NOVO PARADIGMA

Com Milei e sem Tik Tok, EUA encaram o "eixo do mal"

Guinada da Argentina faz sentido estratégico

Aliança.A aliança contra China, Rússia e Irã é ampla.Créditos: Reprodução de vídeo
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A decisão do governo Milei de formalizar um pedido para ser um parceiro especial da OTAN, apesar de a Argentina ficar a milhares de quilômetros do Atlântico Norte, faz sentido estratégico dentro do novo paradigma que se consolidou em Washington: manter a hegemonia dos EUA diante do chamado "eixo do mal", formado por China, Rússia e Irã.

Foi Barack Obama quem declarou a "pirueta" dos EUA em direção à Ásia, antevendo o espetacular crescimento econômico daquela região, o que pode deixar Washington -- e, certamente, o Brasil -- na periferia global.

De acordo com previsão do Fundo Monetário Internacional, a Índia vai crescer 6,5% em 2024, contra 4,6% da China, 2,1% dos Estados Unidos, 0,9% do Japão e 0,5% da Alemanha.

O "pivot" de Obama deve se consolidar na próxima terça-feira, quando o Senado dos Estados Unidos aprovará um pacote de medidas que muda o paradigma do enfrentamento estadunidense à sua decadência relativa.

O pacote, que passou na Câmara neste sábado, 20, prevê U$ 60,48 bilhões para a Ucrânia, U$ 26 bi para turbinar a economia de Israel e U$ 9 bi para Taiwan.

É o equivalente a U$ 473 bi de reais!

TIK TOK

Também deve passar pelo Senado o projeto, aprovado na Câmara por 360 votos a 58, que prevê o banimento do Tik Tok dos Estados Unidos se a plataforma não romper seus laços com o governo da China.

Outra medida que faz parte do pacote dá ao presidente Joe Biden o poder de confiscar bens da Rússia e transferí-los para o Fundo de Apoio e Compensação da Ucrânia, o que poderia envolver imediatamente U$ 5 bi.

Além de apertar as sanções contra a Rússia e o Irã, os EUA consideram punir a China por supostamente fornecer materiais que ajudam o esforço de guerra de Moscou.

O secretário de Estado Antony Blinken deve levar a mensagem pessoalmente em visita a Beijing.

A maior preocupação chinesa, no entanto, é com as acusações feitas por Washington sobre "superprodução" industrial, que podem resultar em restrições de acesso ao mercado estadunidense.

A agência Xinhua entrevistou o economista Nicholas Lardy, de um think tank baseado em Washington, que falou sobre os riscos das ações de Washington para a economia global:

Então a Boeing deveria cortar sua produção? Os produtores de soja dos EUA deveriam limitar sua produção ao que pode ser vendido dentro dos Estados Unidos? Os EUA parecem ter uma vantagem comparativa nesses produtos, então por que a Boeing e os agricultores dos EUA não deveriam produzir mais do que podem ser absorvido internamente, sendo o “excesso” exportado?

Os EUA se incomodam com o avanço chinês nos setores de alta tecnologia, como os de veículos elétricos, trens de alta velocidade, painéis solares e turbinas eólicas.

A BYD e a Huawei teriam vantagem competitiva por serem subsidiadas pelo governo chinês, argumentam legisladores estadunidenses.

Porém, o Congresso dos EUA aprova anualmente bilhões de dólares em subsídios para a produção agrícola do país.

Outro exemplo: o complexo de empresas do bilionário Elon Musk -- Tesla, SpaceX e outras -- cresceu recebendo bilhões de dólares em incentivos locais, estaduais e federais.

ARGENTINA

É neste contexto que deve ser considerada a guinada da Argentina em busca de uma relação carnal com os Estados Unidos, que inclui a construção de um porto binacional como "porta de entrada" da Antártida e a presença de agentes monitorando a tríplice fronteira entre Brasil-Paraguai e Argentina.

Historicamente, o Brasil sempre defendeu um Atlântico Sul livre da corrida armamentista, o que beneficia Brasília por ser uma das dez maiores economias do planeta.

A integração da Argentina à OTAN, ainda que indireta, dá ao organismo um poder inusitado no Atlântico Sul, considerando que o Reino Unido já controla as ilhas Malvinas, Georgia do Sul e Sanduíche, reivindicadas por Buenos Aires.

Milei busca investimento estrangeiro em seu país dando em troca apoio total aos EUA: já falou em produzir armas para ajudar o esforço de guerra da Ucrânia, está decidido a combater a presença do Irã na América do Sul e comprou caças F-15 de segunda mão da Dinamarca, passando a depender de Washington para treinamento de pilotos e peças de reposição.