RETÓRICA X REALIDADE

Milei pede ajuda a governo Lula para conter escassez de gás na Argentina

Realidade impõe mais um recuo à retórica incendiária e descolada da realidade do ultraliberal e libertário presidente argentino, que acaba recorrendo à Petrobras para aliviar crise energética no país

Créditos: Fotomontagem - Javier Milei (Davos/Divulgação) e Lula (Ricardo Stuckert)
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O ultraliberal Javier Milei, depois de inúmeros ataques contra Lula, recorreu ao governo brasileiro para tentar conter a grave crise de falta de gás de cozinha que aflige o povo argentino.

Não se sabe de Milei foi aconselhado pelo cachorro morto, mas seu governo de extrema direita procurou a Petrobras para comprar Gás Natural Liquefeito (GNL) por meio da Energia Argentina Sociedad Anonima (Enarsa), estatal da Argentina que explora o petróleo e o gás natural.

A Petrobras confirmou a venda do GNL, usado para gás de cozinha, nesta quarta-feira (29). O governo Milei recorreu à petrolífera brasileira para contornar uma crise no abastecimento em razão do aumento da demanda no mercado nacional, que afeta mais de 300 indústrias e postos de combustíveis. O país enfrenta temperaturas baixas nas últimas semanas.

O navio com o carregamento chegou na terça-feira (28) no terminal argentino. Em razão de um problema de pagamento, o descarregamento do gás acabou sendo atrasado. Nesta quarta-feira, o Banco de la Nación Argentina (BNA) emitiu carta crédito e a operação foi feita imediatamente. A companhia argentina informou que a situação já está normalizada.

O governo argentino informou, em nota, que, com o carregamento de 44 milhões de metros cúbicos de gás natural da Petrobras, estima-se a normalização do abastecimento de indústrias, postos de GNV e termelétricas. De acordo com as autoridades locais, o consumo passou de 44 milhões de m3 para 77 milhões de m3 por causa da queda de temperatura no mês de maio. 

O acordo entre a Petrobras e a Enarsa foi assinado no mês passado, com duração de três anos, e prevê intercâmbio de informações, a avaliação de alternativas para cooperação e complementariedade energética entre as duas empresas, “além da coordenação de ações para maior garantia de fornecimento de gás natural para a Argentina durante o inverno, período de maior demanda naquele país, sem qualquer impacto para o abastecimento de gás no Brasil nem custo financeiro adicional para a Petrobras”.

Libertário recuou diante da realidade

Esse apelo do governo argentino prontamente atendido pelo governo Lula é mais um recuo de Milei. Entre a retórica incendiária e a realidade, existe um longo caminho. Depois de afirmar publicamente durante a campanha eleitoral da qual saiu vitorioso que não faria negócios com o governo do petista, ele precisou voltar atrás.

Em várias ocasiões Milei disse que não tinha interesse em estabelecer relações comerciais com líderes que considera "comunistas", incluindo Lula e o governo chinês. O libertário argumentava que preferia manter distância de países que, segundo ele, não compartilham dos mesmos valores de liberdade e livre mercado que ele defende. Durou pouco.

Fila quilométrica para comprar gás

Entre os sinais de que ele é adepto do "faça o que falo, não o que faço" e que precisou pedir arrego diante da realidade do povo argentino estão as filas quilométricas que a população do país vizinho tem enfrentado para conseguir comprar gás de cozinha.

Um vídeo que viralizou nas redes sociais mostra uma fila imensa de pessoas que tentam comprar gás na cidade de Corrientes, capital da província de Corrientes, no nordeste do país.

Por que falta gás de cozinha na Argentina

A falta de gás de cozinha na Argentina tem várias origens, entre elas a crise energética e as políticas recentes do governo do autodenominado "anarcocapitalista".

Após a eleição de Milei, o governo argentino eliminou subsídios ao gás de cozinha, resultando em um aumento de tarifas de até 300% em um mês, com previsões de aumentos ainda maiores durante este inverno. Este aumento substancial nas tarifas foi uma tentativa de equilibrar o setor energético e reduzir o déficit fiscal, mas acabou sobrecarregando os consumidores.

O setor energético argentino está em crise há algum tempo, com problemas de infraestrutura e manutenção que afetam a produção e distribuição de gás. O governo de Milei declarou um estado de emergência no setor logo após assumir a presidência, buscando ajustar temporariamente as tarifas para garantir a continuidade dos serviços.

Há ainda a inflação galopante na Argentina, que exacerba a crise de preços e custos em todos os setores. O aumento das tarifas de gás faz parte de uma política mais ampla de arrocho econômico que inclui cortes de gastos e aumentos de impostos, recomendados por instituições como o FMI, mas que impactam diretamente o custo de vida da população.

Com informações da Agência Brasil