AMÉRICA LATINA

Bolívia: Luis Arce convoca embaixador na Argentina após bravata de Milei sobre tentativa de golpe

Presidente da Argentina abraçou narrativa de Juan José Zúñiga, o ex-general preso pela intentona golpista, que acusou o presidente boliviano de tê-la armado

Luis Arce (presidente da Bolívia) e Javier Milei (presidente da Argentina).Créditos: Wikimedia Commons
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A fracassada tentativa de golpe de Estado ocorrida na última semana na Bolívia continua tendo seus desdobramentos. Nesta segunda-feira (1º), o presidente boliviano Luis Arce convocou seu embaixador na Argentina para consultas após o governo de Javier Milei qualificar a quartelada, em nota oficial, como uma 'falsa denúncia'.

O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, acusou o atual mandatário do país de ter forjado a tentativa de golpe militar ocorrida no dia 26 de junho para tentar melhorar sua popularidade, em uma espécie de 'autogolpe'. A narrativa de Evo foi colocada num contexto de disputas entre os dois líderes bolivianos e não foi apoiada pela maioria dos chefes de Estado do continente, que condenaram a quartelada.

Mas Milei, que não tem boa relação com os demais governos sul-americanos, fez coro ao discurso conspiratório e citou 'relatórios de inteligência' como base para atacar o atual presidente boliviano. Para o mandatário argentino, o que colocaria a democracia em perigo não seria o general golpista, mas os próprios "governos socialistas" do MAS, partido de Evo Morales e Luis Arce.

'Historicamente os governos socialistas levam a ditaduras (...) O relato divulgado foi pouco credível e os argumentos não se enquadravam no contexto sociopolítico do país latino-americano', diz trecho do comunicado argentino.

O Ministério de Relações Exteriores da Bolívia então soltou uma nota pública em que rejeitou as declarações "inamistosas e temerárias" do governo argentino. O texto qualificou as declarações de Milei como "afirmações desinformadas e tendenciosas" que representam "negacionismo inaceitável".

Na última quarta-feira (26), o então general Juan José Zúñiga invadiu o Palácio Quemado com suas tropas. Ele havia sido destituído do cargo de comandante do Exército na noite anterior. Dentro do Palácio, no momento mais crítico da intentona golpista, Arce realizou a cerimônia de troca de comando à revelia do general rebelde e os novos comandantes ordenaram a retirada das tropas. Zúñiga foi preso horas mais tarde.

O governo boliviano fala em tentativa de golpe de Estado, mas logo que foi capturado, Zúñiga afirmou que o golpe tinha sido combinado com Arce para aumentar sua popularidade. O discurso foi abraçado por Evo Morales, que disputa a liderança do MAS com Arce; e pela extrema direita, que tem o presidente argentino como principal expoente continental na atualidade.