No dia em que o Knesset, o Parlamento de Israel, aprovou por 99 a 21 a decisão do gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de não aceitar a criação de um Estado palestino de maneira "unilateral", está em aberto a competição de autoridades de Israel pela declaração mais bizarra sobre Gaza.
Ontem, o Parlamento só chegou aos 85 votos para cassar o deputado Ofer Cassif, ameaçado de perder o mandato por ter apoiado a África do Sul no pedido para que a Corte Internacional de Justiça decidisse se Israel está ou não cometendo genocídio em Gaza.
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Faltaram cinco votos para a degola do parlamentar de esquerda, que já se declarou contra a ideologia e a prática do sionismo, segundo ele "uma ideologia racista que prega e promove a supremacia judaica".
A frase é do discurso da ministra da Igualdade Social May Golan. Ela quer renomear a pasta que ocupa para incluir os direitos das mulheres:
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Ouça bem, senhor quinta coluna [referindo-se a Ofer Cassif], nem o senhor, nem os seus parceiros que o estão defendendo dentro e fora de Israel importam. Este governo não gagueja. Pode continuar sonhando que vamos terminar esta guerra sem vitória. [...] Estou pessoalmente orgulhosa das ruínas de Gaza e de que cada bebê, mesmo daqui a 80 anos, conte aos seus netos o que os judeus fizeram
Anteriormente, ela já havia dito, em entrevista:
Eu não me importo com Gaza. Pelo que me importa, eles podem cair fora e nadar no mar. Quero ver cadáveres de terroristas cercando Gaza
A "superioridade" de Israel sobre os vizinhos árabes é frequentemente associada à liberdade que mulheres e gays desfrutam na sociedade local.
A ministra Golan, que defende as mulheres e a igualdade, é uma crítica contumaz da imigração, na linha de Donald Trump. Ela já disse que imigrantes africanos deveriam ser barrados de Israel, pois espalhariam AIDS. Criticada, reagiu:
Se sou racista por querer defender o meu país e por querer proteger os meus direitos básicos e a minha segurança, então sou uma racista orgulhosa
No caso que moveu contra Israel na Corte Internacional de Justiça, a África do Sul se baseou em declarações dos próprios líderes de Israel para acusar o país de cometer genocídio.
No final do ano passado, por exemplo, o general Giora Eiland, consultor do governo, escreveu um artigo de jornal pregando a destruição de toda a infraestrutura de Gaza -- como de fato aconteceu.
Sobre o risco de epidemias, escreveu:
“Afinal, epidemias graves na Faixa Sul aproximarão a vitória e reduzirão as fatalidades entre os soldados das Forças de Defesa de Israel
TODOS MORTOS
No debate de hoje, o parlamentar Hanoch Milbitsky se dirigiu a um membro árabe do Parlamento, Ayman Odeh, que votou contra o governo, e disparou:
Vocês morrerão, seus filhos morrerão, seus netos morrerão, não haverá um Estado palestino, nunca haverá
Tanto a ministra quanto Hanoch pertencem ao partido de Benjamin Netanyahu, o Likud.
Os políticos surfam na oposição majoritária dos israelenses a um estado palestino.
São 63% pela pesquisa mais recente, do Instituto pela Democracia, enquanto 73% dos árabes com cidadania israelense apoiam um estado palestino.
Os cidadãos entrevistados concordaram numa coisa: é pequena a chance de uma "vitória total" contra o Hamas, prometida por Netanyahu.
No total, 51%; entre os que se consideram esquerdistas, 84%; entre os centristas, 63%; entre os que se definem como de extrema-direita, 55%.