ORIENTE MÉDIO

Ismail Haniyeh: quem era o líder do Hamas assassinado por Israel

Conheça a trajetória política do chefe do grupo revolucionário islâmico, da Intifada à acusação de crimes contra a humanidade

Ismail Haniyeh em discurso na Faixa de Gaza em 2012Créditos: Hadi Mohammad/Fars
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Na noite desta terça-feira (30), o chefe do Hamas Ismail Haniyeh foi assassinado aos 62 anos por um ataque aéreo israelense em Teerã, capital do Irã, no âmbito da posse do novo presidente iraniano Masoud Pezeshkian.

O assassinato do líder do Hamas representa, na prática, o fim das negociações entre Israel e Hamas para um cessar-fogo na Faixa de Gaza.

Por se tratar de um ataque em solo iraniano, fica claro que Israel busca um tensionamento com o Irã e com as forças de resistência do Oriente Médio.

Haniyeh era um figura importante da política palestina. Ele vivia em exílio no Catar desde 2017, mas mantinha controle sobre o grupo política à distância.

Quem foi Ismail Haniyeh

Ismail Haniyeh nasceu em 1962 no campo de refugiados de al-Shati, na Faixa de Gaza. Seus pais eram originalmente de Ashkelon, mas foram expulsos de sua cidade durante a limpeza étnica da Nakba em 1948.

Haniyeh frequentou escolas da Nações Unidas para Refugiados Palestinos em Gaza e se formou na Universidade Islâmica de Gaza em 1987 com um diploma em literatura árabe.

Enquanto estava na universidade, ele liderou uma associação estudantil islâmica afiliada à Irmandade Muçulmana, organização que dá origem ao Hamas.

Haniyeh foi primeiro ministro da Palestina (Foto: Wikimedia Commons)

Haniyeh participou de protestos durante a Primeira Intifada no final dos anos 1980 e foi preso pelas autoridades israelenses por seis meses em 1988 e por três anos em 1989.

Em 1992, ele foi deportado para o Líbano junto com outros 400 ativistas do Hamas, mas voltou a Gaza no ano seguinte após os Acordos de Oslo de 1992 assinados entre Israel e o Fatah.

Ao retornar, foi nomeado reitor da Universidade Islâmica de Gaza.

Em 1997, Haniyeh tornou-se secretário do fundador e líder espiritual do Hamas, Sheikh Ahmed Yassin, e permaneceu no posto até o assassinato deste por Israel em 2004.

Então, Haniyeh consolidou sua posição como líder do Hamas. Em 2006, Haniyeh liderou o bloco "Mudança e Reforma" do Hamas que venceu as eleições legislativas palestinas.

Ele se tornou Primeiro-Ministro da Autoridade Palestina em 21 de fevereiro de 2006, mas foi demitido pelo presidente Mahmoud Abbas em 14 de junho de 2007 devido ao conflito Fatah-Hamas.

Haniyeh continuou a exercer a autoridade de primeiro-ministro em Gaza até 2014, sendo o líder politico da resistência contra as ofensivas de Israel ocorridas entre 2008 e 2017.

Em fevereiro de 17, ele foi substituído como líder do Hamas em Gaza e foi eleito presidente do Bureau Político do Hamas, substituindo Khaled Meshaal. Por questões de segurança, se mudou para o Catar, onde morava em segurança.

Nos últimos anos, Haniyeh representou o Hamas no exterior, encontrando-se com líderes no Irã, Síria, Afeganistão e Turquia, fechando acordos com diferentes países para garantir apoio a resistência palestina. Em 2018, foi declarado como terrorista pelo governo dos EUA.

Após o 7 de outubro, Ismail foi considerado um dos principais responsáveis pelos ataques da resistência palestina contra o território israelense na operação Dilúvio de Al-Aqsa.

Não à toa, perdeu 10 parentes em um ataque em junho de 2024. Em abril, três filhos dele foram assassinados pelo governo israelense, mesmo sem necessariamente terem ligações com a atuação política do paz.

Assim como os israelenses Benjamin Netanyahu e Yoav Gallant, Ismail foi um dos alvos do pedido de prisão formalizado pela procuradoria do Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra e contra a humanidade durante o conflito israelo-palestino que se estende desde o ano passado.

Sua trajetória política é, naturalmente, controversa. Apontada pelos defensores da resistência palestina como uma das figuras mais importantes da luta contra o sionismo, os defensores de Israel o enxergam como um simples terrorista.

A Federação Árabe Palestina do Brasi (Fepal) enviou uma nota de repúdio ao ataque israelense que matou Haniyeh. "Este assassinato precisa ser condenado com máxima veemência como ato terrorista de continuidade do genocídio imposto pelo regime racista "israelense", agora estendido para territórios de países soberanos, como agora na capital iraniana Teerã", afirma.

"Há 77 anos que os sionistas assassinam o povo palestino, de camponeses desarmados a seus líderes, dentre eles o legendário Yasser Arafat, sem que tenham detido a marcha palestina para a inevitável vitória. Seguirá assim. Das ruas afogadas em sangue de Gaza a Teerã, a história firma "israel" como aberração abjeta e a Palestina em breve livre", afirma a organização.