GUINADA À ESQUERDA

Biden encarna "pai dos pobres" para manter candidatura; entenda

Presidente promete taxar os bilionários que o apoiam

Joetown.Democratas tentam associar Biden à Motown, que fala à alma dos negros estadunidenses.Créditos: Reprodução
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Para salvar sua candidatura à reeleição, Joe Biden encarnou o "pai dos pobres" num comício em Michigan e prometeu taxar os bilionários dos Estados Unidos para financiar programas sociais.

Como político que fez carreira em Delaware, um paraíso fiscal dos EUA, Biden disse que não é inimigo das corporações, mas "da ganância".

A ideia não é propriamente nova, mas foi apresentada aos eleitores de Michigan, com destaque, no primeiro grande comício de Biden depois do desastroso debate com Donald Trump, na noite de 27 de junho.

O evento serviu para a assessoria de Biden apresentar ao eleitorado como será a campanha do presidente depois da Convenção Democrata, que começa em 22 de agosto.

Biden disse que taxar os bilionários, cerca de mil, em 25%, permitirá levantar U$ 500 bilhões para financiar creches, moradias, remédios baratos e dar alívio aos eleitores pendurados em dívidas de despesas médicas e educacionais.

"Eu não trabalho para a Big Farma, não trabalho para a National Rifle Association. Trabalho para vocês, o povo americano", disse Biden, fazendo referência ao lobby das empresas farmacêuticas e ao das armas, que apoiam Donald Trump.

Na fala, ele prometeu banir a venda de armas de assalto e restaurar Roe vs. Wade, a decisão derrubada pela Suprema Corte dos EUA que dificultou o acesso ao aborto no país.

Biden se referiu a Trump como "criminoso condenado" e ouviu gritos para prendê-lo. Disse que o republicano é marionete de Vladimir Putin e que, se eleito, será um "tirano".

IMPORTÂNCIA DE MICHIGAN

Michigan é um dos estados-pêndulo de 2024.

Em 2016, Donald Trump venceu no estado tradicionalmente democrata em 75 dos 83 condados, onde os eleitores são majoritariamente brancos sem educação superior. 

Nos EUA, os colarinho azul foram deixados para trás pela exportação de empregos que acompanhou a globalização e expressam ressentimento com a elite das duas costas, com o governo federal em Washington e com os imigrantes.

A eles, Joseph Robinette Biden Jr. foi apresentado na sexta-feira 12 como o Motown Joe.

Junção das palavras "motor" e "cidade", apelido da capital do automóvel, Detroit, Motown é o nome da histórica gravadora, associada ao talento dos artistas negros que promoveu: Marvin Gaye, Diana Ross, Stevie Wonder, Jackson Five e Smokey Robinson, dentre tantos outros.

A escolha da campanha de Biden revela duas carências eleitorais do atual presidente: o risco de perder parte do eleitorado negro e a necessidade de reforçar o voto dos trabalhadores que migraram para Trump em 2016 e podem fazê-lo de novo este ano, por questões econômicas.

OS SINDICATOS

Biden é o preferido dos bilionários das costas Leste e Oeste -- de Wall Street, Hollywood e do Vale do Silício -- que contribuíram fartamente com sua campanha de 2020.

Nos EUA, há grande ressentimento em relação a estas elites, que estariam mais interessadas no que se passa no mundo do que no bem estar de quem mora no interior.

Por isso, a ênfase do entorno de Biden agora é no candidato nascido em Scranton, Pensilvânia, cidade associada a mineiros de carvão; no defensor público que ajudou o movimento pelos direitos civis em Delaware; no presidente que promete combater a destruição dos sindicatos.

Em 2023, o nível de aprovação dos sindicatos pelos estadunidenses estava em 67%, de acordo com o Gallup (era de 48% em 2009).

Em setembro do ano passado, Biden se tornou o primeiro presidente dos EUA a discursar para trabalhadores em greve, da United Auto Workers, contra a Ford e a General Motors, em Michigan.

Joe Motown lembrou disso no comício da sexta-feira e, agora contra "a elite democrata", conta com os sindicatos para se manter no páreo.