O mundo está em pé de guerra. Oriente Médio, África, Eurásia. 2024 está sendo o "ano das três guerras", embora haja muito mais conflitos em curso.
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Para o setor de defesa global, o mundo à beira do abismo é uma chance de ouro para lucrar ainda mais. Um lucro à custa de vidas humanas. Milhares.
Na guerra de Israel contra o povo palestino em Gaza já foram mortas 34 mil pessoas, 80 mil feridas, 8 mil desaparecidas e centenas de milhares de deslocadas em seis meses.
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No conflito entre Ucrânia e Rússia, desde 24 de fevereiro de 2022, os números oficiais de soldados mortos são mantidos em segredo pelos tanto por Moscou quanto por Kiev, que alegam que a divulgação desses dados pode prejudicar o desempenho na guerra.
Estimativas sugerem que as baixas na Rússia e na Ucrânia podem chegar a 700 mil.
No Sudão, desde abril de 2023, quando eclodiu a guerra entre o Exército sudanês e o grupo conhecido como Forças de Apoio Rápido (RSF, da sigla em inglês) deixou milhares de mortos e 8 milhões de deslocados.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU alerta que o conflito no Sudão corre o risco de desencadear "a pior crise de fome do mundo". O país do nordeste da África já sofre a maior crise global de deslocamento.
Em uma única cidade sudanesa, El Geneina, ao longo de cerca de um ano de guerra, entre 10 mil e 15 mil pessoas foram mortas. No total, cerca de 12 mil pessoas foram mortas.
O custo da guerra
O ataque do Irã contra Israel no sábado, 13 de abril, custou, no mínimo, 1 bilhão de dólares. Foram disparados 185 drones, 36 mísseis de cruzeiro e 110 mísseis superfície-superfície.
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Entre esses drones, um dos modelos é o Shahed-136, mais conhecido como "drone suicida". O artefato de 200 kg tem 3,5 metros de comprimento, asas triangulares com largura de 2,5 metros e pode atingir uma velocidade máxima de 185 km/h.O valor estimado é de 20 mil a 40 mil dólares. Com a atual cotação do dólar, no Brasil, o preço chegaria a mais de 200 mil reais.
O Irã provavelmente estava usando um míssil de cruzeiro desenvolvido pelo Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, o Paveh 351. Tem um alcance de mais de 1.200 milhas - muito para chegar a Israel do Irã. Cada um desses mísseis balísticos geralmente custam mais de 100 mil dólares.
As forças israelenses utilizaram duas armas defensivas principais, o Iron Dome (Domo de Ferro) e o Arrow 3, para derrubar a maioria dos mais de 300 drones, mísseis balísticos e mísseis de cruzeiro disparados contra seu território pelo Irã, enquanto outros foram derrubados pelos Estados Unidos e outros aliados.
O Iron Dome tem o custo de produção de cada interceptor entre os 40 mil e 50 mil dólares. Um sistema completo, incluindo os radares, computadores e três a quatro lançadores, custa, por sua vez, cerca de 100 milhões de dólares.
Estima-se que o programa de desenvolvimento da família de sistemas Arrow tenha custado mais de 2 bilhões de dólares, com entre 50% e 80% desse valor financiado pelos EUA.
A interceptação israelense de dezenas de mísseis e drones iranianos durante a noite custou a Tel Aviv até 1,35 bilhão de dólares.
Lucro com a guerra
O ano passado marcou um novo recorde de gastos com a defesa: globalmente, foram gastos cerca de 2 trilhões de dólares e 240 bilhões de dólares, ou 2,2% do PIB mundial, um aumento de 9% em relação ao ano anterior.
Essa dinheirama toda vai para a indústria bélica, formada por empresas como a General Dynamics (GD), uma das maiores do setor de defesa do planeta.
Logo depois do ataque do Hamas contra Israel, no fatídico 7 de outubro de 2023, o vice-presidente executivo da GD, Jason Aiken, projetou que a guerra era um bom negócio para a companhia.
“A situação em Israel obviamente é terrível, e ela está evoluindo neste momento. Mas acho que se observarmos as crescentes demandas em potencial vindas disso, a maior delas vem da artilharia”, disse durante uma conferência sobre os lucros da companhia no terceiro trimestre daquele ano.
No dia seguinte a essa fala de Aiken, começava a operação das Forças de Defesa de Israel na Faixa de Gaza em resposta aos ataques do Hamas que deixaram 1.139 mortos.
O executivo foi preciso na quantidade de artilharia: anunciou que a empresa trabalhava para produzir cerca de 100 mil munições por mês — mesmo número que o Exército israelense admitiu ter usado em Gaza desde o início da guerra, há seis meses.
A demanda foi tamanha que os EUA aprovaram, em dezembro de 2023, a venda de 147 milhões de dólares (753,71 milhões de reais) em munições de 155 milímetros a Israel, em uma das duas únicas operações do tipo reveladas publicamente por Washington.
Alimentando o caos
Com guerras como a da Ucrânia, que demanda uma quantidade de equipamentos poucas vezes vista na história recente, as empresas dos EUA — incluindo a GD — venderam o equivalente a 238 bilhões de dólares (1,22 trilhão de reais) em equipamentos militares, desde munições até aeronaves, sendo que 80,9 bilhões de dólares (414,8 bilhões de reais) em vendas através do governo dos EUA.
Os ingredientes para armar o mundo e incitar o caos são aplicados em várias frentes. Envio de armas para a Ucrânia, incitação ao medo da China, ajuda a Israel. É o sonho dourado da industrial-militar dos EUA.
Há anos esse complexo industrial deseja o cenário desenhado neste momento para lucrar como sempre e mais do que nunca.
EUA financiam Israel para abastecer empresas estadunidense
Israel é o país que mais recebe ajuda financeira e militar dos EUA. Todos os anos, Washington fornece cerca de 3,3 bilhões de dólares (16,43 bilhões de reais) em ajuda a Tel Aviv.
Esse valor é usado para Israel adquirir equipamentos e serviços militares de empresas estadunidenses, além de uma pequena parcela que pode ser destinada a compras internas.
Quando a situação piora, como no caso da guerra em Gaza, o Exército israelense precisa de mais armas, munições e equipamentos.
Os EUA abrem linhas adicionais de financiamento. Oficialmente, duas delas foram aprovadas pela Casa Branca desde o dia 7 de outubro, uma de 106 milhões de dólares (527,8 milhões de reais) e outra de 147 milhões de dólares (732 milhões de reais).
O volume atual de ajuda foi estabelecido no último ano do mandato do presidente Barack Obama, e estipulou o valor de 38 bilhões de dólares (194,84 bilhões de reais), distribuídos ao longo dos 10 anos seguintes.
Os 3,3 bilhões de dólares (16,92 bilhões de reais) em equipamentos militares e 5 bilhões de dólares (25,64 bilhões de reais) destinados a sistemas de defesa aérea, como o Domo de Ferro.
Na prática, se trata de um dinheiro que deverá ser usado, em sua maior parte, na compra de equipamentos militares estadunidenses, gerando lucros para empresas estadunidenses.
No caso dos caças F-35, produzidos pela Lockheed-Martin, outra gigante da defesa nos EUA, aeronave com custo estimado de 77,9 milhões de dólares (399,42 milhões de reais) — a ordem inicial foi de 50 aviões, sendo que 39 foram entregues.
No final de março, o governo de Joe Biden autorizou a venda de mais 25 aeronaves, em uma operação estimada em 2,5 bilhões de dólares (12,82 bilhões de reais). Em 2023, o lucro líquido da Lockheed-Martin foi de 6,9 bilhões de dólares (35,38 bilhões de reais).
Gambiarras para esconder gastos
Essa quantidade enorme de dinheiro gasto com guerras pelos EUA é apenas a ponta do iceberg. Tem muitos gastos que são sigilosos.
A Casa Branca e o Departamento de Estado usam brechas legais para continuar fornecendo armas a Israel, incluindo algumas usadas em bombardeios.
Por exemplo, a bomba MK84, produzida pela GD a um custo individual de 16 mil dólares (82 mil reais). Pesa 900 kg e está ligada a ataques que deixaram dezenas de mortos em Gaza desde o ano passado.
A Casa Branca liberou a venda de 1.800 unidades a Israel. No ano passado, a GD lucrou 3,3 bilhões de dólares (16,92 bilhões de reais).
Lucro para mercadores da morte
Os executivos das empresas do complexo militar também recheiam os bolsos em tempo de guerra. Os salários anuais chegam até 20 milhões de dólares (102,57 milhões de reais).
Dados da American Friends Service Committee mostram que cerca de 50 empresas de vários países além dos EUA, incluindo Israel, lucraram com a guerra em Gaza, desde o fornecimento de uniformes e coletes até bombas guiadas por satélite.
Lucro com ajuda humanitária
As indústrias dos EUA também vendem soluções diante do caos. Empresas comerciais de carga dos EUA também lucram em tempos de guerra e são usadas em transportes de equipamentos para Israel.
Há ainda aumento dos preços dos seguros e os riscos às embarcações levaram a uma alta na procura pelo frete aéreo de cargas não militares.
Até a entrega de ajuda humanitária enche os bolsos da empresas dos EUA. Para tentar amenizar a situação, os estadunidenses começaram a fazer lançamentos aéreos de alimentos e insumos com aeronaves da Força Aérea.
Além disso, foi feito o anúncio por autoridades dos EUA de planos para a construção de um porto temporário em Gaza, como parte de um corredor marítimo com custo estimado de 200 milhões de dólares.
O planejamento está a cargo de uma empresa chamada Fogbow, baseada nos EUA e composta por ex-militares e ex-integrantes do governo estadunidense e organismos internacionais.
Lucro na bolsa
Os EUA concentram 43% do comércio global de armamentos, e as empresas que fornecem material bélico a Israel acumulam lucros e valorização na bolsa de Nova York após o início da ação sionista em Gaza.
Com a guerra na Ucrânia, no ano passado, as cinco principais empresas de armas dos EUA superaram os índices de Wall Street. As ações da Lockheed Martin, Raytheon, Boeing, Northrop Grumman e General Dynamics valorizaram 12,78% após o início da guerra entre Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky.
A Boeing, que fabrica os caças F-15, vendeu em 2020 US$ 2,4 bilhões para Israel por meio do Departamento de Estado dos EUA. Em fevereiro de 2021, a gigante da aeronáutica firmou outro contrato diretamente com o Ministério de Defesa de Israel no valor de US$ 9 bilhões. A Boeing também fabrica as bombas GBU-39 e GBU-31, que são usadas para atacar alvos em Gaza.
Fabricante dos mísseis usados para armar os aviões F-15 e F-35, a RTX (Raytheon Technologies) viu as ações subirem 4% desde o início dos bombardeios pelas forças israelenses. Em 2021, a RTX fechou um contrato de 237 milhões de dólares com o Exército dos EUA para fornecer sensores de radiofrequência para detectar a presença de drones.