A Universidade de Columbia começou a suspender os estudantes que se recusaram a cumprir o prazo para desocupar o acampamento no campus de Nova York.
A instituição havia dado prazo até às 14h desta segunda-feira (29) para que os manifestantes pró-Palestina acampados no gramado central do campus dispersassem. A ordem foi desobedecida, os estudantes não dispersaram e centenas marcharam ao redor do acampamento de protesto para protegê-lo.
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A direção da Columbia deu o ultimato aos estudantes e os alertou que enfrentariam suspensão imediata se não saíssem na hora determinada por meio de um aviso. Leia aqui, em inglês.
De acordo com matéria do The New York Times (NYT), no horário determinado para dispersão do acampamento havia poucos sinais de oficiais do Departamento de Polícia de Nova York e nenhuma indicação imediata de que os oficiais de segurança pública da universidade estavam se aproximando.
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Os estudantes da Columbia, o epicentro dos protestos pró-Palestina de uma semana, votaram esmagadoramente para desafiar a ordem e permanecer.
Logo após às 14h, informa o NYT, havia cerca de 80 tendas e dezenas de manifestantes restantes no acampamento. O campus também estava repleto de jornalistas.
De acordo com a universidade, apenas os estudantes que permaneceram no acampamento após as 14h enfrentariam suspensão imediata, não os centenas de outros estudantes que estavam cercando o acampamento para protegê-lo e mostrar seu apoio.
Mensagem da presidenta da Universidade de Columbia em Nova York
A presidenta da Universidade de Columbia, Minouche Shafik, divulgou uma declaração nesta segunda. Leia aqui, em inglês.
No texto, Shafik elenca os quatro princípios fundamentais da instituição.
- Garantir a segurança física de todos os membros da comunidade no campus.
- Compromisso com a liberdade acadêmica e o direito de todos os membros da comunidade expressarem suas opiniões.
- Respeito mútuo pelos direitos de expressão, com restrições de tempo, lugar e maneira para protestos.
- Condenação ao ódio e proteção contra assédio e discriminação, incluindo repúdio à linguagem e ações antissemitas.
Ela comenta também sobre o compromisso em garantir um ambiente acolhedor para todos os estudantes, incluindo aqueles de origem judaica, e repúdio à atmosfera intolerável recentemente vivenciada por alguns estudantes.
A presidenta da Columbia afirma que o diálogo construtivo entre líderes acadêmicos e organizadores estudantis para encontrar uma solução para a remoção do acampamento pró-Palestina, sem acordo alcançado.
Shafik fala a respeito das ofertas feitas pela universidade, que incluíram desenvolver um cronograma acelerado para revisão de novas propostas dos estudantes sobre investimentos socialmente responsáveis, publicar um processo para acesso a lista de investimentos diretos da universidade, entre outros.
Ela cita ainda que propostas adicionais incluíram a formação de um comitê de professores para discutir liberdade acadêmica e barreiras financeiras, investimentos em saúde e educação em Gaza, e compromisso com protestos futuros dentro das regras da universidade.
O texto fala de reconhecimento das divisões na comunidade universitária devido ao conflito em Gaza e esforços contínuos para facilitar o diálogo construtivo e manifestações pacíficas.
A dirigente faz um apelo para que os ocupantes do acampamento deixem voluntariamente o local, considerando a conclusão do ano letivo, a perturbação para estudantes em exames e o planejamento da cerimônia de formatura.
Ela cita o compromisso de realizar uma cerimônia de formatura para honrar a conquista dos estudantes, sem intenção de reprimir o discurso ou o direito ao protesto pacífico.
Finalmente, ela informa uma consulta com a comunidade sobre alternativas para encerrar a crise do acampamento e compromisso de fornecer atualizações sobre os desenvolvimentos futuros.
"Por todas as razões mencionadas acima, instamos aqueles no acampamento a dispersarem voluntariamente. Estamos consultando um grupo mais amplo em nossa comunidade para explorar opções internas alternativas para encerrar essa crise o mais rápido possível. Continuaremos a atualizar a comunidade com novos desenvolvimentos", encerra Shafik.
Sem dispersão do acampamento
Até agora, os estudantes manifestantes prometeram permanecer no local. Em uma coletiva de imprensa na tarde desta segunda, Sueda Polat, uma organizadora estudantil do acampamento, disse que a universidade não havia feito concessões significativas à principal demanda dos manifestantes, que é o desinvestimento de empresas com vínculos com a ocupação israelense em Gaza. Columbia também parou de negociar.
Como resultado, ela disse, os estudantes dentro do acampamento "não serão removidos a menos que seja à força".
"Fomos solicitados a dispersar, mas é contra a vontade dos estudantes dispersar. Não obedecemos às pressões da universidade. Agimos com base na vontade dos estudantes", afirmou
Polat comentou ainda que a universidade tem agido com "obstinação e arrogância" e, em reposta ao pedido dos estudantes por anistia, eles receberam mais disciplina.
Ela afirma também que Columbia está "se recusando a ser flexível" nas negociações para encerrar o acampamento pró-Gaza, enquanto ameaça os estudantes com medidas disciplinares.
Uma professora adjunta do departamento de espanhol do Barnard College, a escola irmã da Columbia, Elga Castro, 47, ficou ao lado de outros membros do corpo docente e funcionários, guardando o acesso às tendas. Ela disse que estava lá não por causa de suas opiniões, mas pelo desejo de proteger a capacidade de protesto de seus alunos.
"Tenho minhas opiniões sobre Gaza e a Palestina, mas estou aqui principalmente para proteger meus alunos", disse ela à reportagem do NYT.
Castro relatou ao jornal que não recebeu nenhuma palavra da Columbia sobre se os professores que participam do protesto enfrentariam censura.
A ordem da universidade para desocupar o acampamento parecia ser uma tentativa de limpar a área sem chamar o Departamento de Polícia, cuja intervenção em 18 de abril, a pedido dos administradores da Columbia, levou a mais de 100 prisões de estudantes.
Os estudantes no acampamento na manhã desta segunda receberam um aviso dos administradores afirmando que as negociações com os líderes estudantis dos protestos estavam em um impasse. Instou os estudantes a desocuparem voluntariamente para permitir que a universidade preparasse o gramado para as cerimônias de formatura agendadas em 15 de maio.
Pressão de democratas
Parlamentares do Partido Democrata deram sua contribuição para elevar a temperatura na Universidade de Columbia. O conselho da instituição recebeu uma carta assinada por um grupo da Câmara para "agir decisivamente" e acabar com o acampamento pró-palestino em andamento em seu campus ou renunciar.
Até agora, os pedidos para que os funcionários da Columbia renunciem foram principalmente restritos ao Partido Republicano, tornando essa pressão uma grande escalada na retórica dos democratas.
Na carta ao conselho de administração da universidade, 21 democratas da Câmara escreveram de sua "decepção de que, apesar das promessas de fazê-lo, a Universidade de Columbia ainda não desmantelou o acampamento não autorizado e inadmissível de ativistas anti-Israel e anti-judeus no campus."
O grupo, liderado pelos deputados Josh Gottheimer (Nova Jersey) e Dan Goldman (Nova York), pediu para "desmantelar o acampamento e garantir a segurança de todos os seus alunos".
-"Se algum membro do conselho não estiver disposto a fazer isso, eles devem renunciar para que possam ser substituídos por pessoas que cumpram as obrigações legais da Universidade sob o Título VI", acrescentaram os legisladores.
Leia a carta na íntegra aqui, em inglês.
Pauta no Congresso
O acampamento, feito para protestar contra o esforço de guerra de Israel em Gaza, foi erguido enquanto a presidenta da Columbia, Nemat "Minouche" Shafik, testemunhava perante o Congresso neste mês sobre o antissemitismo no campus.
O protesto levou a alegações de antissemitismo e preocupações com a segurança entre os alunos judeus, levando várias delegações do Congresso a visitarem o colégio na semana passada e a censurarem os manifestantes.
Por outro lado, vários progressistas foram a campi universitários em seus distritos e arredores para mostrar seu apoio aos manifestantes. Entre eles, os deputados por Nova York Alexandria Ocasio Cortez e Jamaal Bowman, ambos membros do "Esquadrão" progressista, que visitaram a Columbia na sexta-feira.
"As imagens provocativas pintadas pelos republicanos e plataformas supremacistas brancas antissemitas não poderiam estar mais longe da verdade", disse Bowman em comunicado.
O senador democrata de Vermont Bernie Sanders rebateu as afirmações do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e de vários legisladores dos EUA de que os protestos são motivados por antissemitismo.
Sanders disse à CNN que não é antissemita responsabilizar o governo israelense por suas ações em Gaza, onde mais de 34 mil pessoas foram mortas.
Os protestos na Columbia e em outras universidades provavelmente terão destaque no Congresso. A Câmara está programada para votar esta semana pelo menos uma medida de antissemitismo que já está dividindo os democratas da Casa.
Protestos por todo o país
Os manifestantes na Columbia inspiraram protestos pró-Palestina semelhantes em campi universitários por todo o país. Centenas de estudantes foram presos.
As manifestações têm tirado o sossego de importantes universidades dos Estados Unidos, e várias delas chamaram a polícia para remover os acampamentos.
Enquanto as faculdades reprimem, e centenas de estudantes foram presos, os manifestantes sinalizaram que estão preparados para aceitar as consequências para apoiar sua causa.
Uma demanda central de muitos protestos é que as universidades retirem seus fundos de empresas ligadas a Israel que estão lucrando com a guerra em Gaza.
Os protestos na Universidade da Califórnia em Los Angeles cresceram para gritos e escaramuças no domingo (28), à medida que os manifestantes violaram uma barreira de segurança destinada a separar grupos de protesto opostos. A universidade disse estar "desolada" com os confrontos físicos.
Na Universidade Washington, mais de 80 pessoas foram presas no campus no sábado (27), informou a universidade. A candidata presidencial do Partido Verde, Jill Stein, estava entre os detidos.
Cerca de 100 pessoas foram presas no campus da Universidade Northeastern, em Boston, na manhã de sábado, quando as autoridades dispersaram um acampamento não autorizado. Organizadores estudantis estão contestando algumas das alegações da escola sobre o acampamento.
Na Universidade Estadual do Arizona, a polícia prendeu 72 pessoas em conexão com um acampamento no campus, disseram autoridades universitárias.
O número de manifestantes no campus da Universidade George Washington está diminuindo, mas outro grupo ergueu um acampamento com cerca de 20 barracas em uma rua pública próxima.
A Universidade Estadual de Portland disse que vai suspender o recebimento de doações e subsídios da Boeing Company — que tem laços com Israel — até que a faculdade realize um fórum para debater a ética de fazê-lo. O presidente da escola citou as demandas de estudantes e professores em sua decisão de pausar os fundos.
A administração da Universidade da Pensilvânia (UPenn) e os manifestantes estão em desacordo após negociações seguindo dias de protestos pró-Palestina no campus. A universidade pediu para os manifestantes deixarem um acampamento no campus, citando violações das políticas da escola.
Já os alunos que organizam o protesto disseram por meio de uma postagem nas redes sociais que os líderes da universidade consideraram suas demandas "inaceitáveis". Eles afirmam que para a instituição, "fazer bons negócios significa apoiar o genocídio".
"Enquanto as administrações querem nos lembrar que o final do ano letivo traz muitas coisas para celebrar, os estudantes em Gaza não têm acesso a alimentos, água, abrigo e educação. Todas as universidades em Gaza foram destruídas. Continuaremos a testemunhar. Até que essas demandas sejam atendidas, continuaremos ocupando este espaço", dizia a postagem.
Membros do acampamento disseram à CNN que os participantes são de outras universidades próximas de Filadélfia, além da Universidade da Pensilvânia, como a Universidade Temple e a Universidade Drexel.
A Casa Branca se recusou a dizer se o presidente Joe Biden acredita que os manifestantes universitários devem enfrentar ações disciplinares.