TURBULÊNCIA

Domínio de 300 anos do Ocidente acabou, diz economista dos EUA

Tailândia e Malásia pedem para aderir aos BRICS

Mundo em mudança.Debates em Caracas focam no futuro do mundo em desenvolvimento.Créditos: Luiz Carlos Azenha
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De Caracas -- No dia em que a Tailândia formalizou seu pedido para ingressar nos BRICS, o economista estadunidense Jeffrey Sachs disse hoje a centenas de pessoas presentes em um evento em Caracas que o domínio de 300 anos do Ocidente sobre o planeta acabou.

Sachs, professor da Universidade de Columbia, em Nova York, lembrou aos presentes que, no formato atual, com 10 paises, os BRICS representam 36% da economia planetária, contra 29% do G7.

O seminário, promovido pelo governo da Venezuela, trata de alternativas para o desenvolvimento econômico.

Sachs enfatizou que vivemos "tempos perigosos", por conta da guerra dos Estados Unidos contra a Rússia, da tensão entre Washington e a China e da guerra no Oriente Médio entre Israel e seus vizinhos.

Tudo isso tem como pano de fundo a decadência relativa dos EUA em um mundo multipolar.

LONGO PRAZO

Apesar de ser economista, Sachs se tornou uma voz muito influente no debate sobre as transformações políticas dos tempos atuais.

Ele localiza o início da crise que vivemos em 1991, quando o colapso da União Soviética levou a elite estadunidense a acreditar no exercício do poder absoluto, uma ideia da qual ainda não abdicou.

Além de tentar derrubar ou de ter derrubado os governos de Hugo Chávez (Venezuela), Jean-Bertrand Aristide (Haiti), Viktor Yanukóvich (Ucrânia), Bashar al-Assad (Síria), Saddam Hussein (Iraque), Muammar Gaddafi (Líbia) e Slobodan Miloševic (Sérvia), os EUA passaram a agir agressivamente para "cercar" a Rússia e a China.

Hoje, aplicam sanções econômicas contra milhares de pessoas, empresas e países de todo o mundo.

Sachs identifica aí a necessidade política que deu origem aos BRICS.

Depois da Malásia, ontem, hoje a Tailândia formalizou seu pedido de entrada na aliança. 

"Acabou o domínio do Ocidente", afirmou Sachs.

Ele disse que a China, os dez países da Associação de Países do Sudeste Asiático (Brunei, Camboja, Indonesia, Laos, Malásia, Myanmar, Filipinas, Cingapura, Tailândia e Vietnã), e a Índia serão os responsáveis pelo dinamismo da economia internacional a partir de agora.

DESAFIO PARA A VENEZUELA

A saída política para a Venezuela, que há dez anos está sob cerco dos Estados Unidos, é combater as sanções na Assembleia Geral das Nações Unidas, sugeriu Sachs.

Além disso, o país deveria ingressar nos BRICS, apostar na integração com o México e o Caribe -- agora que a extrema-direita foi derrotada na Colômbia -- e com seus vizinhos de Amazônia, inclusive o Brasil.

Na abertura do seminário, a vice-presidente Delcy Rodrigues afirmou que a Venezuela está pronta para entrar no bloco, o que pode acontecer no próximo encontro de chefes-de-Estado, previsto para outubro, na Rússia.

Ela disse que seu país poderá se tornar o grande fornecedor de matérias primas para a Ásia, uma vez que "estamos certificando a oitava reserva de ferro do mundo, a sexta de diamante e a quarta de ouro".

Além disso, segundo Delcy Rodrigues, com o gás e petróleo da Venezuela os BRICS poderiam dobrar suas reservas para 35% do total mundial.