Cento e doze deputados republicanos votaram contra a renovação do apoio dos Estados Unidos à Ucrânia, no valor equivalente a R$ 316 bilhões.
São os aliados de Donald Trump, que estão querendo a cabeça do líder da Câmara, Mike Johnson, republicano da Louisiana que agora depende dos democratas para se manter no cargo.
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O bloco da extrema-direita protestou contra o fato de deputados democratas terem acenado com bandeiras da Ucrânia durante a votação.
Só 101 republicanos apoiaram o pacote, que passou por 311 a 112.
Trump diz que, se eleito, pretende acabar com a guerra da Ucrânia no dia seguinte de sua posse, dando prioridade ao combate à imigração ilegal na fronteira dos EUA com o México.
A deputada Marjorie Taylor Greene, da Geórgia, que lidera a oposição a seu colega, resumiu a posição dos trumpistas:
A população não apoia um modelo de negócios baseado em sangue, assassinato e guerra em países estrangeiros, enquanto este mesmo governo não faz nada para proteger as nossas fronteiras. A América por último. Isso é tudo. Todos os dias, a América por último.
Make America Great Again é um dos slogans da campanha de Trump, que promete colocar "a América em primeiro lugar".
Mike Johnson lidera a pequena maioria republicana na Câmara (218-213) e mudou de posição sobre a Ucrânia alegando que prefere dar dinheiro a Kiev do que enviar soldados estadunidenses para lutar contra a Rússia.
Aprovado na Câmara, o texto deve passar no Senado na próxima terça-feira, 22.
INDÚSTRIA ARMAMENTISTA
A política externa dos Estados Unidos é ditada por interesses políticos domésticos mas nas questões de fundo é política de Estado, que independe do governo do turno e é formulada pelo Pentágono, CIA e institutos de pesquisa financiados por lobbies e bilionários em Washington.
O secretário de Estado Antony Blinken, durante sua participação na reunião do G7 em Capri, na Itália, disse que a aprovação do pacote criaria "bons empregos" nos Estados Unidos.
É que os EUA estão dando U$ 9 bilhões diretamente ao governo de Volodymyr Zelensky, num empréstimo que eventualmente não precisa ser pago.
O restante do pacote de U$ 60,84 bi acabará nos cofres do complexo industrial militar dos Estados Unidos, que está presente em todos os distritos eleitorais dos EUA e, com isso, garante amplo apoio no Congresso.
A criação de empregos pode beneficiar a candidatura de Joe Biden à reeleição.
As grandes beneficiárias da "ajuda" à Ucrânia serão a Raytheon e a Lockheed Martin, que produzem o sistema anti-tanque portátil Javelin, o sistema de defesa aérea Patriot, mísseis anti-aéreos Stinger e lançadores de foguetes conhecidos como HIMARS.
As gigantes Boeing e Northrop Grumman também ficarão com um pedaço do bolo, assim como empresas menos conhecidas do público, como a fabricante de munições Olin e a de drones AeroVironment.
Estas empresas não fornecerão apenas à Ucrânia. Elas vão repor os estoques de armas velhas que Washington despachou para Kiev.
AVANÇO NA EUROPA
A ajuda europeia à Ucrânia também trará benefício para a indústria armamentista local, sendo as principais beneficiárias a BAE (Reino Unido), a Thales (França), a Rheinmetall (Alemanha) a Leonardo (Itália), a Saab (Suécia) e a Safran (França).
A maioria destas empresas teve ganhos significativos nas bolsas de valores desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022.
Em 2006, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) definiu como meta que cada um de seus 32 integrantes gastasse ao menos 2% do PIB em Defesa, o que não vinha sendo cumprido pela maioria.
Em 2022, o gasto médio dos países da União Europeia em Defesa foi de 1,3% do PIB, mas depois da invasão russa da Ucrânia a previsão é de que esta porcentagem dispare.
Na Polônia, já foi de 2,4% em 2022, segundo dados do Banco Mundial. Na Alemanha, que registrou 1,2% em 2022, a previsão é de alcance 3,5% do PIB até 2025.
É incerto se os gastos militares e a criação de empregos vão ajudar a enfrentar o baixo crescimento da Europa, que foi fortemente impactada pelo fim da importação de gás barato da Rússia.
No conjunto da obra, a "guerra eterna" na Ucrânia aumenta o poder do guarda-chuva da OTAN e, portanto, dos Estados Unidos sobre a União Europeia e a zona do euro.