O Estado de Israel acusou o escritório da Unrwa em Gaza, a Agência da ONU para refugiados, de permitir que militantes do Hamas usassem suas instalações para empreender atividades relacionadas ao projeto político e religioso do grupo. A denúncia dos israelenses aponta 12 funcionários da agência que estariam supostamente envolvidos na Tempestade Al-Aqsa, o ataque do grupo islâmico-palestino, realizado em 7 de outubro contra cidadãos israelenses.
A denúncia rendeu o desfinanciamento da Unrwa em Gaza. Entre os países que retiraram seu dinheiro da agência estão os Estados Unidos e a França, históricos parceiros da Unrwa. A entidade tem cerca de 13 mil trabalhadores e apoia mais de 2 milhões de refugiados em toda a Palestina.
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Para Eylon Levy, porta-voz do governo israelense, a entidade funciona como uma “fachada para o Hamas”. Ele acusa a Unrwa de haver contratado “terroristas” e de liberar as instalações para usufruto do Hamas.
Todas essas informações, que na verdade constam como verdadeira propaganda de guerra israelense, têm sido repetidas sem qualquer contraponto pela mídia hereditária no Brasil e no mundo. Acontece que a fonte inicial dessas informações não é nem um pouco confiável e demasiadamente tendenciosa.
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O suposto escândalo envolvendo a Unrwa foi divulgado pela primeira vez no The Wall Street Journal em artigo assinado por Carrie Keller-Lynn e David Luhnow. O segundo é um mexicano de origem judia que trabalha como editor do referido meio de comunicação, sem grandes novidades. Já a primeira autora é uma suposta “correspondente israelense” do TWS e de uma miríade de outros sites. Ou seja, a pessoa que de fato teria levado essas informações ao editor. Ela já trabalhou para o Times of Israel e para o The Washington Post, entre outros, ao menos conforme divulgado em suas escassas biografias online.
Em entrevista de novembro de 2022 para o canal alemão CIDItv, em que foi chamada para comentar as eleições israelenses, não poupou elogios aos governos anteriores de Benjamin Netanyahu, que teria feito “excelentes acordos” com o Líbano e proporcionado a “segurança” tão desejada pelos israelenses.
Lynn mantém um perfil discreto nas redes. Linkedin Twitter, Instagram e outras são fechados e só pessoas aceitas por ela podem ver seus conteúdos. Mas isso não impediu que fosse verificada uma óbvia característica do seu passado que coloca em dúvidas sua apuração sobre a Unrwa: ela serviu no exército israelense e manteve laços estreitos com uma ex-porta-voz governo, Aliza Landes – com quem aparece abraçada na foto que ilustra essa nota.
Há 12 anos, Aliza era apresentada como a porta-voz da IDF (Israeli Defense Forces) num seminário intitulado “Novos meios de comunicação como arma estratégica”. Em seu discurso, dado em inglês para a plateia, falou sobre como tornar as informações sensíveis ao Estado de Israel interessantes para serem compartilhadas por blogueiros e usuários de redes sociais. Em seu rápido discurso, devidamente fardada, discorreu sobre como a informação e a forma como ela será encarada são verdadeiras "armas estratégicas". Aparentemente tem feito a lição de casa.
Resta uma dúvida, colocada por uma das fontes da Revista Fórum na Palestina, que permanecerá anônima: "Foi com base nas informações Lynn que os estados ocidentais, incluindo a França e os EUA, retiraram o seu apoio à UNRWA?"