A boxeadora argelina Imane Khelif, que foi alvo de insultos transfóbicos durante as Olimpíadas de Paris 2024, abriu uma denúncia no Ministério Público francês contra o bilionário Elon Musk, o ex-presidente dos EUA Donald Trump e a escritora JK Rowling.
A informação foi divulgada pelo advogado da atleta, Nabil Boudi, ao jornal Variety. Khelif acusa as personalidades de cyberbullying por postagens com ataques nas redes sociais contra a boxeadora.
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Durante a onda de ataques contra Khelif, JK Rowling publicou: "O sorriso de um homem que sabe que é protegido por um estabelecimento esportivo misógino, aproveitando a angústia de uma mulher que ele acabou de socar na cabeça e cuja ambição de vida ele acabou de destruir". Em seguida, a escritora fez uma nova postagem em que dizia que não afirmava que a boxeadora era uma mulher trans. "Minha objeção, e a de muitos outros, é que a violência masculina contra mulheres se torne um esporte olímpico", acrescentou.
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Já Musk compartilhou uma publicação da nadadora norte-americana Riley Gaines que dizia "homens não pertencem a esportes femininos". Ele acrescentou "com certeza" à postagem.
O ex-presidente e atual candidato à presidência dos Estados Unidos, por sua vez, publicou uma foto de Khelif com a legenda:“Vou manter os homens fora dos esportes femininos!”.
"As provas do ataque online contra Khelif são principalmente as publicações nas diversas redes sociais, com conteúdo detalhado e repetido, como os ataques ao seu físico, ao seu gênero, contra sua nacionalidade, sua imagem em geral e qualidade como mulher", afirmou o advogado de Khelif.
Após os ataques transfóbicos, a delegação da Argélia esclareceu que Khelif não era uma pessoa trans. A boxeadora tem, na verdade, hiperandrogenismo, uma condição que se caracteriza pela produção excessiva de hormônios masculinos.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) também se manifestou por meio de uma nota em que repudiu as agressões a Khelif, afirmando que "toda pessoa tem o direito de praticar esporte sem discriminação".
"Todos os atletas participantes do torneio de boxe dos Jogos Olímpicos Paris 2024 cumprem os regulamentos de elegibilidade e inscrição da competição, bem como todos os regulamentos médicos aplicáveis estabelecidos pela Unidade de Boxe de Paris 2024 (consulte todas as regras aplicáveis aqui). Como nas competições olímpicas de boxe anteriores, o sexo e a idade dos atletas são baseados em seu passaporte", escreveu o COI.
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Khelif declarou, após conquistar medalha de ouro, que os ataques que sofreu deram um "gosto especial" à sua vitória. No ano passado, ela chegou a ser desqualificada do Campeonato Mundial de Boxe.
"Estou totalmente qualificada para participar desta competição", disse Khelif, de 25 anos. "Sou uma mulher como qualquer outra. Eu nasci mulher. Eu vivi como uma mulher. Eu competi como mulher — não há dúvidas sobre isso", disse.
Caso Imane Khelif revela caráter “machista e eugenista dos esportes”, diz pesquisadora
Os Jogos Olímpicos de Paris foram novamente marcados por polêmicas envolvendo questões de gênero e sexualidade. O primeiro conflito ocorreu na abertura das Olimpíadas 2024 devido à encenação dos quadros “O Banquete dos Deuses”, de Jan van Bijlert, e “A Festa dos Deuses”, de Giovanni Bellini, que foram confundidos com uma suposta releitura da obra “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci. A performance foi protagonizada por artistas LGBT+, o que despertou a fúria dos fundamentalistas.
O segundo incidente ocorreu durante a luta de boxe entre Angela Carini (Itália) e Imane Khelif (Argélia). O embate durou 46 segundos, pois a italiana desistiu da luta. A partir daí, uma onda de discurso de ódio contra atletas transexuais foi direcionada a Khelif, que é uma mulher cis.
Mas por que se disseminou a mentira de que Imane Khelif era uma mulher trans e que sua oponente desistiu em protesto? Tudo começou alguns dias antes, com uma entrevista de uma ministra do governo de Giorgia Meloni, a responsável pela pasta da Família, Eugenia Roccella, que acusou a atleta argelina de "se disfarçar de mulher".
"É muito preocupante saber que, durante os Jogos Olímpicos de Paris, duas pessoas trans foram admitidas nas competições de boxe feminino, que são homens que se identificam como mulheres, e que, em competições recentes, foram excluídos", declarou a ministra um dia antes da luta entre Carini e Khelif.
Confira na íntegra a entrevista da Fórum com a pesquisadora Carla Cristina Garcia.