O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, fez duras críticas neste sábado (15) ao vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, por sua defesa da extrema direita e por atacar a posição da Europa em relação ao discurso de ódio.
Em discurso na Conferência de Segurança de Munique, Scholz rejeitou o que chamou de "interferência inaceitável" na política alemã e europeia.
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"Não é apropriado, especialmente entre amigos e aliados, que nos digam o que fazer. Rejeitamos isso firmemente", afirmou Scholz.
As declarações foram uma resposta ao discurso de Vance na sexta-feira (14), quando o vice-presidente dos EUA acusou os líderes europeus de censura e criticou o isolamento político imposto ao partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
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Atualmente, o partido anti-imigração tem cerca de 20% das intenções de voto para as eleições nacionais alemãs, marcadas para 23 de fevereiro.
Scholz ressaltou que há "boas razões" para que os principais partidos alemães se recusem a colaborar com o AfD, lembrando o passado nazista da Alemanha.
"Nunca mais fascismo, nunca mais racismo, nunca mais guerra agressiva. É por isso que uma esmagadora maioria do nosso país se opõe a qualquer um que glorifique ou justifique o criminoso Nacional-Socialismo", declarou o chanceler, fazendo referência à ideologia do regime nazista de Adolf Hitler (1933-1945).
Vance se reuniu com líder da AfD
Além das declarações públicas, JD Vance se reuniu na sexta-feira com líderes do AfD e defendeu o partido como um parceiro político legítimo. A atitude foi vista pelo governo alemão como uma tentativa de interferência nas eleições.
Scholz também criticou as declarações de Vance sobre liberdade de expressão. O parceiro de Donald Trump na Casa Branca comparou as restrições europeias ao discurso de ódio com censura, o que foi duramente rebatido pelo chanceler alemão.
"As democracias de hoje na Alemanha e na Europa foram construídas com a consciência histórica de que elas podem ser destruídas por radicais antidemocráticos. Por isso, criamos instituições para garantir que nossas democracias possam se defender de seus inimigos e estabelecemos regras que não restringem a liberdade, mas a protegem", afirmou Scholz.
O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot, também criticou a posição de Vance e defendeu a regulamentação europeia sobre discurso de ódio.
"Ninguém é obrigado a adotar o nosso modelo, mas também não podem nos impor o deles", disse Barrot em sua conta no X, diretamente de Munique. "A liberdade de expressão é garantida na Europa."
Discurso de Vance ignora guerra na Ucrânia
A expectativa era de que a Conferência de Segurança de Munique fosse dominada por discussões sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, especialmente após um telefonema entre Donald Trump e Vladimir Putin no início da semana. No entanto, Vance praticamente ignorou o tema em seu discurso.
Em vez disso, o vice-presidente dos EUA afirmou que a maior ameaça à Europa não é a Rússia ou a China, mas sim um "retrocesso nos valores fundamentais de proteção à liberdade de expressão", além de um suposto descontrole da imigração.
O tom do discurso causou desconforto entre os participantes da conferência. Segundo relatos da imprensa, muitos assistiram às falas de Vance em silêncio, e houve pouca ou nenhuma salva de palmas ao final de sua fala.
As declarações do vice-presidente dos EUA aprofundam as tensões diplomáticas entre Washington e Berlim, em um momento crítico para a política europeia e para a relação transatlântica.
Com informações da Reuters