O clima é de tensão no campus da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, onde centenas de estudantes vêm mantendo um acampamento, paralisando as atividades da instituição, em manifestação pró-Palestina e contra o massacre que o Estado de Israel promove diariamente na Faixa de Gaza.
O relato é de Daniel Calarco, presidente do Observatório Internacional da Juventude (OIJ) e Obama Scholar na Universidade de Columbia. Ele é aluno visitante na instituição e tem acompanhado as manifestações massivas de estudantes dos EUA, que ocorrem ainda em outras universidades, como Yale e Harvard, entre outras.
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Os estudantes universitários, em solidariedade ao povo palestino, exigem o desligamento completo dos laços institucionais entre as entidades educacionais e o governo de Israel, além de demandarem o fim do apoio estadunidense ao genocídio em Gaza.
Em entrevista à Fórum, Daniel Calarco afirmou que os protestos fizeram com que todas as atividades acadêmicas na Universidade de Columbia fossem transferidas para o ambiente online e o acesso ao campus passou a ser restrito aos alunos que possuem carteirinhas de identificação ativas. Segundo o aluno visitante, a polícia marca presença constante no interior da universidade, criando um ambiente hostil.
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"A tensão é palpável, com a presença constante da polícia e um clima de hostilidade que afeta todos os envolvidos. O Boicote Acadêmico e Cultural é um movimento significativo que ganhou forma com mais de mil assinaturas de professores, estudantes e membros da comunidade universitária, exigindo um boicote acadêmico e cultural à Israel. O protesto responde diretamente à gestão dos investimentos financeiros da universidade que, supostamente, apoia ações consideradas por eles como genocídio em Gaza e na Cisjordânia, além da repressão violenta aos protestos estudantis no próprio campus", detalha Calarco.
Segundo o brasileiro, os estudantes da Universidade de Columbia que aderiram aos protestos denunciam a "destruição sistemática do sistema educacional palestino por Israel, destacando a morte de milhares de estudantes e professores e a devastação de infraestruturas educacionais".
"Criticam também a administração universitária por utilizar a polícia para deter mais de cem estudantes em uma manifestação pacífica. As principais exigências incluem a anulação das suspensões e acusações contra os estudantes protestantes, a retirada da presença policial do campus e a renúncia das presidentes Minouche Shafik (Columbia) e Laura Rosenbury (Barnard)", prossegue.
Entre os estudantes que foram presos pela polícia e suspensa pela universidade, segundo Daniel Calarco, está Isra Hirsi, filha da deputada federal Ilhan Omar, que fez história no país ao ser uma das primeiras muçulmanas e a primeira mulher negra eleita para representar Minnesota em Washington.
"Enquanto isso, a Comissão de Educação do Congresso, liderada pela congressista republicana Virgínia Foxx, defende medidas mais severas, incluindo o uso da força para dispersar os protestos, demissões de professores e expulsões de alunos envolvidos. Adicionalmente, a comunidade judaica da universidade tem expressado seu descontentamento, com muitos membros decidindo deixar o campus ou trancar suas matrículas, devido ao ambiente hostil", narra o estudante brasileiro.
"Este conflito no campus promete ter desdobramentos complexos e duradouros, afetando não apenas o fim do semestre de outono, tradicionalmente um período de celebração, mas possivelmente o futuro da própria instituição, à medida que as tensões continuam sem uma resolução clara à vista", opina ainda.
Protestos em todos os EUA
Nos últimos dias, os campus de Columbia, Yale, Harvard e de outras universidades dos EUA se tornaram o foco de manifestações massivas em solidariedade ao povo palestino em em protesto às ações militares israelenses na Faixa de Gaza.
Os estudantes apoiam o movimento internacional Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), que prega sanções econômicas, acadêmicas, culturais e políticas ao Estado de Israel, exigindo o fim da ocupação e da colonização dos territórios palestinos.
Entre as demandas dos manifestantes, estão o desligamento completo dos laços institucionais entre as entidades educacionais e o governo de Israel, além de demandarem o fim do apoio estadunidense ao genocídio em Gaza. O movimento já foi batizado de Intifada Estudantil, relembrando as duas intifadas palestinas ocorridas nos anos 1980 e nos anos 2000.
Há protestos na Universidade do Sul da Califórnia, na Universidade do Texas, na Universidade George Washington, no Instituto Politécnico da Califórnia, na Universidade Emerson, na Universidade de Nova York, na Universidade Emory, na Universidade do Noroeste, no Instituto de Tecnologia de Moda, na Universidade da Cidade de Nova York e na Universidade Estadual de Michigan.
O movimento vem ganhando adesão, ainda, de alunos de instituições em outros lugares do mundo, a exemplo de estudantes da emblemática universidade SciencesPo Paris, na França.