O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, acusou o atual mandatário do país, Luis Arce, de ter forjado a tentativa de golpe militar ocorrida no dia 26 de junho para tentar melhorar sua popularidade, em uma espécie de "autogolpe".
Quando forças militares começaram a se movimentar em La Paz e invadiram o palácio presidencial, Morales denunciou a tentativa de golpe e convocou a população às ruas para defender o governo de Luis Arce. Após o fracasso da intentona golpista e com os principais líderes presos, entre eles o ex-comandante do Exército boliviano, general Juan José Zúñiga, o ex-presidente passou a acreditar que tudo não passou de uma "encenação".
Através das redes sociais, neste domingo (30), Evo Morales, que sofreu um golpe e foi deposto da presidência em 2019, manifestou sua posição sobre o assunto.
"O presidente Luis Arce enganou e mentiu ao povo boliviano e ao mundo. É lamentável que seja utilizado um tema tão delicado como o relato de um golpe. Perante esta realidade, devo pedir desculpa à comunidade internacional pelo alarme gerado e agradecer a sua solidariedade para com o nosso país. É importante que uma investigação completa e independente demonstre a veracidade deste fato", escreveu o ex-presidente.
Antes, em entrevistas, Evo Morales já havia sugerido que Luis Arce teria tentado um "autogolpe". O atual mandatário da Bolívia, por sua vez, rebateu:
"Evo Morales, não se engane mais uma vez! Claramente, o que aconteceu em 26 de junho foi um #GolpeMilitarFallido na #Bolivia. Não fique do lado do fascismo que nega o que aconteceu! Os responsáveis ??que tentaram tomar o poder pela força das armas estão sendo processados ??e serão julgados, como foi o caso dos golpistas de 2019".
Rompimento entre Evo Morales e Luis Arce
A relação entre o presidente boliviano, Luis Arce, e seu padrinho político, o ex-presidente Evo Morales, se deteriorou após a eleição de Arce em 2020. O atual mandatário adotou uma postura mais independente e se distanciou de Morales, que se exilou do país após o golpe de Estado em 2019. Evo Morales acusa Arce de trair a ideologia do Movimento ao Socialismo (MAS)?, fundado pelo ex-presidente.
Em 2023, Morales foi declarado candidato único do MAS à presidência nas eleições de 2025 em um congresso anulado por supostas irregularidades. A ausência de Arce e seu vice-presidente no evento sinalizou uma profunda divisão no partido e na esquerda boliviana. Neste momento, Arce se coloca como candidato à reeleição, enquanto Morales tentar ser ele o candidato do MAS à presidência.
Supostos golpistas presos
O Ministério do Governo da Bolívia convocou a imprensa, na noite de 26 de junho, e apresentou aos jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos o ex-comandante do Exército, general Juan José Zúñiga, juntamente com o ex-comandante da Marinha, Vice-Almirante Juan Arnez, algemados e detidos após a tentativa de golpe de Estado na Praça Murillo, em La Paz.
Ambos foram presos após liderarem uma ala rebelde das Forças Armadas que invadiu o Palácio Quemado, sede do governo, na suposta tentativa de destituir o presidente democraticamente eleito Luis Arce e montar um novo gabinete ministerial. O mandatário boliviano, entretanto, enfrentou os militares golpistas e, com o apoio da população, que foi às ruas para defender o governo, dissolveu a tentativa de golpe.
O ministro Eduardo Del Castillo, em coletiva de imprensa, exibiu os golpistas vestindo coletes com a frase "detido" estampada.
"Peço às autoridades competentes que apresentem o primeiro delinquente aprendido, o senhor Juan José Zúñiga. Desde o Ministério do Governo, vamos realizar os requerimentos correspondentes para que se ampliem os verdadeiros delitos pelos quais este sujeito deve pagar em um centro de reclusão em nosso país. A próxima pessoa que foi apreendida é o senhor vice-almirante Juan Arnez, comandante-geral ou ex-comandante-geral das Forças Armadas Bolivianas, que já foi apreendido por nossa querida Polícia Boliviana, cumprindo os requerimentos judiciais emanados dentro do território nacional", iniciou o ministro.
"Essas duas pessoas estavam no interior de um veículo blindado que colidiu contra as portas da Casa da Democracia do nosso país, contra o Palácio Queimado, e eles buscavam derrubar um governo eleito democraticamente, eleito com mais de 3,4 milhões de votos, e suas aventuras golpistas apenas ficaram nisso. Portanto, vamos fazer todos os esforços para que essas pessoas sejam dignamente sentenciadas pelos delitos de levante armado, atentados contra o presidente, destruição de bens públicos e privados e uma série de outros delitos que vamos pedir que sejam incorporados a esta investigação", prosseguiu.
Veja vídeo dos militares presos sendo apresentados à imprensa: