A Fórum conversou com exclusividade com um estudante da Universidade de Columbia que, por motivos de segurança, pediu para que a sua identidade não fosse revelada, visto que há ameaças da direção da instituição de retaliação contra todos aqueles que de alguma maneira colaborarem com o movimento pró-Palestina que ocupou o prédio da instituição na madrugada desta terça-feira (30).
A ação dos estudantes ocorreu após a direção da universidade começar a suspender estudantes que não aceitaram a ordem de finalizar o acampamento pró-Palestina, que foi organizado como forma de protesto contra a guerra em Gaza.
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O prazo para finalizar o acampamento encerrou-se nesta segunda-feira (29), e a direção da instituição ameaçou os estudantes com suspensão caso a manifestação não chegasse ao fim. No entanto, os estudantes não recuaram e decidiram ocupar o prédio Hamilton Hall. Cabe lembrar que no final de semana o acampamento pró-Palestina já havia sofrido forte repressão policial, que terminou com cerca de 700 pessoas presas.
A seguir, confira os principais trechos da conversa que a Fórum teve com exclusividade com uma estudante da Universidade de Columbia:
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Inspiração no movimento estudantil contra o apartheid sul-africano
"A situação de manhã estava calma, agora existe um protesto acontecendo na frente da universidade que começou às duas da tarde, o que aconteceu foi, esses alunos estão seguindo com muita arrisca uma cartilha dos movimentos que foram feitos em 1985 contra o investimento de Colômbia no Apartheid da África do Sul e todos os passos que eles seguiram até agora foi baseado nos passos que surtiram efeito na época do Apartheid da África do Sul, então o primeiro passo em 1985 e agora foi o acampamento no campus, que surtiu muito efeito, que chamou muita atenção, que resultou em outros 48 campos de universidades, tanto Ivy League como menores universidades nos Estados Unidos inteiros, também fazendo acampamento como esse, depois eles partiram por uma negociação aberta com a universidade, então esses alunos tinham basicamente um comitê de alunos organizadores que estavam negociando com a universidade, com a reitoria e essas negociações, ao contrário de outras universidades onde tiveram mais efeito, em Colômbia não teve nenhum efeito, eles tinham três demandas principais que eram de investimento, de qualquer investimento ligado a Israel ou de empresas que suportem as atuais políticas de Israel, o segundo era amnistia para todos os alunos, incluindo não serem presos, não serem processados, nem investigados e não serem expulsos e o terceiro era a transparência completa de todos os investimentos de Colômbia e eles passaram oito dias em negociações, nada resolveu, Colômbia não se deu em absolutamente nada, então o próximo passo foi a ocupação desse prédio que se chama Hamilton Hall, já foi ocupado cinco vezes, foi ocupado em 68 nos protestos contra a guerra do Vietnã, foi ocupado em 85 nos movimentos contra a apartheid da África do Sul, depois foi ocupado de novo em 72, acredito que tenha sido ocupado de novo em 95 e agora foi ocupado em 2024, então apesar da reitoria falar que foi uma grande surpresa isso que aconteceu, eu não acredito que tenha sido, nem para eles, nem para os alunos que estavam acompanhando, os alunos que estavam protestando, eles estão seguindo exatamente o que foi feito antes, então era previsível, era bastante previsível que isso acontecesse, eles estão bastante organizados com relação a isso."
Violência policial
"Com relação à violência policial, eu acho que sempre arrisco, porque se de início Colúmbia chamou a polícia para prender alunos que estavam protestando pacificamente e há relatos bem graves de violência policial com relação a esses alunos, acredito que agora que as coisas aumentaram, exista ainda mais chance de violência policial, eu acho que eles perceberam que isso atestou muito contra eles, contra a universidade, porque isso fez com que os alunos se unissem muito quando eles chamaram a primeira vez semanas atrás a polícia para os estudantes pacíficos, então alunos que nem concordavam com o protesto ou alunos que não ligavam ou não tinham nada a ver com aquilo se uniram contra a reitoria porque todo mundo achou um grande absurdo que eles chamaram a polícia, então eles também sabem que isso pode ser muito desfavorável a eles, então acredito que eles pensariam duas vezes antes de fazer isso de novo, mas eu acho que sempre há risco."
Campus fechado e sem acesso à água
"Até então, os estudantes estavam recebendo apoio completo, então o campus estava aberto e o acampamento estava recebendo ajuda externa, não só de outros alunos que não estavam protestando, mas também de toda a comunidade do bairro e também da cidade de Nova York.
Então, os alunos tinham se organizado em um comitê de alunos que cuidava dos mantimentos de comida, um comitê de alunos que cuidava dos mantimentos de saúde, outros que cuidavam de doações de casacos e cobertores, enfim, e eles estavam recebendo bastante coisa, então eles tinham bastante apoio, acho que na comunidade nova yorkina como um todo.
Agora o campus foi fechado completamente, então eles não podem mais receber nenhum tipo de apoio de doações, então fica a dúvida, a gente não sabe ainda como que vai ser com relação a isso, a gente não sabe se eles vão, de fato, continuar acampados por muito tempo, porque eles não têm mais comida, não têm mais mantimento, só aqueles que foram guardados, enfim, não têm mais nenhum tipo de mantimento, só aqueles que foram guardados."
Campus cercado e risco de novas prisões em massa
"A última atualização que eu tenho é que a NYPD está trazendo vários comboios, aqueles comboios enormes para prender os alunos mesmo, eu acredito, aqui. Então, estão parados todos nas 110.
Eu não sei se isso é só para eles ficarem parados aqui caso a administração ordene que eles entrem ou se eles realmente já estão a postos para prender os alunos. Mas, se isso acontecer, eu tenho certeza que vai ser bem catastrófico.
Isso aconteceu em 1985, muitos alunos foram presos e, enfim, não sei se está fadado a acontecer de novo, mas eu acabei de passar lá e eu acabei de ver isso. Pode ser que a universidade tente prendê-los.
O que eles passaram é que sim, que eles querem vender pelos glutam, que eles querem, basicamente, matar o movimento. Então, eles fecharam o campo completamente, vão deixar as pessoas sem água. Todos os alunos que estão dentro do acampamento ou dentro do prédio, porque eles se dividiram em dois, estão proibidos de entrar em todos os prédios do campus, inclusive nos refeitórios.
Então, eles não têm comida, eles não têm acesso à higiene básica, eles não têm acesso a remédio, nenhum tipo de saúde. Dentro do campus, a gente tem consultórios, a gente tem um pequeno hospital, então, esses alunos poderiam ir para lá caso alguma coisa acontecesse, mas eles foram negados acesso a essa saúde básica.
Então, eles não podem mais acessar absolutamente nada e eu acho que talvez a administração esteja tentando matar o movimento desta maneira."
Desinvestimento: movimento estudantil obtém primeiras vitórias
"As aulas acabaram ontem, agora é verão, então eu acredito que também eles, a administração acredite que com os alunos saindo de Nova Iorque, porque a maioria dos alunos da graduação voltam para suas casas ou então voltam para os seus países no verão, porque não tem aula, acredito que eles achem que vai perder força, o movimento vai perder força.
Então talvez eles estejam achando que, mantendo o campus fechado e juntando a parte do verão, que as aulas acabaram oficialmente ontem, então ninguém perdeu aula, ninguém mais vai ter aula. Negando esses alunos os acessos básicos deles à comida, à higiene e à saúde, eu acho que eles provavelmente vão tentar quebrar a ocupação dessa maneira.
Uma coisa que dá força à ocupação aqui, a notícia foi que, hoje de manhã, duas das grandes universidades dos Estados Unidos, que estavam também acampadas, ocupadas em protesto, concordaram com o desenvolvimento, que foi muito grande, uma delas é a Brown, que é uma Ivy League enorme, que estava exatamente nas mesmas negociações com Colúmbia e a universidade cedeu.
E a outra foi a Dartmouth e também é exatamente a mesma coisa. Então isso dá força para o movimento, eu acredito, porque iniciou em Colúmbia e eu acredito que o acampamento daqui tenha influenciado todos os outros acampamentos. Então se outras universidades chegaram, a notícia do desinvestimento é por causa do acampamento de Colúmbia, de certa forma."