Desde 1991, a Somalilândia se tornou uma região autônoma da Somália, mas sua independência não é reconhecida por qualquer governo estrangeiro. Contudo, o cenário pode mudar com Donald Trump assumindo a presidência dos Estados Unidos e o reconhecimento um novo país no continente africano pode se tornar uma realidade.
Os republicanos são críticos da política “One Somália”, que tem sido apoiada pelo Departamento de Estado dos EUA na gestão do atual presidente Joe Biden e segue a linha de que a Somalilândia é parte da Somália. Segundo o Semafor Africa, após a eleição de 13 de novembro, somalilandeses disseram que estavam confiantes de que o retorno de Trump à Casa Branca ajudaria nas suas aspirações por independência.
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"Temos uma oportunidade de ouro de estar mais próximos, se não por reconhecimento total, mas por um envolvimento muito mais próximo com os EUA", afirmou ao site Bashir Goth, que lidera a missão da Somalilândia em Washington.
Ainda que não seja reconhecido como país, pode haver uma condição melhor do que a existente hoje na gestão do republicano. "Mesmo que os Estados Unidos continuem despreparados para reconhecer a Somalilândia, eles devem retornar à política do passado e tratá-la de uma forma que seja paralela à sua abordagem a Taiwan", defende o historiador Michael Rubin, neste artigo.
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"Taiwan é um importante parceiro econômico, diplomático e, cada vez mais, militar. Os Estados Unidos mantêm uma presença formal no país e hospedam uma embaixada taiwanesa sombra em Washington", aponta, sugerindo que a postura norte-americana poderia ser semelhante no caso africano.
Tensão no Chifre da África
Posicionada ao longo do Golfo de Áden, a Somalilândia está perto da entrada do Estreito de Bab al-Mandeb, uma importante rota marítima pela qual passa quase um terço do transporte marítimo mundial. A região atrai governos estrangeiros que buscam parcerias para ter acesso ao mar e presença local no chamado Chifre da África, que engloba Eritreia, Etiópia, Djibuti e Somália.
Localmente, o acesso ao oceano serviu para um acordo anunciado em janeiro deste ano com a Etiópia, maior país africano sem litoral, com uma área equivalente ao tamanho da França e da Espanha juntas. Pelo tratado, os etíopes vão obter um arrendamento de 50 anos de uma faixa de terra na costa do Mar Vermelho da Somalilândia para uso naval e comercial marítimo do porto de Berbera.
Após uma guerra de três décadas, a Etiópia perdeu o território que hoje forma a Eritreia, independente desde 1993, e perdeu o acesso à costa marinha. Atualmente, o país tem dependido exclusivamente dos portos do pequeno vizinho Djibouti para acessar o Golfo de Áden.
Pelo acordo com os etíopes, a Somalilândia fica com uma parte da Ethiopian Airlines e também passa a ter o compromisso assumido pelo país vizinho de estudar o seu reconhecimento como um Estado soberano, o que tornaria o governo etíope o primeiro a fazê-lo. A partir daí, outros países poderiam seguir o mesmo caminho, acreditam as autoridades da região autônoma.
Naturalmente, a Somália foi e ainda é a maior oponente do acordo. Ainda que não tenha jurisdição sobre a Somalilândia, o país chegou a anunciar inclusive que defenderia o que considera ser seu território contra uma "agressão" etíope.
A Eritreia e o Egito, um rival histórico da Etiópia, também apoiam a Somália. Isso ocorre principalmente porque suas relações com a Etiópia foram marcadas por conflitos.
Os interesses das potências estrangeiras
A realização do acordo, que ainda não entrou em vigor, envolve ainda outros Estados. Parceiros da Somalilândia, os Emirados Árabes Unidos ergueram a infraestrutura e administram o porto de Berbera, e estão hoje entre os maiores investidores estrangeiros no continente. Já a Turquia assumiu a gestão do aeroporto e do porto marítimo em Mogadíscio, na Somália, abrindo sua primeira base militar externa no país.
O governo turco, junto com os EUA, treinou forças especiais na Somália. A parceria dos estadunidenses com Mogadiscío, aliás, é um complicador a mais para uma eventual mudança de posicionamento do governo Trump em relação à região autônoma, já que os estadunidenses mantêm militares na Somália.
Comercialmente, o acordo também enfrenta oposição do Djibouti e da China. O porto marítimo de Djibouti processa mais de 80% do comércio exterior da Etiópia e o uso do porto de Berbera deve reduzir o volume de comércio movimentado por ali. O governo chinês apoia o desenvolvimento do porto de Djibouti e opera uma zona de livre comércio internacional e financia a modernização de uma ferrovia para a Etiópia.
Com informações do Council on Foreign Relations