ALERTA GLOBAL

Famosa revista alemã dá nome aos bois: Trump, Le Pen e Björn Höcke são "fascistas"

Der Spiegel, importante revista semanal da Alemanha, estampa na capa ascensão da extrema direita no mundo, inclusive em seu próprio país com um membro de partido associado ao neonazismo liderando pesquisas

Capa da alemã "Der Spiegel" associa Trump, Le Pen e Höcke ao fascismo.Créditos: Reprodução/Der Spiegel
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De BERLIM | Considerada a mais importante publicação impressa da Alemanha, a revista Der Spiegel ("O espelho", na tradução em português) traz em sua capa dessa semana um alerta sobre o crescimento da extrema direita no mundo. 

"Como o fascismo começa", diz a manchete sobreposta a uma imagem que representa o ex-presidente e candidato à reeleição nos EUA Donald Trump, a líder de extrema direita francesa Marine Le Pen e o político alemão Björn Höcke, membro do Alternativa para a Alemanha (AfD na sigla em alemão), partido associado ao neonazismo

A reportagem busca identificar quem são os novos líderes do fascismo mundial com o título "Os Hitlers secretos", em uma referência a Adolf Hitler, ditador do regime nazista na Alemanha entre 1933 e 1945. 

"O fascismo está voltando? Ou já existe, com Trump, Orban [Viktor Orban, presidente da Hungria], Höcke? E se sim, poderia desaparecer novamente? Sobre tentar reconhecer o mal: essa é a reportagem de capa da Spiegel", anuncia a revista. 

Capa da Der Spiegel: "Como o fascismo começa" (Reprodução)

O alerta vem em meio à tensão por conta do crescimento da extrema direita na própria Alemanha. Björn Höcke, do AfD, lidera as pesquisas de intenções de voto para o governo do estado da Turíngia com 34%. O pleito está marcado para o dia 1º de setembro. 

Quem é Björn Höcke

Björn Höcke pertence a ala mais radical do AfD que foi dissolvida após ser investigada pelo governo alemão por associação ao neonazismo. Ele prega um nacionalismo extremo que promove a ideia de uma "identidade alemã homogênea" e sua "supremacia", com inspirações mais que evidentes no nazismo. 

Tal como a extrema direita global, Höcke encampa discurso anti-imigração, especialmente contra muçulmanos, e defende a expulsão em massa desses imigrantes da Alemanha – política perversa conhecida como "remigração". 

No ano passado, ele foi denunciado pelo Ministério Público alemão em 2023 por utilizar linguajar nazista ao dizer que a política migratória do país "nada mais é que a eliminação do povo alemão", usando o slogan nazista "Alles für Deutschland" (tudo pela Alemanha).

Em um discurso de 2017 na cidade de Dresden, Björn Höcke chegou a se referir ao Memorial do Holocausto em Berlim como um "monumento da vergonha", argumentando que a Alemanha deveria se concentrar "mais em suas glórias" do que em suas "falhas históricas". Ele é adorado por grupos neonazistas. 

Crescimento do AfD 

Em junho deste ano, o Alternativa para a Alemanha (AfD), partido que tem entre seus quadros figuras associadas ao neonazismo, obteve 15,9% dos votos dos alemães nas eleições europeias e se consolidou como a segunda força política do país, superando os sociais-democratas do SPD, legenda do atual chanceler Olaf Scholz, que obteve 13,9%, e ficando atrás apenas dos conservadores da União Democrata-Cristã (CDU/CSU), partido da ex-chanceler Angela Merkel. 

Com a votação expressiva, os radicais do AfD conseguiram emplacar, ao todo, 15 eurodeputados no Parlamento Europeu - 6 a mais que na última legislatura. Por outro lado, os sociais-democratas tiveram seu pior resultado da história em eleições europeias e perderam 6 cadeiras, ficando com 14 assentos. Já os Verdes (Grüne) foram os que mais perderam eurodeputados: 9 a menos, totalizando apenas 12 cadeiras. Os conservadores do CDU/CSU, vencedores das eleições europeias na Alemanha, permaneceram com 29 eurodeputados. 

AfD e neonazismo 

Governada atualmente pelo chanceler Olaf Scholz, do SPD (Partido Social-Democrata), em uma coalizão com liberais e democratas, a chamada Die Ampel (Semáforo, por conta as cores das legendas: vermelho, amarelo e verde), a Alemanha vem observando um crescimento assustador da popularidade da ultradireita, representada pelo AfD.  

A legenda foi fundada em 2013 e conseguiu uma cadeira no parlamento alemão, pela primeira vez, em 2017 - hoje, já são 77 deputados, sendo a quarta maior força política local. 

Trata-se de uma organização ultrarradical que abriga os membros mais extremistas da Alemanha. O AfD defende abertamente ideias xenofóbicas, racistas, segregacionistas e violentas. A principal plataforma política são projetos antimigração, permeada de retóricas ultranacionalistas que remetem ao nazismo. Diversos membros do partido, inclusive, já tiveram comprovadamente relações com grupos neonazistas e já fizeram falas com tal teor. 

Björn Höcke, uma das principais lideranças do AfD, por exemplo, foi denunciado pelo Ministério Público alemão em 2023 por utilizar linguajar nazista ao dizer que a política migratória do país "nada mais é que a eliminação do povo alemão", usando o slogan nazista "Alles für Deutschland" (tudo pela Alemanha). Mais recentemente houve o caso de Maximilian Krah – líder do partido que relativizou o nazismo ao afirmar, em entrevista, que os membros da Schutzstaffel (SS), a força paramilitar do regime nazista, “não eram todos criminosos”. 

Desde 2021, o AfD é monitorado pelo serviço de inteligência interno da Alemanha, o BfV, por tentativa de enfraquecer a constituição democrática do país.

Pesquisas recentes revelam que o AfD já tem o apoio de cerca de 24% dos alemães, o que o torna o segundo partido mais popular do país, atrás apenas do CDU, legenda da ex-chanceler Angela Merkel. Nos estados da Turíngia, Saxônia e Brandemburgo, a sigla ultrarradical lidera as intenções de voto para as eleições regionais deste ano, com cerca de 30%. 

Pouco antes das recentes eleições ao Parlamento Europeu, conflitos e episódios de violência foram registrados. Franziska Giffey, ex-prefeita de Berlim, que é do Partido Social-Democrata (SPD), por exemplo, foi atacada em maio por um apoiador do partido de extrema direita em uma biblioteca pública da capital alemã. Ela ficou levemente ferida após ser atingida na cabeça por uma bolsa contendo um objeto pesado. 

Pelas ruas de Berlim, cartazes de candidatos às eleições europeias foram espalhados em praticamente todas as esquinas e aqueles ligados ao AfD recorrentemente são vandalizados ou retirados por militantes de esquerda, gerando confrontos entre os dois lados. Em janeiro, uma multidão protestou na capital alemã contra a extrema direita.