GOLPE NA BOLÍVIA?

VÍDEOS: Golpe termina na Bolívia com general preso e retirada de militares diante de manifestação popular

O general Juan José Zúñiga, que liderou a intentona golpista, já havia sido destituído do comando do Exército; Após episódio golpista o presidente Luis Arce anunciou novos comandantes

O general Juan José Zúñiga, do Exército boliviano.Créditos: Agência Boliviana de Informação
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A rápida tentativa de golpe de Estado na Bolívia promovida pelo general Juan José Zúñiga, que até ontem (25) era o comandante do Exército boliviano, durou poucas horas e terminou com o líder do levante preso e os militares que o seguiram batendo em retirada da Praça Murillo, onde se concentram os poderes Executivo e Legislativo, diante de um feroz protesto popular.

No começo da tarde desta quarta-feira (26) homens do Exército boliviano liderados pelo general Zuñiga ocuparam a Praça Murillo, travaram as portas do parlamento e invadiram o Palácio Quemado, a sede do governo.

Zúñiga, que foi nomeado Comandante pelo presidente Luis Arce após as eleições de 2020, deu uma série de declarações raivosas contra Evo Morales nos últimos dias, inclusive ameaçando-o de ser preso pelas Forças Armadas. Também deu opiniões políticas. Mas na Bolívia é proibido que militares, especialmente os de alta patente, se envolvam com política. Tendo isso em vista, Luís Arce o destituiu do cargo na noite da última terça-feira (25). Horas depois, o general protagonizou o episódio golpista.

“Por ser um comandante com aspirações políticas, obviamente lhe caiu muito mal a destituição. Isso acaba não só com sua carreira militar, mas com qualquer possibilidade de ter uma carreira e um futuro político. Na minha opinião, ele está inventando esse mal-estar nas Forças Armadas, com esse discurso, quando na realidade os militares têm sido um ator privilegiado de todo o processo político que vive a Bolívia desde a ascensão do MAS. Zúñiga não tem uma plataforma própria e o que lhe dá um pouco de visibilidade é o ambiente de crise generalizada e um ar que dizem existir na Bolívia de fim de ciclo de governos do MAS. Honestamente, não creio que vá dar em nada, duvido que as Forças Armadas vão apoiar”, analisou à CNN Chile o sociólogo boliviano Pablo Montenegro.

Dentro do Palácio Quemado, Arce e Zúniga ficaram cara a cara. O presidente deu uma ordem incisiva para de que as tropas fossem desmobilizadas e voltassem aos quarteis. O militar esboçou atitude de desobediência e uma discussão se instalou dentro da sede do governo entre os golpistas e os governantes. Menos de um minuto depois, Zúñiga se retirou, contrariado, dali.

Horas depois, na noite desta quarta-feira, o general foi preso de acordo com determinação da Procuradoria-Geral do país. Ele se entregou às autoridades na sede do Estado-Maior, em La Paz, e foi encaminhado à sede da PGR boliviana. A prisão ocorreu enquanto Zúñiga falava ao vivo para jornalistas.

No meio tempo, ferozes manifestações populares, como é de praxe na Bolívia, se dirigiram para a Praça Murillo convocadas pelos sindicatos e movimentos sociais. “Lucho [apelido para ‘Luis’, em referência ao presidente Luis Arce] não está sozinho”, foi a principal palavra de ordem.

O movimento social chegava à sede do governo no momento em paralelo à derrota de Zúñiga dentro do palácio no embate com Luis Arce. Era o momento de as forças de fato se retirarem para os quarteis. E o fizeram diante do protesto popular.

Imagens do momento viralizam nas redes sociais essa noite. Nelas é possível ouvir os rojões dos manifestantes estourando enquanto a população corre atrás das tropas, obrigando-as a debandar com maior velocidade.

O canal de televisão Unitel mostrou imagens dos tanques deixando a Praça Murillo e sendo levados de volta aos quarteis. A repórter, que está na rua acompanhando o calor dos acontecimentos, entrevista um manifestante. “Aqui não estamos surpresos [com a retirada dos militares]. Nós, povos indígenas e originários, não temos medo dos militares”, diz o homem.

Após a derrota do general Zúñiga e a retirada das suas tropas sob paus e pedras da população, Luis Arce fez um pronunciamento diante da sede do governo em que anunciou os três novos comandantes das Forças Armadas bolivianas. José Wilson Sánchez Velasquez comandará o Exército, Gerard Zabala Alvarez a Aeronáutica, e Renán Guardía Ramírez será o comandante da Marinha.