Foi durante a noite de domingo (10) que os muçulmanos de todo o mundo rezaram o primeiro taraweeh do Ramadã deste ano. O mês sagrado dos islâmicos é conhecido por ser um período de iluminação, jejum e meditação.
Em Jerusalém, onde fica a Mesquita de Al-Aqsa, os palestinos muçulmanos foram agredidos pela polícia israelense e um clima de tensão se instalou na cidade sagrada. A alguns quilômetros ao sul, em Gaza, mais de um milhão de muçulmanos são confinados em um genocídio operado pelas forças sionistas na região.
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Decidimos conversar com o Sheikh Mohamad al Bukai, imam da Mesquita Brasil, no bairro do Cambuci, que nos recebeu para conversar sobre o tema.
Em sua sala, além do Alcorão e de diversas hadiths, textos sobre a vida do profeta Maomé, estavam a Bíblia, o Livro dos Mórmons e outros textos sagrados.
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No Ramadã, os muçulmanos, além de se absterem de água e comida, são encorajados a fazer as cinco orações diárias exigidas pela religião.
“Todas as orações, todos os momentos, serão também pela Palestina. Vamos rezar pela paz”, afirma.
“Nós, enquanto religiosos, temos como prioridade esta dimensão humanitária, acima de questões políticas ou econômicas. Para nós, o ser humano é sagrado, independentemente de sua religião ou nacionalidade. Acreditamos que a vida é sagrada e que o ser humano é uma criatura nobre, que tem uma coisa divina dentro dele”, completou.
“É uma questão humanitária”
Até o momento, mais de 30 mil palestinos, incluindo 12 mil crianças e 8 mil mulheres, já foram assassinadas pelas Forças de Defesa de Israel. Protestos contra o genocídio em Gaza ocorrem ao redor de todo mundo, mas são mais fortes em países de maioria muçulmana ou com grande comunidade imigrante, à exemplo do Reino Unido.
Existe um conceito corânico no Islam chamado de Ummah. Em diversos textos, canções e artigos, a Ummah é convocada para agir em defesa do povo palestino.
“Ummah quer dizer nação. Portanto, o Islam possui uma característica única: quando alguém se converte ao Islã, e qualquer pessoa pode se tornar muçulmana, as fronteiras e barreiras entre os seres humanos desaparecem. É por isso que buscamos, e também somos ensinados, a ter empatia por qualquer pessoa e a sentir responsabilidade por todos. Não apenas pelos muçulmanos, mas também pelos judeus. Não queremos ver judeus sofrendo”, afirma al Bukai.
“É lógico que vai ter resistência”
O sheikh reitera a opinião dos especialistas de que o conflito israelo-palestino não é religioso, mas territorial e político. Desde 1948, a região tem constantes limpezas étnicas e territoriais contra palestinos cristãos, muçulmanos e de outras religiões.
Vale ressaltar que entidades cristãs da Palestina, como a Igreja Armênia de Jerusalém, estão sendo expulsas da região e pressionadas pelo governo de extrema direita a encerrar suas atividades.
“Como muçulmano, defendo a Palestina, mas não apenas como muçulmano, também como cristão, judeu ou de qualquer outra religião, pois na Palestina há representação de todas as religiões. Estamos contra a invasão e o massacre que está ocorrendo”, explica o Imam. “Não é um conflito religioso. Lá tem uma questão da justiça, tem um território que está ocupado, e lógico que vai ter resistência.”
Para ele, contudo, não é possível falar em paz sem justiça. “Não é possível ter tolerância com a injustiça. Isso é tolerância: não abrir mão do seu direito. Você tem que colocar limite para o injusto e aplicar a justiça”, completa.
O direito internacional reconhece a existência de um Estado palestino pelas resoluções da ONU. O Estado palestino, segundo a ONU, deve ser econômica e socialmente viável e dentro das fronteiras de 1967.
Posição de Lula é humana
O Sheikh Mohamad al Bukai elogiou a posição do presidente Lula sobre o caso.
“A posição de Lula é uma posição humana. Ele deixa de lado o político, ele deixa tudo. Vem dele como ser humano. Sem pensar no seu interesse. Talvez isso prejudique a ele mais do que beneficia, mas vem dele como ser humano. Ele fala da humanidade como ser humano”, diz.
Por fim, o líder religioso convida a todos a orarem pela Palestina e reitera o carinho que as religiões abraâmicas (Islam, Cristianismo e Judaísmo) nutrem por aquelas terras.
“A Palestina é um local que deu origem a grandes figuras que marcaram a história da humanidade: Jesus, Moisés e Maomé. O profeta Abraão está sepultado lá, o profeta Maomé ascendeu ao céu no Monte Moriah, e o profeta Moisés recebeu os mandamentos no Monte Sinai. Além disso, Jesus nasceu na região. Portanto, é uma terra que irradiou o mundo com suas tradições religiosas. É um local abençoado, lamentavelmente assolado por conflitos e violência”, completa o sheikh.