A Argentina de Javier Milei vivencia o pesadelo da hiperinflação e estuda adotar Bitcoins como possível solução para a economia. A taxa de inflação do país vizinho aumentou para 289,40% em abril de 2024, em comparação com 287,90% em março de 2024.
Na última quinta-feira (23), o presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) argentino se reuniu com o presidente da Comissão Nacional de Ativos Digitais (CNAD) de El Salvador para discutir o assunto.
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El Salvador, no atual governo de extrema direita de Nayib Bukele, tornou o Bitcoin moeda de curso legal em setembro de 2021. O país já acumula mais de 5.762 BTC, equivalentes a cerca de R$ 2 bilhões.
A adoção pioneira do Bitcoin pelo país ganhou elogios de adeptos do "anarcocapitalismo", entre eles o presidente argentino. Não por acaso, o governo Milei quer aprender com a experiência salvadorenha.
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O presidente da CVM da Argentina, Roberto E. Silva, destacou a importância da experiência de El Salvador com criptoativos. "El Salvador se estabeleceu como um dos países líderes, não apenas no uso de bitcoin, mas também no mundo dos criptoativos. Queremos estreitar os laços com El Salvador e explorar a possibilidade de assinar acordos de colaboração com eles", afirmou.
Desde a adoção do Bitcoin, El Salvador tem sido comparado a uma futura Singapura, devido às políticas de incentivo aos negócios e ao combate ao crime lideradas pelo presidente Nayib Bukele. A visita da CVM argentina a El Salvador reafirma o interesse em replicar esse modelo para enfrentar a crise econômica e a inflação galopante que atinge 289,4% ao ano na Argentina.
Juan Carlos Reyes, presidente da CNAD de El Salvador, acredita que o governo argentino, sob a liderança de Milei, pode aprender muito com a experiência salvadorenha. "A Argentina é pioneira em tecnologia, e a Comissão Nacional de Valores entende e quer trabalhar com a indústria de maneira eficiente e criar uma regulamentação apropriada", disse Reyes.
Apesar dos desafios, a aproximação entre as comissões de valores dos dois países pode sinalizar uma mudança de abordagem na Argentina, os apoiadores de Milei e do ultraliberalismo acham que o Bitcoin oferece uma alternativa viável para enfrentar o caos monetário atual.
Controvérsia das bitcoins
O Bitcoin é uma forma de moeda digital ou criptomoeda que, diferente das moedas tradicionais emitidas por governos e bancos centrais, é descentralizado e opera em uma rede peer-to-peer (ponto a ponto), o que significa que as transações ocorrem diretamente entre os usuários sem a necessidade de intermediários.
Os críticos dessa moeda digital apontam para a sua volatilidade. Como o Fundo Monetário Internacional (FMI), que expressa preocupações sobre a estabilidade econômica e os riscos associados à adoção do Bitcoin.
Bitcoin opera em uma tecnologia chamada blockchain, um livro-razão público distribuído que registra todas as transações em uma rede de computadores. A descentralização significa que não há uma autoridade central controlando o Bitcoin, como um banco central. Os usuários têm controle total sobre suas transações e fundos, sem a necessidade de intermediários como bancos.
Anarcocapitalismo e Bitcoins
Milei se apresenta como libertário e anarcocapitalista para adotar suas políticas ultraliberais. Ele acha que o Estado deve ter um papel mínimo na vida dos cidadãos. Defende a redução drástica do tamanho do governo, eliminando muitos dos serviços e regulamentações estatais que considera ineficientes e opressivos.
O Bitcoin serve como uma ferramenta financeira e manifestação concreta dessas ideologias anarcocapitalistas e serve de um meio de praticar a autonomia financeira e a resistência ao controle estatal.
Para o Anarcocapitalismo, essa visão de mundo vai além e defende a completa ausência de governo. Milei se inspira nessa visão, promovendo a ideia de que o mercado livre e as interações voluntárias entre indivíduos são suficientes para organizar a sociedade.
Milei é um forte defensor do livre mercado, argumentando que a intervenção estatal distorce a economia e cria ineficiências. Ele promove a privatização de empresas estatais, a desregulamentação e a abertura do mercado. Acredita que a propriedade privada e os direitos individuais são fundamentais para o desenvolvimento econômico e a liberdade pessoal.
O presidente argentino frequentemente cita influências de pensadores libertários e anarcocapitalistas, como Murray Rothbard, Ludwig von Mises e Friedrich Hayek, que defendem a economia de mercado livre e a redução ou eliminação do Estado. Essa visão econômica é fortemente influenciada pela Escola Austríaca de Economia, que enfatiza o papel do empreendedorismo, do mercado livre e da crítica à intervenção estatal.
Milei e Bukele
A sintonia entre os governos de extrema direita de Bukele e Milei vai além do uso de Bitcoins. O presidente de El Salvador expressou entusiasmo pela vitória do libertário na Argentina. Logo após a vitória, o presidente de El Salvador postou um vídeo para elogiar o colega em apoio às suas propostas e visão política.
Ambos adotam posturas anti-establishment. Milei é conhecido por suas críticas veementes ao establishment político e econômico da Argentina, se apresenta como um outsider que desafia a ordem política tradicional além de frequentemente criticar a classe política como corrupta e ineficaz.
Bukele também é visto como um outsider, tendo rompido com os partidos tradicionais de El Salvador. Ele ganhou popularidade ao se posicionar contra o establishment político e ao prometer combater a corrupção e o crime.
Os dois usam intensamente as mídias sociais. O argentino, para comunicar suas ideias e políticas, mobilizar seus apoiadores e criticar seus oponentes, sendo conhecido por seu estilo direto e muitas vezes confrontador. Bukele também é extremamente ativo nas redes sociais, onde se comunica diretamente com os cidadãos, faz anúncios políticos e responde a críticas. Seu uso eficaz das mídias sociais tem sido uma parte central de sua estratégia de governança.
Como economista, Milei defende políticas de livre mercado, redução do tamanho do governo e desregulamentação. Ele também é um defensor do Bitcoin e de outras criptomoedas como soluções para os problemas econômicos da Argentina. Bukele foi o primeiro líder mundial a adotar o Bitcoin como moeda de curso legal em El Salvador, uma medida inovadora destinada a promover a inclusão financeira e atrair investimentos estrangeiros.
Milei promete combater o crime e a insegurança na Argentina com políticas rigorosas e reformas no sistema de segurança pública. Bukele fez da segurança pública uma prioridade central de seu governo, implementando medidas duras contra gangues e o crime organizado, o que aumentou sua popularidade entre os cidadãos.
O argentino adota estilo de liderança populista, muitas vezes usando retórica emocional para conectar-se com os eleitores e apresentar-se como o defensor do povo contra as elites. Bukele também e usa uma retórica que ressoa com as aspirações e frustrações do povo salvadorenho, posicionando-se como um líder que está em sintonia com as necessidades dos cidadãos comuns.
Os dois também se alinham no discurso anti-sistema. Milei critica frequentemente as instituições tradicionais e as acusa de serem parte do problema econômico e social da Argentina. O salvadorenho tem um histórico de conflitos com o judiciário e o legislativo em El Salvador, acusando essas instituições de serem obstruções à sua agenda de reformas.