A reeleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos preocupa agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que expressaram em caráter reservado (extraoficial) à coluna suas expectativas e receios em relação às implicações geopolíticas e econômicas de um novo governo republicano. Entre os principais pontos de atenção, estão o enfraquecimento de iniciativas multilaterais promovidas pelo Brasil, mudanças nas políticas de imigração e o fortalecimento de movimentos de extrema-direita na América Latina.
"Ele não se importa, ele não vê a América Latina como um aliado, mas isso não significa que ele não aumente o grau de interesse... tentando minar as relações multilaterais do Brasil," explicou um agente, destacando que o Brasil, sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, adotou uma postura mais independente em relação aos Estados Unidos, especialmente se comparado ao alinhamento visto durante o governo Bolsonaro. Para outro agente, essa postura pode ser um ponto de atrito em um cenário global marcado por crescentes tensões. “O Brasil não está mais automaticamente alinhado com os Estados Unidos, como sempre esteve,” analisou.
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Os agentes da ABIN mencionaram também os possíveis reflexos nas políticas migratórias americanas, caso Trump volte à Casa Branca. “Pode ter mais dificuldade até de o brasileiro entrar nos Estados Unidos por conta de uma nova política de imigração,” alertou um analista. Essa preocupação é acompanhada por outro ponto sensível: o impacto que uma guinada mais à direita nos EUA poderia ter sobre o cenário político da América Latina. “Até pelo gabinete que ele está apontando agora, tem uma guinada muito mais forte para a extrema-direita do que no primeiro mandato Trump,” pontuou outro agente, mencionando a possibilidade de novos embates ideológicos na região.
A necessidade de antecipar movimentos e preparar cenários também foi destacada pelos agentes da ABIN. “Nossa missão é antecipar movimentos, antecipar cenários... para que isso se alinhe mais adiante para o governo,” afirmou um agente, ressaltando a importância de um monitoramento constante para evitar surpresas estratégicas. Essa postura é vista como essencial diante da percepção de que um eventual governo Trump poderia adotar medidas que dificultem o avanço das iniciativas multilaterais defendidas pelo Brasil. “A insistência do Brasil em ser mais multilateral pode ser desafiada por uma postura mais agressiva dos EUA,” avaliou outra fonte.
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Os analistas da ABIN enfatizaram ainda que o retorno de Trump pode trazer complexidades adicionais à já instável relação entre os dois países, com possíveis repercussões em acordos econômicos e ambientais. “Isso vai além do que o Itamaraty pode fazer, por exemplo... o Itamaraty analisa a situação conforme ela vai evoluindo, mas alguém tem que ficar ligado nessa movimentação,” explicou um agente. Para a inteligência brasileira, a capacidade de antecipar esses cenários será crucial para mitigar riscos e proteger os interesses nacionais.
Para os agentes ouvidos pela coluna, o momento exige mais do que nunca uma articulação precisa e integrada para garantir que o Brasil esteja preparado para lidar com as possíveis implicações de um novo governo Trump. “A gente precisa ter a capacidade de antecipar o que os caras vão fazer para também o governo brasileiro poder se prevenir,” concluiu uma fonte.