A violência política é um problema considerado estrutural no México, que passará por eleições nacionais no próximo domingo (2). Só em 2024 o país teve pelo menos 30 candidatos e pré-candidatos, além de 40 dirigentes políticos assassinados. O número de candidatos que recebem proteção do Estado beira os 500 – 469 na última semana.
Cláudia Sheinbaum, Xóchitl Gálvez e Jorge Máynez, os principais presidenciáveis, contam cada um com 24 policiais fazendo sua proteção pessoal. Além deles, 11 candidatos a governador contam com 10 policiais cada. 165 candidatos ao Senado e à Câmara, 286 candidatos a legislativos estaduais e cargos municipais e 4 funcionários eleitorais também terão a proteção individual de 6 policiais.
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A eleição definirá três níveis de cargos públicos: presidência da República, 500 deputados e 128 senadores em nível federal; 9 governadores e 1098 deputados em nível estadual; e 1802 prefeitos e 14674 vereadores em nível municipal.
A corrida eleitoral mexicana começou em setembro de 2023. Desde então foram 228 assassinatos relacionados ao pleito segundo o site Votar entre Balas, incluindo funcionários públicos, autoridades eleitorais e oficiais de segurança.
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Em 2023, o ano mais violento politicamente dos últimos 10 no México, foram 573 casos registrados. Destes, 353 se referem a assassinatos. Ainda houve 76 ataques armados, 68 sequestros, 45 atentados, 27 ameaças e 4 desaparecimentos.
2024 não parece melhorar o quadro. Até esse mês de maio já foram registrados 275 casos, dos quais 145 se referem a assassinatos. Além deles, foram 38 ataques armados, 34 ameaças, 26 sequestros e um desaparecimento.
O Estado de Guerrero, o mesmo lugar onde 43 estudantes foram mortos e tiveram seus cadáveres ocultados em 2014 por grupos milicianos ligados ao narcotráfico e à política local, lidera a lista de violência política uma década depois. 11,3% dos registros ocorreram ali.
Entre os 30 candidatos assassinados, 11 eram do Morena, seguidos por cinco do PAN, e três do Movimento Cidadão e do PRI. E são mais de 500 os candidatos que preferiram se retirar da disputa por ameaças diretas ou por medo.
Roberto Roldán, um cientista político mexicano especializado no tema, deu entrevista à BBC em que explica o caráter estrutural dessa violência. Ele aponta que em cada região há uma dinâmica diferente mas que, sem dúvidas, a violência é um problema político em todo o país e “compromete a democracia em nível local”.
“Sempre se pensou que as ameaças vêm de grupos armados que querem cooptar os políticos. Mas essa é apenas metade dos casos. A outra metade é por razões políticas. Ou seja, dentro dos partidos, as campanhas são disputadas a tiros. Não é que um partido queira eliminar o outro, mas a própria definição dos candidatos usa a violência como filtro. E por isso é algo muito estrutural, porque tem a ver com a maneira como os conflitos são resolvidos agora no México. Mais de dois terços dos 32 casos que analisamos em 2021 usavam uma técnica criminosa típica do sicariato: a execução precisa, sem ameaças prévias. Então, o método pode ser do crime, mas as intenções vêm da política”, disse o pesquisador.
Mas não é somente com relação à política que o México é um país violento. O número de homicídios é muito alto, em grande parte devido à esmagadora presença do crime organizado relacionado ao narcotráfico. O governo, de Andrés Manuel Lopez Obrador (AMLO), conseguiu uma leve redução nos índices, com uma taxa de 20,6 homicídios por cada 100 mil habitantes (em países como a Itália, por exemplo, a taxa é de 0,6 homicídios por 100 mil habitantes), mas ainda está longe de solucionar o problema.
Foi durante as últimas três décadas que o modelo neoliberal foi aplicado no país, desmantelando o Estado e favorecendo a concentração do poder econômico nas mãos da oligarquia. O aumento da pobreza e da desigualdade social, bem como o crescimento da corrupção como mecanismo de controle social, foram os efeitos disso para a sociedade mexicana. Sobretudo após a entrada em vigor do Plano Mérida, que sob o pretexto de combater o narcotráfico e incluir o México como um parceiro dos EUA na chamada “Guerra às Drogas” produziu uma militarização sem precedentes num país que desde os anos 70 já convivia com massacres, como o Tlatelolco - ocorrido em 2 de outubro de 1968, que deixou centenas de estudantes mortos nas ruas da capital e nunca foram apresentados ou punidos os culpados.
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