“Meu cachorro não me aconselha e está vivo”, escreveu o ex-presidente argentino Alberto Fernández no X, antigo Twitter, na manhã desta quinta-feira (25). A frase foi uma verdadeira invertida a Javier Milei, o atual presidente ultraliberal e de extrema direita da Argentina que em discurso na, assim chamada, Fundación Libertad, chamou o antecessor de “marionete”.
Mas a resposta do ex-presidente de esquerda não versou apenas sobre Conan, o cachorro morto cujo espírito aconselharia Milei. A publicação é bastante extensa e toca em pontos sensíveis tanto do ‘misticismo’ do atual mandatário, como das suas desastrosas políticas.
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“Se o presidente se referiu a mim como ‘marionete’, quero dizer que não sou, nunca fui e nunca serei. Também deve saber que meu cachorro não me aconselha (e está vivo), que as ‘forças do céu’ não me enviam sinais, e que minhas ações e reações são resultado de reflexão, não de alterações psicológicas. Feito este esclarecimento, e entendendo que ele se referiu a um vídeo que postei nas redes sociais no qual apontava quem ‘se beneficiou do modelo empobrecedor do passado’, devo dizer que temo que o presidente ainda esteja se informando pelo Jumbo bot”, escreveu Fernández.
O ex-mandatário se referia a um episódio do começo do mês, em que Milei participava de um programa de rádio e falava sobre a suposta eficácia de seu projeto anti-inflacionário com corte de gastos e aumento da pobreza no país. Em certo momento, para tentar afirmar que os preços estavam abaixando, utilizou uma conta chamada 'Jumbot' no Twitter, que seria uma suposta métrica baseada em preços do supermercado Jumbo online.
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O problema é que nenhum dos números era real. Logo após ser citada por Milei, a conta Jumbot fez uma publicação esclarecendo a fala do presidente. "Esta conta é um experimento social. Nunca analisou preços, nem houve bot que acompanhasse os produtos Jumbo”, disse o perfil.
Feita a piada e a devida invertida, Fernández então usou a postagem para dar esclarecimentos acerca da política economia do seu governo e da atual situação da Argentina.
“O programa acordado com o FMI estabelecia que em 2023 o Estado Nacional deveria refletir um déficit de 1,9%. No final, como consequência da seca e seus efeitos sobre a economia, o déficit fiscal foi de 2,7%. Isso significa que o desvio do programa foi de 0,8 pontos percentuais. Nesse cenário, onde a indústria crescia, o desemprego era o mais baixo dos últimos 38 anos e a obra pública gerava desenvolvimento, a saúde, a educação e a ciência e tecnologia eram financiadas pelo Estado e conduzidas por pessoas experientes nessas áreas. Não havia uma hiperinflação de 15.000%, como ele afirmou ao assumir, nem o déficit era de 15%, como disse antes, ou de 5%, como disse agora”, explanou o ex-presidente.
Por fim, teceu duras críticas ao “plano motosserra” de Milei e reafirmou que o ultraliberal não costuma andar ao lado da verdade.
“Não disse que seu ajuste é insignificante. Disse que o seu ajuste é desumano, brutal e fundamentalmente desnecessário. O insignificante é o falso resultado fiscal que afirma ter alcançado com tal ajuste e que divulgou em uma cadeia nacional vergonhosa. Chega de mentir, Presidente. Já está provado que a mentira tem pernas curtas”, finalizou.