O casal Barack e Michelle Obama assumiu, na noite de 20 de agosto, um papel que tradicionalmente é entregue ao candidato a vice nas eleições presidenciais dos Estados Unidos: o de martelar o adversário com críticas ácidas.
Ao fazer discursos que encantaram os democratas presentes, o ex-presidente e a ex-primeira dama revelaram a estratégia do partido para tentar desconstruir Donald Trump até o 5 de novembro: pintar o republicano como um "tiozão do zap", um bilionário chorão que pretende usar o poder para obter vantagens financeiras para ele e seus amigos ricos.
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"Esquisito" é uma das ideias que os marqueteiros de Kamala Harris pretendem associar a Trump -- e os anúncios de campanha apresentados durante a Convenção Democrata em Chicago demonstram isso.
Num deles, um elogio a Vladimir Putin foi juntado a uma fala de Trump segundo a qual ele seria ditador a partir do dia da posse.
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Falas bizarras de Trump -- como a obsessão pelo personagem de cinema Hannibal Lecter -- estão sendo utilizadas para apresentar uma pretensa desconexão do republicano com a realidade.
Trump frequentemente se refere a Lecter em seus discursos para associá-lo a imigrantes ilegais que seriam uma ameaça à sociedade estadunidense.
Uma teoria de conspiração internacional, batizada de "teoria da substituição", argumenta que políticos liberais aprovam a imigração como forma de substituir eleitores brancos e obter apoio para o multiculturalismo.
A imigração ilegal é o tema central da campanha do republicano.
Trump acusa governos da América Central de esvaziar manicômios e cadeias através da imigração ilegal. Ele já disse, sobre Lecter:
Alguém viu ‘O Silêncio dos Inocentes’? O falecido e grande Hannibal Lecter. Ele adoraria convidar você para jantar. Isso são manicômios. Eles estão esvaziando seus manicômios.
OPORTUNISMO
Em seu discurso na Convenção Democrata, Barack Obama pintou Trump como um bilionário idoso e esquisito que matou um acordo bipartidário para controlar a entrada de imigrantes por puro interesse eleitoral.
Disse que Trump é obcecado com a competição pelo tamanho das plateias de seus comícios, em comparação com os de Kamala.
Recentemente, o republicano reproduziu em suas redes sociais fake news segundo as quais a democrata estaria usando Inteligência Artificial para manipular imagens, acrescentando público a eventos esvaziados.
Obama aproveitou a fala para, ao fazer um gesto com as mãos, de maneira delicada e indireta sugerir que Trump seria um caso típico de quem sofre com o tamanho reduzido do próprio órgão sexual.
A atriz Stormy Daniels, com a qual Trump teve um relacionamento extraconjugal, já fez esta "acusação" ao republicano literalmente.
Com a estratégia democrata de entregar aos Obama o papel de atacar Trump, o vice Tim Walz pode ser apresentado como um "tiozão do bem", um homem do interior que vive a vida do povo.
Ao se referir a ele, aliás, Obama disse que as camisas de flanela que Walz veste -- um símbolo das pessoas simples dos EUA -- não foram encomendadas por um consultor de moda, mas sairam do guarda-roupas do ex-governador de Minnesota.
TRUMP RACISTA
A ex-primeira dama Michelle Obama, por sua vez, deu a linha de defesa de Kamala Harris, à qual Trump se refere como "bonita", mas pouco inteligente.
Os republicanos batem em Kamala como "comunista" ou "esquerdista radical" da Califórnia, um estado liberal que é apontado como lugar de perdição por eleitores do interior do país.
Os estados-chave para as eleições deste ano ficam todos no chamado Cinturão da Ferrugem, no miolo dos EUA, onde a decadência industrial abasteceu movimentos raivosos como o Tea Party e o próprio trumpismo.
Os dois movimentos apontam as "elites liberais" de Nova York e da Califórnia como alienadas dos reais valores do país.
Em defesa de Kamala, Michelle disse que ela e o marido, enquanto estiveram na Casa Branca, experimentaram o desprezo de Trump "por um casal de trabalhadores, altamente educados, que 'por acaso' eram negros".
A sugestão de que Trump é racista, feita de maneira elegante, tem relação com a fala do republicano no debate com Joe Biden.
Trump, naquela ocasião, disse que os imigrantes ilegais estavam tomando "emprego de negro" e "emprego de hispânico" nos Estados Unidos, sugerindo assim que negros e hispânicos estavam fadados a ocupar posições de baixo nível na sociedade.
Em sua fala, Michelle brincou de forma ácida com a fala de Trump, afirmando que o republicano poderá perder o emprego que almeja por se tratar -- a ocupação de presidente dos Estados Unidos -- de um "emprego de negro".