ELON MUSK CONTRA A DEMOCRACIA

Relembre as relações entre Elon Musk e o golpe de Estado ocorrido na Bolívia em 2019

Os ataques ao governo Lula e ao STF não são os primeiros do bilionário contra democracias na América Latina

Jeanine Añéz e Elon Musk.Créditos: Reprodução
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“Vamos dar golpe em quem quisermos. Lide com isso”, disse Elon Musk em 2020 quando eram apontadas as suas relações com o golpe de Estado policial-militar que solapou a democracia da Bolívia no ano anterior. Na ocasião, o presidente Evo Morales foi deposto e a então presidente do parlamento, Jeanine Áñéz, foi colocada na cadeira presidencial.

A frase foi postada pelo bilionário sul-africano em resposta a um internauta que o acusou de patrocinar o golpe boliviano a fim de obter o lítio produzido no país a valores mais atraentes. À época do singelo debate, o atual presidente Luis Arce liderava as pesquisas eleitorais.

Musk apagou o comentário, mas o print é eterno. Reprodução/Twitter

Parêntesis: a ditadura de Áñéz e Musk chacoalhou a Bolívia entre novembro de 2019 e novembro de 2020, abrangendo os primeiros oito meses de pandemia de Covid-19. À época, a usurpadora usava a pandemia como pretexto para manobrar um eterno reagendamento do pleito, justamente quando Arce o liderava. Precisou que o movimento social e indígena boliviano, bem como os seus sindicatos, ocupassem mais de 400 estradas em toda a Bolívia e paralisassem o país entrando em confronto com as forças de segurança e paramilitares afeitos ao golpismo para que se garantisse o direito ao voto.

Após as eleições, e com Luis Arce – à época aliado de Morales – vencedor, o novo governo tomou posse e Áñéz foi encontrada escondida numa cama box quando um mandado de prisão chegou à sua residência.

O lítio é largamente produzido na Bolívia. É comum que seja encontrado em áreas salinas e o país andino tem talvez a maior do mundo: o Salar de Uyuni. É do imenso deserto branco de sal, que está a cerca de 3 mil km de altitude, que sai boa parte da produção.

Jeanine Áñéz encontrada na cama box. Reprodução/Agencia Boliviana de Información

Trata-se de um metal essencial para a fabricação de baterias. O interesse de Musk na matéria-prima se dá por conta da Tesla, sua empresa que fabrica carros elétricos no estado de Nevada, nos EUA. Além da Bolívia, o lítio é muito encontrado nos desertos da Austrália, onde a Tesla já estabeleceu atividades.

Ainda que Musk tenha confirmado que ajudou a financiar o golpe boliviano, não há maiores evidências ou provas da sua participação direta. Em todo caso, a esquerda boliviana, entre ela o próprio presidente Arce, já se referiu por diversas vezes ao golpe de 2019 como “o golpe do Lítio”.

A tese de que o golpe foi motivado pelo interesse de magnatas internacionais no lítio boliviano foi descrita no artigo “Elon Musk, a fábrica da Tesla no Brasil e a conquista do lítio sul-americano”, de Vijay Prashad, jornalista e historiador indiano. O artigo foi publicado em português no Brasil de Fato.

Outros episódios de ingerência na América Latina

Mas o caso boliviano e o recente caso brasileiro não são as únicas vezes em que Elon Musk defendeu a derrubada de governos na América Latina. Na última semana ele fez um ataque à Venezuela no seu perfil do X, e não escondeu o interesse que tem nos recursos naturais do país.

“A Venezuela possui uma grande riqueza em recursos naturais. Se Chávez não tivesse destruído sua economia aumentando o papel do governo até o socialismo extremo, o país seria muito próspero”, escreveu.

No ano passado, na Argentina, Musk não precisou apoiar um golpe. Bastou dar um retuíte numa postagem do então candidato e atual presidente Javier Milei, que prontamente lhe respondeu em outro RT: "We need to talk, Elon...[Precisamos conversar, Elon...]".

A Argentina faz parte do “Triângulo do Lítio”, ao lado da Bolívia e do Chile. E logo que tomou posse, Milei abriu as portas do país para Musk.

Além de abrir espaço para a Starlink (serviço de banda larga de Musk), sua desregulamentação total da economia abriu as portas para o bilionário, como o próprio Milei entrega na conversa a seguir. Observe sua expressão de encantamento ao falar em Elon Musk.

*Com colaboração de Antonio Mello