ARES DE 68

Repressão nos EUA faz acampamento pró-Gaza atravessar o Atlântico

Políticos se mobilizam contra estudantes nos EUA

Repressão.Policiais derrubam e prendem um cinegrafista no Texas; em Paris, acampamento montado no campus.Créditos: Reprodução do X
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A repressão policial a estudantes que fazem protestos pró-Gaza nos Estados Unidos e o impasse na Universidade de Columbia, em Nova York, que registrou a presença de unidades antiterrorismo da polícia local, levaram os acampamentos a atravessar o Atlântico.

Alunos do Instituto de Estudos Políticos de Paris, o famoso SciencesPo, montaram um acampamento no campus em solidariedade a colegas estadunidenses. O mesmo aconteceu em Harvard, uma das escolas mais tradicionais dos Estados Unidos.

Em Nova York, a reitora da Universidade de Columbia, Nemat “Minouche” Shafik, mandou desfazer um acampamento, o que levou à prisão de mais de 100 estudantes.

Eles se reorganizaram e ocuparam um novo local, no miolo do complexo universitário. Para evitar a repressão, vigílias noturnas tem atraído milhares de pessoas.

Shafik está sendo cobrada por políticos pró-Israel como o republicano Mike Johnson, líder da Câmara, que pediu a renúncia da reitora por tentar negociar com os estudantes. Ele foi pessoalmente ao campus nesta quarta-feira, 24.

O argumento de Johnson vem sendo reverberado pela extrema-direita, com a alegação de que os manifestantes ameaçam outros estudantes:

Nosso sentimento é de que eles [dirigentes da escola] não agiram para restaurar a ordem no campus. Isto é perigoso. Isto não é liberdade de expressão. Isto não é a Primeira Emenda. Eles [os manifestantes] são ameaçadores, intimidadores.

MEDO DE 1968

A presença de Johnson na Columbia revela o temor de que a ideia de acampar no que os estudantes declaram "território livre" pode se disseminar pelos Estados Unidos.

Em universidades que manejam fundos bilionários, muitas vezes resultado de doações, os estudantes querem que as escolas deixem de investir o dinheiro em bens ligados ao genocídio em Gaza.

Israel gastou milhões de dólares em todo o mundo em ações para enfrentar o movimento BDS (Boicote, Desenvista e Sancione), que acusa Israel de praticar apartheid contra os palestinos.

Os acampamentos não tem ligação direta com o BDS, porém a ideia é a mesma.

Depois que a polícia realizou centenas de prisões em campus e desmontou acampamentos em Nova York, inclusive na NYU, que é pública, o movimento se alastrou rapidamente.

ATÉ A CAVALARIA

No Texas, autoridades locais despacharam até a cavalaria para reprimir estudantes da universidade estadual.

Um balanço feito por uma entidade estudantil diz que já são mais de quarenta acampamentos nos Estados Unidos.

O rabino Elie Buechler causou alvoroço em Nova York ao pedir que estudantes de origem judaica deixassem de comparecer pessoalmente às aulas da Columbia, alegando risco de antissemitismo.

Itamar Ben Gvir, ministro da Segurança Nacional de Israel e representante dos colonos israelenses -- que ocupam ilegalmente território palestino --, disse que tomará medidas para proteger os alunos pró-Israel de universidades estadunidenses.

Lideranças estudantis argumentam que episódios isolados estão sendo amplificados pela mídia para criminalizar os acampamentos.

O movimento estudantil dos EUA tem um importante histórico nas lutas sociais, tendo sido a vanguarda das manifestações pelos Direitos Civis nos anos 60, pelo fim da guerra do Vietnã nos anos 70 do século passado e pelas pautas de inclusão social do século 21.