O anúncio feito pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela de que o presidente Nicolás Maduro venceu a eleição no país e se reelegeu para o seu terceiro mandato vem repercutindo mundialmente. Os números foram divulgados quando 80% das urnas já haviam sido apuradas, pois a essa altura não seria mais possível, matematicamente, reverter o resultado, que apontava o principal opositor do atual mandatário, Edmundo González Urrutia, com 44,2% dos votos.
A oposição venezuelana, como já era esperado, não reconheceu a vitória de Maduro, apesar de ter assinado um acordo para respeitar o resultado eleitoral, e vêm adotando a narrativa de fraude. Edmundo González Urrutia, o candidato opositor do mandatário chavista, convocou a população a fazer vigílias nos centros de votação até que sejam apresentadas as atas eleitorais de cada seção. "Os resultados são inegáveis. O país escolheu uma mudança pacífica", afirmou, ignorando os resultados apresentados pelo CNE.
Te podría interesar
Responsável por sanções que fizeram a Venezuela mergulhar em uma crise econômica e social nos últimos anos, os Estados Unidos, até o momento, não reconheceram a vitória de Maduro, mas ao mesmo tempo não apontaram fraude no resultado eleitoral divulgado pelo CNE. O país governado por Joe Biden se limitou, através de pronunciamento do secretário de Estado, Antony Blinken, que acompanha o processo eleitoral "com preocupação" e que espera uma apuração "transparente".
“Temos sérias preocupações de que o resultado anunciado não reflete a vontade ou os votos do povo venezuelano. A comunidade internacional está observando isso de perto e responderá adequadamente", disse Bliken.
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, por sua vez, foi na mesma linha.
"O povo da Venezuela votou pacificamente e em grande número sobre o futuro do seu país. A sua vontade deve ser respeitada. É vital garantir total transparência no processo eleitoral, incluindo a contagem detalhada dos votos e o acesso aos registos de votação nos centros de voto", escreveu Borrell nas redes sociais.
Por outro lado, ao menos 9 países já reconheceram a vitória de Maduro e parabenizaram o presidente pela reeleição. São eles:
- China
- Rússia
- Irã
- Catar
- Síria
- Cuba
- Honduras
- Bolívia
- Nicarágua
A manifestação chinesa veio através do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país asiático, Lian Jian, em conferência de imprensa.
"A China está pronta para enriquecer a parceria estratégica com a Venezuela e para beneficiar os povos dos dois países”, declarou.
O presidente da Rússia Vladimir Putin também enviou uma mensagem a Maduro o parabenizando pela vitória, segundo Kremlin. "Estamos desenvolvendo relações em todas as áreas, incluindo áreas sensíveis", diz o comunicado russo.
Quem ainda não reconheceu o resultado na Venezuela
Além das manifestações dos EUA e do chefe da diplomacia da União Europeia, países como Alemanha, Reino Unido e Espanha divulgaram comunicados em que pedem transparência na divulgação dos resultados na Venezuela, sem reconhecer a vitória de Maduro mas também sem acusar fraude no processo eleitoral.
"Pedimos a publicação rápida e transparente dos resultados completos e detalhados para garantir que o resultado reflita os votos do povo venezuelano", diz, por exemplo, nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores britânico.
"Os resultados eleitorais anunciados não são suficientes para dissipar as dúvidas sobre a contagem dos votos", pontua, por sua vez, o governo da Alemanha.
Já algumas lideranças latino-americanas foram mais explícitas na acusação de que o processo eleitoral na Venezuela teria sido fraudado. Gabriel Boric, presidente do Chile, afirmou que é "difícil de acreditar" na vitória de Maduro. Já o presidente argentino Javier Milei afirmou, sem provas, que "os dados anunciam uma vitória gigante da oposição" venezuelana.
Brasil cauteloso
O governo brasileiro vem adotando cautela. Em nota divulgada na manhã desta segunda-feira (29), o Ministério das Relações Exteriores "saúda o caráter pacífico da jornada eleitoral de ontem na Venezuela e acompanha com atenção o processo de apuração".
No texto, o Itamaraty "reafirma ainda o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados" e diz que aguarda a publicação de todos os dados eleitorais para "transparência, credibilidade e legitimidade" sobre o resultado, que deu vitória a Maduro.
Antes, o ex-chanceler brasileiro e atual assessor especial para assuntos internacionais de Lula, Celso Amorim, que foi a Caracas na qualidade de observador, segundo um repórter da rede Telesur, havia dito: "Vamos aguardar os resultados finais e esperamos que sejam respeitados por todos os candidatos".
Amorim manteve contato durante o dia com observadores do Centro Carter, ligado ao ex-presidente dos Estados Unidos, e com o painel de especialistas das Nações Unidas.