ATAQUE TERRORISTA

Alemanha: sobe para 5 o número de mortos em ataque a mercado de Natal

Autor do crime é um saudita anti-islâmico apoiador do AfD, partido alemão de extrema direita associado a grupos neonazistas

5 morrem em ataque terrorista a mercado de Natal na Alemanha.Créditos: Reuters/Folhapress
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De BERLIM | O número de mortos no ataque terrorista ocorrido em um mercado de Natal em Magdeburg, cidade alemã situada a 150 km de Berlim, subiu para cinco, informou na manhã deste sábado o governador da Saxônia-Anhalt, Reiner Erich Haseloff. Segundo autoridades locais, mais de 200 pessoas ficaram feridas, muitas delas em estado grave.

Na tarde desta sexta-feira (20), um carro em alta velocidade invadiu o mercado de Natal e atropelou centenas de pessoas. O motorista, autor do ataque, foi preso pela polícia no local.

O caso chocou o mundo e gerou pânico na população alemã. Inicialmente, suspeitou-se que o responsável fosse um radical islâmico. Contudo, após sua identidade ser revelada, constatou-se que se tratava de um saudita extremista de direita e islamofóbico.

Até o momento, a motivação para o ataque não foi esclarecida. A polícia alemã informou que as investigações indicam, até agora, que o criminoso agiu sozinho. Detido, ele foi submetido a um teste toxicológico, que revelou a presença de entorpecentes no momento do ataque.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, visitou o local na manhã deste sábado acompanhado de ministros de seu governo e prestou homenagens às vítimas.

"Todo o nosso país está de luto com Magdeburg. É terrível quantos foram mortos e feridos aqui, num mercado de Natal alegre, com uma brutalidade inacreditável. Desejo a todas as vítimas e às suas famílias força e uma rápida recuperação do corpo e da alma", declarou Scholz.

Autor do ataque é islamofóbico e apoiador da extrema direita alemã

O autor do ataque foi identificado como Taleb Al-Abdulmohsen, de 50 anos. Nascido na Arábia Saudita, ele vive legalmente na Alemanha desde 2006 e trabalha como médico em uma penitenciária em Bernburg, a 50 km de Magdeburg.

Nos últimos anos, Al-Abdulmohsen publicou diversas mensagens anti-islâmicas nas redes sociais, acusando o governo alemão de liderar um suposto plano para "islamificar" a Europa. Ele se autodenomina "o maior crítico do Islam da história".

Em 2019, o saudita concedeu uma entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, na qual afirmou que "não existe o bom Islã".

Nas redes, além de mensagens islamofóbicas, ele demonstrava apoio ao partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), conhecido por suas ligações com ideias e grupos neonazistas.

Peter Neumann, especialista alemão em terrorismo, declarou à imprensa local que o contexto do ataque foi surpreendente.

"Depois de 25 anos neste 'negócio', achava que nada mais poderia surpreender. Mas um saudita ex-muçulmano de 50 anos que vive na Alemanha, adora o AfD e quer castigar a Alemanha pela sua tolerância para com os islamitas – isso não estava no meu radar", afirmou.

AfD, o partido de extrema direita apoiado pelo terrorista 

A Alemanha tem observado o crescimento alarmante da extrema direita, representada pelo partido Alternativa para a Alemanha (AfD). Fundado em 2013, a legenda conseguiu uma cadeira no parlamento pela primeira vez em 2017 e atualmente conta com 77 deputados, sendo a quarta maior força política do país.

Trata-se de uma organização ultrarradical que abriga os membros mais extremistas da Alemanha. O AfD defende abertamente ideias xenofóbicas, racistas, segregacionistas e violentas. A principal plataforma política são projetos antimigração, permeada de retóricas ultranacionalistas que remetem ao nazismo. Diversos membros do partido, inclusive, já tiveram comprovadamente relações com grupos neonazistas e já fizeram falas com tal teor. 

Desde 2021, o partido está sob vigilância do serviço de inteligência interno da Alemanha, o BfV, por tentar enfraquecer a constituição democrática. 

Recentemente, o AfD foi o partido mais votado na eleição regional da Turíngia, tornando-se a primeira legenda de extrema direita a vencer um pleito estadual desde o regime nazista. Também garantiu a segunda maior bancada na Saxônia e em Brandemburgo.

O crescimento do AfD está diretamente relacionado à crise política enfrentada pelo governo de Olaf Scholz, que recentemente perdeu uma moção de confiança no parlamento, culminando na antecipação das eleições gerais para fevereiro de 2025. A postura crítica do AfD em relação à União Europeia e ao euro ganha força em meio às dificuldades econômicas que impactam a população alemã. Enquanto o governo de Scholz enfrenta dificuldades para avançar com reformas, o AfD se aproveita do descontentamento generalizado, apresentando-se como alternativa para eleitores que veem no partido uma maneira de protestar contra o status quo e a paralisia do governo.

Pesquisas recentes apontam que, se as eleições gerais fossem hoje, o partido conservador CDU, liderado por Friedrich Merz, venceria com mais de 30% dos votos, enquanto o AfD surgiria como a segunda maior força política, com cerca de 20%.

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