De BERLIM | A polícia alemã deflagrou uma operação na manhã desta terça-feira (5), resultando na prisão de oito suspeitos de integrarem um grupo nazista que planejava tomar o poder por meio de um golpe com ataques terroristas. Entre os presos está um político do Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão), partido de extrema direita com representação no Bundestag (o Parlamento Alemão) e que, em alguns estados, é monitorado pelos serviços de inteligência por representar uma "ameaça à democracia".
Sete das oito prisões ocorreram nas cidades de Leipzig, Dresden e Meissen, no leste alemão, enquanto outro suspeito foi detido em Zgorzelec, na Polônia, próximo à fronteira com a Alemanha. O Ministério Público alemão identificou os presos como Kurt H., Karl K., Kevin M., Hans-Georg P., Kevin R., Jörg S., Jörn S. e Norman T.
Te podría interesar
O grupo nazista, chamado "Separatistas Saxônicos", está ativo desde 2020 e, segundo os investigadores, ainda possui outros membros que estão sendo procurados.
"Trata-se de um grupo militante composto por quinze a vinte pessoas cuja ideologia é moldada por ideias racistas, antissemitas e parcialmente apocalípticas”, declarou o Ministério Público em comunicado.
As autoridades alemãs informaram que o grupo realizava treinamentos paramilitares e pretendia pegar em armas para realizar um golpe de Estado, com o objetivo de tomar o poder em algumas regiões da Alemanha por meio de ataques terroristas e promover uma "limpeza étnica".
De acordo com o Ministério Público, os suspeitos planejavam "usar armas para conquistar áreas na Saxônia e possivelmente em outras regiões da Alemanha Oriental, a fim de estabelecer um estado e uma sociedade alinhados com o nacional-socialismo [nazismo]".
Mais de 450 homens, entre agentes da polícia e forças especiais, foram mobilizados para executar as prisões e realizar buscas em aproximadamente 20 locais na Alemanha, Polônia e Áustria.
A ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, celebrou nas redes sociais a prisão dos suspeitos e o desmantelamento do grupo nazista.
"As nossas autoridades de segurança desmantelaram um grupo suspeito de terrorismo, composto por militantes extremistas de direita. Um importante sucesso investigativo que foi possível graças ao trabalho do BfV [Escritório Federal para a Proteção da Constituição] e do BKA [Escritório Federal de Polícia Criminal]. Agradecimentos aos policiais e forças especiais da Polícia Federal pelo empenho", escreveu a ministra.
AfD e neonazismo
A Alemanha vem observando um crescimento assustador da popularidade da extrema direita, representada pelo partido Alternativa Para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão). A legenda foi fundada em 2013 e conseguiu uma cadeira no parlamento alemão, pela primeira vez, em 2017 – hoje, já são 77 deputados, sendo a quarta maior força política local.
Trata-se de uma organização ultrarradical que abriga os membros mais extremistas da Alemanha. O AfD defende abertamente ideias xenofóbicas, racistas, segregacionistas e violentas. A principal plataforma política são projetos antimigração, permeada de retóricas ultranacionalistas que remetem ao nazismo. Diversos membros do partido, inclusive, já tiveram comprovadamente relações com grupos neonazistas e já fizeram falas com tal teor.
Björn Höcke, uma das principais lideranças do AfD, por exemplo, foi denunciado pelo Ministério Público alemão em 2023 por utilizar linguajar nazista ao dizer que a política migratória do país "nada mais é que a eliminação do povo alemão", usando o slogan nazista Alles für Deutschland ("tudo pela Alemanha"). Mais recentemente houve o caso de Maximilian Krah – líder do partido que relativizou o nazismo ao afirmar, em entrevista, que os membros da Schutzstaffel (SS), a força paramilitar do regime nazista, “não eram todos criminosos”.
Desde 2021, o AfD é monitorado pelo serviço de inteligência interno da Alemanha, o BfV, por tentativa de enfraquecer a constituição democrática do país.
Pesquisas recentes revelam que o AfD já tem o apoio de cerca de 24% dos alemães, o que o torna o segundo partido mais popular do país, atrás apenas do CDU, legenda da ex-chanceler Angela Merkel.