INTERFERÊNCIA

Como Elon Musk quer turbinar a extrema direita britânica

Dirigentes da legenda Reform UK apontam que bilionário poderia fazer um aporte financeiro que desequilibraria o jogo a favor dos extremistas

Musk acena que pode interferir no processo político do Reino UnidoCréditos: Imagem retirada do vídeo
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Nesta segunda-feira (16), o líder do partido britânico de extrema-direita Reform UK, Nigel Farage, se encontrou com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, em seu resort na Flórida. E também conversou com o bilionário Elon Musk.

A legenda está em "negociações abertas" com Musk para obter uma "doação substancial", segundo o hoje parlamentar britânico. "Inevitavelmente, após uma especulação mediática tão intensa, a questão do dinheiro foi discutida e haverá negociações em curso sobre essa matéria", disse ele.

As informações da imprensa europeia apontam que o bilionário estaria pensando em se tornar o maior doador da história, com um suposto aporte de £ 80 milhões (pouco mais de R$ 633 milhões).

Musk está em guerra contra o governo comandado pelo Partido Trabalhista. Em agosto, quando houve protestos violentos na Grã-Bretanha comandados por militantes da extrema direita, ele fez uma postagem no X, o ex-Twitter, alegando que "a guerra civil é inevitável" e descrevendo o primeiro-ministro, Keir Starmer, como um "Keir de duas camadas". O bilionário se referia à narrativa extremista de que a polícia estava tratando os "manifestantes" brancos de extrema direita com mais severidade do que os grupos minoritários.

No mês passado, Musk compartilhou um post no X afirmando que o Reform UK iria ganhar as próximas eleições gerais do Reino Unido.

Legislação britânica

As leis eleitorais do Reino Unido estipulam que todos os donativos e empréstimos realizados a partidos políticos de valor superior a 500 libras só podem ser feitos por doadores registrados no país.

Para contornar o problema, o bilionário, que é sul-africano e vive nos Estados Unidos, poderia recorrer ao braço britânico do X para fazer uma doação à legenda ultraconservadora. O pai de Musk, Errol, diz que seu filho é "elegível para a cidadania britânica", pois a sua avó era do Reino Unido.

O colunista do The Independent, Andrew Grice, apontou que a legislação precisa ser repensada para evitar esse tipo de abuso. "Chegou a hora de um teto, pois a economia das campanhas políticas mudou drasticamente desde que as regras do Reino Unido foram escritas em 2000. Uma doação de grandes somas como a de Musk permitiria que o Reform UK promovesse uma blitz de publicidade online massiva, visando grupos difíceis de alcançar, como jovens adultos, antes que os limites de gastos do partido entrassem em vigor 12 meses antes da próxima eleição. Os outros partidos não conseguiriam competir", analisa.

"A hipocrisia de Musk é clara. Ele está preparado, ao que parece, para interferir nas eleições do Reino Unido para inclinar o campo de jogo enormemente a favor do Reform UK. No entanto, ele gritou interferência estrangeira “ ilegal ” quando assessores do Partido Trabalhista foram aos EUA para apoiar a campanha dos democratas contra Trump na eleição deste ano", aponta o jornalista.

No Parlamento, pela primeira vez

Nas eleições de 2024, pela primeira vez, após oito tentativas, Nigel Farage obteve um assento no Parlamento. Antes, ele havia sido eurodeputado, eleito em 1999, e foi reeleito três vezes, até 2020. Dirigiu o Ukip, partido que antecedeu o Reform UK, de 2006 a 2016, exercendo pressão sobre o primeiro-ministro conservador David Cameron, que organizou o referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia em 2016.

Apesar de ser o oitavo partido com maior número de assentos, com cinco, o Reform UK foi o terceiro mais votado, com 14,3% dos votos, tendo assegurado pela primeira vez presença no Parlamento. Na votação, ficou atrás apenas dos trabalhistas (33,7%) e dos conservadores (23,7%).

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