Xi Jinping ao Brasil
Em novembro de 2024, o presidente chinês Xi Jinping realizou uma visita de Estado ao Brasil, marcando um momento significativo nas relações bilaterais entre os dois países.
Durante sua estadia, Xi participou da 19ª Cúpula do G20 no Rio de Janeiro e, posteriormente, encontrou-se com o presidente Lula em Brasília. Os líderes celebraram os 50 anos de relações diplomáticas entre Brasil e China, reforçando a parceria estratégica que abrange diversas áreas.
Principais destaques da visita
Assinatura de Acordos Bilaterais: Foram firmados 37 acordos, abrangendo setores como comunicação, saúde, meio ambiente e energia nuclear, demonstrando o compromisso de ambos os países em aprofundar a cooperação mútua.
Parceria em Tecnologia Espacial: A empresa chinesa SpaceSail assinou um acordo com a brasileira Telebras para ingressar no mercado de satélites do país, fortalecendo a colaboração tecnológica entre as nações.
Diálogo Geopolítico: Xi Jinping e Lula discutiram questões internacionais, incluindo a promoção da paz mundial e a cooperação no âmbito do Sul Global, destacando a importância de soluções diplomáticas para conflitos como os da Ucrânia e da Faixa de Gaza.
A visita de Xi Jinping ao Brasil não apenas consolidou os laços econômicos e políticos entre os dois países, mas também ressaltou a crescente influência da China na América Latina e a disposição do Brasil em fortalecer parcerias estratégicas no cenário global.
Brasil e China: parceria estratégica em expansão
As relações entre Brasil e China são caracterizadas por uma parceria estratégica de alto nível, consolidada ao longo das últimas décadas e impulsionada por interesses econômicos, diplomáticos e geopolíticos.
A China é atualmente o maior parceiro comercial do Brasil, enquanto o Brasil desempenha um papel fundamental na estratégia chinesa de cooperação com o Sul Global.
China é o principal destino das exportações brasileiras
Desde 2009, a China se tornou o maior comprador de produtos brasileiros. Em 2024, o comércio bilateral entre Brasil e China atingiu um recorde histórico de US$ 157,99 bilhões, consolidando a China como o principal parceiro comercial do Brasil.
Nesse período, as exportações brasileiras para o mercado chinês representaram 28% do total exportado pelo país e contribuíram com 41,4% do superávit comercial brasileiro. No entanto, observou-se uma redução no superávit comercial do Brasil com a China em relação ao ano anterior.
Além disso, as exportações brasileiras para a China mantiveram-se concentradas em commodities, com soja (33,4%), petróleo bruto (21,2%) e minério de ferro (21,1%) representando 75,6% do total exportado.
Por outro lado, as importações brasileiras de produtos chineses cresceram significativamente, especialmente em setores de tecnologia verde. Houve um aumento de 20,4% nas importações, impulsionado principalmente pela aquisição de veículos híbridos e elétricos, que já representam 5,3% das importações do Brasil provenientes da China, totalizando US$ 2,8 bilhões.
Além disso, produtos da indústria verde, como painéis solares e geradores eólicos, destacaram-se nas compras brasileiras, refletindo uma tendência de diversificação nas importações.
Investimentos chineses no Brasil
A China é um dos principais investidores estrangeiros no Brasil, com foco em infraestrutura, energia, agronegócio e tecnologia.
Empresas chinesas como State Grid e China Three Gorges têm presença significativa no setor elétrico brasileiro, enquanto gigantes como Huawei e BYD investem no setor de tecnologia e veículos elétricos.
Atuação conjunta China e Brasil
Brasil e China são membros fundadores do BRICS, onde coordenam políticas de desenvolvimento econômico, comércio e governança global. A criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), liderado pelo BRICS, reforça essa parceria.
Ambos os países defendem um sistema multilateral mais inclusivo, buscando reformar o Conselho de Segurança da ONU e ampliar a participação dos países emergentes nas decisões globais.
Tendências para o futuro
- Expansão da presença chinesa em setores estratégicos no Brasil.
- Aprofundamento da parceria no BRICS e em fóruns globais.
- Maior envolvimento em projetos de inovação e transição energética.
- Desafios na gestão da dependência comercial e da concorrência industrial.