O nome de Javier Milei, presidente de extrema direita da Argentina, volta e meia aparece nos assuntos mais comentados no X, a rede do "amigão" dele, Elon Musk. O motivo, na maioria das vezes, está relacionado a polêmica e confusão.
Neste domingo (19), a treta da vez é com o primeiro-ministro socialista da Espanha, Pedro Sánchez. Milei atacou a esposa do político espanhol, Begoña Gómez, investigada por tráfico de influência.
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Houve uma enxurrada de críticas, com direito a pronunciamento ao vivo do chanceler espanhol, José Manuel Albares. O representante das relações exteriores da União Europeia, Josep Borrell Fontelles, também rechaçou a fala de Milei pelo X.
Borrell disse que os ataques contra familiares de líderes políticos “não tem lugar na nossa cultura”. “Nós os condenamos e rejeitamos, especialmente quando partem de parceiros”.
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A presidenta do Parlamento Europeu, Francina Armengol, também foi ao X e afirmou que o sentimento de fraternidade entre a Espanha e o povo argentino deve ser a “base que marca as relações entre os dois estados”.
“Não podemos continuar permitindo discursos que geram tensão e ódio. Nem ataques frontais à nossa democracia”, disse Francina. “As instituições têm que estar à altura das pessoas que representam”, completou.
Não satisfeito com a repercussão negativa da sua fala contra a esposa de Sánchez, Milei dobrou a aposta e reforçou a afronta contra o governo espanhol pelas redes na noite deste domingo ao postar o vídeo que gerou polêmica.
"Por mais que alguns queiram tapar o sol com as mãos para que não se ouça o grito de LIBERDADE, aqui deixo minhas palavras no VIVA 24 que tanto incomodam e que desesperam por ocultar..."
A fala de Milei foi feita durante o evento 'Europa Viva', organizado pelo Vox, partido de extrema direita espanhol, em Madri, capital da Espanha.
O evento reuniu parte do chorume da extrema direita mundial:
- José Antonio Ortega Lara, espanhol fundador do Vox;
- Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria;
- Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália;
- Roger Severino, advogado dos EUA;
- Matt Schlapp, político dos EUA criador da União Conservadora Americana;
- Mercedes Schlapp, ex-diretora de comunicação da Casa Branca no governo George W. Bush;
- José Antonio Kast, político líder do Partido Republicano do Chile;
- André Ventura, deputado e líder do partdo Chega, de Portugal;
- Jorge Buxade, chefe da delegação de Vox no Parlamento Europeu;
- Amichai Chikli, ministro da Diáspora e Combate ao Antissemitismo de Israel; e
- Mateusz Morawiecki, político que foi primeiro-ministro da Polônia de 2017 a 2023.
Relembre outras tretas de Milei
Não é de hoje que a diplomacia argentina precisa se virar para apagar os incêndios que o chefe produz. Milei foi empossado no cargo de presidente da Argentina no dia 10 de dezembro de 2023. Ele está no poder a apenas 162 dias e já fez muito estrago nas relações exteriores do país vizinho.
Lula
Milei fez várias declarações polêmicas sobre o presidente Lula, principalmente durante sua campanha e início de mandato. Ele chamou o mandatário brasileiro de "comunista corrupto" durante uma aparição no Chile e afirmou que não manteria relações com o Brasil por conta disso. Essas declarações geraram tensões significativas entre os dois países.
Mais recentemente, em abril, em entrevista à CNN da Espanha, o presidente da Argentina atacou Lula e o presidente chileno, Gabriel Boric, do Chile, para defender as ações de Israel na Faixa de Gaza.
Lula e Gabriel Boric foram enfáticos ao criticar o genocídio israelense contra a população palestina da Faixa de Gaza. Milei não gostou.
Chile
Além desse ataque conjunto a Lula e Boric, Milei fez outras declarações polêmicas sobre o presidente do Chile. Uma das principais polêmicas surgiu quando a Ministra da Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, afirmou que o grupo Hezbollah estava presente no Chile. Essa declaração levou o governo chileno a protestar oficialmente, com Boric exigindo respeito e negando veementemente a presença de qualquer grupo terrorista no país.
China
Milei fez várias declarações polêmicas sobre a China que geraram tensão nas relações bilaterais. Durante sua campanha e início de mandato, Milei referiu-se à China como um "assassino", questionando a necessidade de comércio com um país onde, segundo ele, as pessoas não são livres e podem ser mortas por suas ações.
Ele também mencionou que congelaria as relações com a China devido a suas preocupações com a falta de liberdade e direitos humanos no país. Isso incluiu críticas ao sistema político chinês e ao modo como o governo trata seus cidadãos.
Apesar dessas declarações, após assumir o cargo, Milei moderou seu tom e ressaltou a importância de separar questões geopolíticas do comércio. Ele afirmou que, embora mantenha suas críticas ao governo chinês, está disposto a continuar as relações comerciais devido à importância econômica dessas relações para a Argentina.
Colômbia
Em uma entrevista à CNN, Milei chamou o presidente colombiano, Gustavo Petro, de "assassino terrorista" devido ao passado de Petro como membro do movimento guerrilheiro M19. Essa declaração levou a Colômbia a expulsar os diplomatas argentinos e a retirar seu embaixador de Buenos Aires?.
México
Milei referiu-se ao presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador como "ignorante" e criticou sua administração e suas políticas econômicas. López Obrador respondeu sugerindo que os comentários de Milei não deveriam ser levados a sério?.
Venezuela
Milei também atacou severamente os regimes de Nicolás Maduro na Venezuela. Em uma entrevista à CNN, Milei descreveu a situação do país como uma "carnificina inédita". Ele usou essa expressão para ilustrar o estado de degradação e crise humanitária sob o governo de Nicolás Maduro.
Ele já chamou Maduro de "erro na história da América Latina" e criticou seu governo por violar direitos humanos e destruir a economia venezuelana.
Em diversas ocasiões, Milei comparou a situação da Venezuela com os males do comunismo e socialismo, usando o país como um exemplo do que ele considera os resultados desastrosos dessas ideologias.
Durante sua campanha e após sua eleição, Milei sugeriu que a Argentina deveria se distanciar de regimes como o de Maduro, criticando qualquer tipo de apoio ou relação próxima com a Venezuela sob seu governo atual.
Cuba
Milei fez várias declarações críticas sobre Cuba, alinhando suas críticas ao regime cubano com suas posições contra governos socialistas e comunistas. Em entrevista à CNN, descreveu Cuba como uma "prisão", destacando a falta de liberdade e as condições repressivas sob o regime comunista cubano. Ele afirmou que a situação em Cuba é semelhante a uma prisão devido à repressão do governo sobre a liberdade dos cidadãos.
O presidente argentino frequentemente usa a ilha como exemplo de um país onde o socialismo e o comunismo levaram à miséria e à falta de liberdades fundamentais. Ele critica o governo cubano por suas violações de direitos humanos e pela manutenção de um sistema político repressivo.
Assim como faz com a Venezuela, Milei utiliza Cuba como um exemplo negativo em seus discursos contra o socialismo. Ele argumenta que regimes como o de Cuba são responsáveis por perpetuar a pobreza e a repressão em nome de ideologias que, segundo ele, fracassaram historicamente.
Surto em Davos
No Fórum Econômico Mundial de 2024 em Davos, o presidente argentino Javier Milei fez um discurso absurdo e mentiroso em defesa do capitalismo e criticando o socialismo. Ele afirmou que o socialismo é responsável pela pobreza e pela morte de 100 milhões de pessoas, enquanto elogiou o capitalismo como o único sistema capaz de acabar com a fome e a pobreza no mundo.
A retórica de Milei sobre o capitalismo e o ataque ao socialismo eram previsíveis e repetitivas e são um traço do seu discurso como um reavivamento de clichês neoliberais e libertários dos anos 1930 e 1940. A ideia de desmantelar o estado de bem-estar social argentino, alegando que suas políticas aumentariam a desigualdade, só prejudicam os mais vulneráveis?.
Milei criticou a ideia de justiça social, afirmando que ela é inerentemente injusta porque depende da coerção estatal para a arrecadação de impostos. Ele argumentou que, ao punir os capitalistas bem-sucedidos e interferir no processo de descoberta do mercado, o estado acaba reduzindo os incentivos e, consequentemente, a produção, prejudicando a sociedade como um todo.
Esse discurso do autointitulado libertário, que incluiu a afirmação de que o capitalismo de livre mercado é a única solução moral e prática para acabar com a pobreza global, é apenas mais uma tática de polarizadora da extrema direita. É simplesmente sem base histórica ou na realidade a rejeição veemente das políticas de justiça social e intervenção estatal?.
Durante o discurso, Milei também chamou os empresários de "heróis" e destacou a necessidade de proteger os valores ocidentais do que ele vê como uma ameaça do socialismo. Ele terminou sua fala com uma defesa apaixonada da liberdade econômica e um aviso de que o mundo ocidental está em perigo devido à adoção de visões socialistas por parte de seus líderes.
A ladainha de Milei que simplifica excessivamente os problemas econômicos e sociais complexos ao culpar exclusivamente o coletivismo e o socialismo, sem reconhecer as nuances e as contribuições positivas de certas políticas de bem-estar social, são outra ferramenta da extrema direita.