"JOE DORMINHOCO"

Democratas se esfaqueiam, antes de decidir futuro de Biden

Briga de foice para definir quem vai enfrentar Trump em novembro

Sono.Republicanos lançaram até bonequinho na campanha para dizer que Biden é "dorminhoco".Créditos: Reprodução X
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A aparição de Joe Biden diante de jornalistas, no encerramento da Cúpula da OTAN em Washington, foi atenuada pelo fato de que o ocupante da Casa Branca conseguiu responder com algum nexo a questionamentos sobre política externa.

Dada a pouca intimidade de jornalistas, comentaristas e da opinião pública estadunidense com os temas não domésticos, em alguns momentos Biden parecia um poliglota, fazendo menções a Golda Meir, Xi Jinping e Vladimir Putin.

Na substância, porém, o democrata deu uma confusa explicação sobre seu plano para conseguir um cessar-fogo em Gaza e respondeu com bordões da assessoria às questões relativas à Rússia e à China -- se o malvado Putin não for derrotado, seguirá avançando sobre a Europa, uma ideia risível para quem tem uma carga normal de neurônios.

SUSSURROS

Para além disso, Biden cometeu gafes, sussurrou respostas e recorreu ao "de qualquer forma" meia dúzia de vezes quando perdeu o trem de raciocínio. Isso, além de confundir sua vice Kamala Harris com Donald Trump.

Vistos de forma isolada, estes episódios poderiam ser descontados como algo normal para um senhor de 81 anos de idade em fim de expediente.

O "susto" que milhões de pessoas experimentaram ao ver o desempenho de Biden no debate com Donald Trump, na noite de 27 de junho, porém, não se justifica. 

A decadência cognitiva de Biden era notória há muitos meses.

Em fevereiro deste ano, o presidente dos EUA trouxe François Mitterrand de volta, ao confundí-lo com Emmanuel Macron. Mitterrand, com o qual Biden teria tido uma conversa recente, morreu em 1996.

Em setembro de 2022, em um evento público, Biden perguntou se a deputada Jackie Walorski estava presente. Walorski havia morrido em um acidente de automóvel semanas antes. 

Em 3 de agosto daquele ano, Biden e a primeira-dama Jill haviam lamentado a perda, em nota:

Jill e eu estamos chocados e tristes com a morte da congressista Jackie Walorski, de Indiana, junto com dois membros de sua equipe, em um acidente de carro hoje em Indiana.

REDE DE MENTIRAS

Há indícios de que a assessoria criou uma bolha na Casa Branca para esconder Biden.

Quando dúvidas foram levantadas, respondeu que clipes atestando o declínio mental do presidente eram produto de Inteligência Artificial.

Em pelo menos um dos casos, houve montagem. De acordo com a Reuters, o vídeo em que Biden procura uma cadeira inexistente em um evento na Europa é fake de um partidário de Trump.

O ator George Clooney, porém, furou a bolha ao sugerir que havia testemunhado pessoalmente a fragilidade de Biden, num evento em que ajudou a arrecadar U$ 28 milhões para a campanha, no 15 de junho último.

De acordo com o New York Times, doadores estão segurando outros U$ 90 milhões para forçar Biden a desistir da reeleição.

O diário, que encabeça a campanha para afastar Biden, diz que Barack Obama e a poderosa ex-líder do partido na Câmara, Nancy Pelosi, teriam conversado sobre o drama.

Ambos insistem que a decisão cabe a Biden, mas o subtexto é que atuarão juntos para "levá-lo" a decidir.

GOLPE INTERNO

Assessores e familiares de Biden abraçaram a tese de que ele está sendo vítima de um golpe interno, patrocinado pela elite do Partido Democrata.

Na entrevista coletiva, Biden disse que tem U$ 200 milhões no banco para fazer a campanha, que tem condições de vencer Donald Trump novamente e que foi o presidente mais favorável aos sindicatos em memória recente.

Curiosamente, a esquerda dos democratas parece acreditar que opções a Biden seriam piores: a frente dos democratas negros no Congresso apoiou a permanência de Biden. Nesta sexta-feira, o presidente marcou conversa com os integrantes da frente hispânica.

A influente deputada Alexandria Ocasio-Cortez também apoiou Biden.

Desde o debate, 18 parlamentares do Partido Democrata pediram ao presidente que desista de concorrer. Mas eles não representam nem 10% da bancada total no Congresso.

Muitos estão preocupados com a própria reeleição em novembro.

Nas redes sociais, apoiadores de Biden estão denunciando a tentativa de afastamento como golpe da mídia liberal e dos grandes financiadores de campanha.

Sustentam que Biden é o único, a esta altura, capaz de derrotar Trump.

O risco é dele capotar na reta final da campanha, quando já não seria possível substituí-lo.

Por isso, os assessores de Donald Trump estão satisfeitos: o republicano aposta no declínio mental de Biden como ativo de campanha, com e sem fake news. Não por outro motivo, chama o democrata de Joe Dorminhoco.

Logo depois da entrevista de ontem, partidários de Trump inundaram o X com clipes que sugerem confusão mental do adversário.

Um pesquisa divulgada ontem pela rede ABC mostra que Biden não despencou nas pesquisas, como se temia.

Ele está em empate técnico com Trump, mas 85% dos entrevistados disseram que o democrata está muito velho para governar.