De BERLIM | A população de Brandemburgo, na Alemanha, vai às urnas neste domingo (22) para a eleição regional que definirá seu parlamento estadual e governador. A disputa vem sendo acompanhada de perto por todo o país e, de alguma maneira, por todo o mundo, já que o partido de extrema direita AfD (Alternativa para a Alemanha), associado ao neonazismo, lidera as pesquisas de intenções de voto. Uma reviravolta na véspera do pleito, entretanto, pode barrar a vitória dos extremistas.
Um eventual triunfo do AfD em Brandemburgo intensifica os sinais alerta, já que seria o segundo do partido em menos de um mês. Em 1º de setembro, a sigla obteve uma vitória assustadoramente histórica na Turíngia – trata-se da primeira vez que uma legenda de extrema direita vence um pleito estadual desde o regime nazista. Além disso, o AfD conquistou, no mesmo dia, a segunda maior bancada no parlamento da Saxônia.
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Desde 2021, o AfD é monitorado pelo serviço de inteligência interno da Alemanha, o BfV, por tentativa de enfraquecer a constituição democrática do país. A principal plataforma política da sigla está no discurso anti-imigração, especialmente contra muçulmanos, com a defesa explícita da expulsão em massa desses imigrantes da Alemanha – política perversa conhecida como "remigração".
Em Brandemburgo, o nome do AfD que pode se tornar governador do estado é Hans-Christoph Berndt. O político mantém ligações claras com grupos de extrema direita e neonazistas. Entre eles o Identitäre Bewegung, a agência Ein Prozent e a revista Compact, todas classificadas pelo serviço de inteligência alemão como organizações extremistas. Esses grupos são conhecidos por promoverem ideias ultranacionalistas, xenofóbicas e, em muitos casos, racistas, com Identitäre Bewegung frequentemente associada a ideais que ecoam o nazismo.
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Berndt defende abertamente essas conexões, afirmando que elas são parte essencial de sua visão para o futuro da Alemanha. Ele não só se recusa a se distanciar desses grupos, mas também os apresenta como parceiros no que chama de "luta pela Alemanha". Entre suas principais propostas estão o combate à imigração e a promoção de um "Pacto para Remigração", com a ideia de deportações em massa e a criação de centros de asilo fora da Europa. Ele também se opõe fortemente à transição energética, prometendo eliminar o uso de energias renováveis como eólica e solar. Entre outras promessas, estão as de desmantelar políticas de diversidade e tolerância.
Reviravolta
As últimas pesquisas de intenções de voto, entretanto, mostram uma reviravolta que pode barrar a vitória do AfD. O SPD (Partido Social-Democrata), sigla do chanceler federal Olaf Scholz, obteve uma recuperação súbita e, um dia antes do pleito de Brandemburgo, aparece tecnicamente empatado na liderança com a legenda dos extremistas de direita.
De acordo com a sondagem mais recente da rede pública de televisão ZDF, o AfD marca 28% das intenções de voto, enquanto o SPD soma 27%. Já o CDU, sigla da ex-chanceler Angela Merkel, aparece com 14%, e é seguido pelo BSW (Aliança Sahra Wagenknecht), novo partido de esquerda que adota ideias antimigração, anotando 13%. Fecham a lista Os Verdes (Die Grüne, em alemão), com 4,5%, e A Esquerda (Die Linke), com 4%.
Veja os números da última pesquisa:
Ainda que o AfD vença a eleição, é praticamente impossível que consiga governar Brandemburgo. Isso porque na Alemanha o sistema político é parlamentarista. Isto é: para formar um governo, o partido ou coalizão precisa conquistar maioria absoluta dos assentos no parlamento estadual para governar. E ninguém quer se coligar com os extremistas do AfD – mesma situação observada na Turíngia. O mais provável é que o governo seja comandado pelo SPD, que deve formar uma coalizão com o CDU e o BSW.
Desde 2013 o estado de Brandemburgo é governado por Dietmar Woidke, do SPD, que concorre à reeleição. Woidke, nas últimas semanas de campanha, tentou desassociar sua imagem a do chanceler e seu correligionário Olaf Scholz, que vive uma crise de popularidade – fator que pode explicar sua subida abrupta nas últimas pesquisas.
Em entrevistas recentes, Woidke partiu para o tudo ou nada: afirmou que, se o SPD não vencer, abandonará o posto de líder do partido no estado e renunciará a sua cadeira no parlamento. O político social-democrata, entretanto, tem se mostrado otimista diante dos últimos levantamentos de intenções de voto.
“Estou firmemente convencido de que conseguiremos", disse Woidke nesta sexta-feira (20).
AfD, a extrema direita com nuances neonazistas da Alemanha
Governada atualmente pelo chanceler Olaf Scholz, do SPD (Partido Social-Democrata), em uma coalizão com liberais e democratas, a chamada Die Ampel (Semáforo, por conta as cores das legendas: vermelho, amarelo e verde), a Alemanha vem observando um crescimento assustador da popularidade da ultradireita, representada pelo AfD.
A legenda foi fundada em 2013 e conseguiu uma cadeira no parlamento alemão, pela primeira vez, em 2017 - hoje, já são 77 deputados, sendo a quarta maior força política local.
Trata-se de uma organização ultrarradical que abriga os membros mais extremistas da Alemanha. O AfD defende abertamente ideias xenofóbicas, racistas, segregacionistas e violentas. A principal plataforma política são projetos antimigração, permeada de retóricas ultranacionalistas que remetem ao nazismo. Diversos membros do partido, inclusive, já tiveram comprovadamente relações com grupos neonazistas e já fizeram falas com tal teor.
Björn Höcke, uma das principais lideranças do AfD, por exemplo, foi denunciado pelo Ministério Público alemão em 2023 por utilizar linguajar nazista ao dizer que a política migratória do país "nada mais é que a eliminação do povo alemão", usando o slogan nazista "Alles für Deutschland" (tudo pela Alemanha). Mais recentemente houve o caso de Maximilian Krah - líder do partido relativizou os crimes da SS, levando a legenda a ser expulsa de seu bloco no Parlamento Europeu.
Desde 2021, o AfD é monitorado pelo serviço de inteligência interno da Alemanha, o BfV, por tentativa de enfraquecer a constituição democrática do país.
Pesquisas recentes revelam que o AfD já tem o apoio de cerca de 24% dos alemães, o que o torna o segundo partido mais popular do país, atrás apenas do CDU, legenda da ex-chanceler Angela Merkel.