Dmitri Peskov, porta-voz do presidente russo Vladimir Putin desde 2008, fez uma declaração sobre o Brasil e as relações entre a Rússia e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que promete irritar o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Peskov elogiou Lula e afirmou que a Rússia "ama" o Brasil. A declaração ocorre em um contexto de aproximação entre Zelensky e parlamentares brasileiros de extrema direita, além de críticas do presidente ucraniano à postura de neutralidade de Lula na guerra entre Rússia e Ucrânia.
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“Nós sabemos que o presidente Lula é a favor do desenvolvimento das nossas relações e do diálogo sobre temas complexos e difíceis”, disse Peskov.
"O Brasil é um parceiro comercial e econômico muito importante para nós. Esperamos que a nossa cooperação aumente, apesar de todos os obstáculos e dificuldades existentes. O que muitas vezes nos une também é uma visão similar do mundo e da essência das relações internacionais. Putin e Lula se falam bastante e discutem sobre isso em suas conversas. Por isso estamos juntos em organizações como o BRICS", afirmou.
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Peskov foi ainda mais enfático em seu tom elogioso: “Nós gostamos muito do Brasil, nós amamos o Brasil. E contamos com a reciprocidade do Brasil”.
Ele também expressou apoio à entrada do Brasil no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU):
“Nós estamos convencidos de que o Brasil tem direito natural à entrada no Conselho de Segurança e apoiamos verdadeiramente o Brasil. O processo de reformulação do Conselho é bastante complicado e duradouro, dificultado hoje pela situação mundial que vivemos. Mas quando falamos em um mundo multipolar, é verdadeiramente multipolar”, pontuou.
Zelensky e a extrema direita brasileira
As declarações de Peskov, especialmente os elogios a Lula e à relação com o Brasil, contrastam com os esforços de Volodymyr Zelensky para obter apoio explícito do governo brasileiro à Ucrânia desde o início da guerra, em 2022.
Lula, no entanto, mantém uma relação fria com Zelensky por adotar uma postura de neutralidade e defender que um acordo de paz só será possível com a inclusão da Rússia nas negociações.
Descontente com a posição do governo brasileiro, Zelensky tem buscado se aproximar da oposição a Lula, particularmente de parlamentares de extrema direita. Entre os nomes destacados estão os senadores Sergio Moro (União Brasil-PR), Damares Alves (Republicanos-DF) e Magno Malta (PL-ES), que participaram da conferência “Ucrânia e os Países da América Latina e do Caribe: Cooperação para o Futuro”, a convite de Zelensky. O evento tem como objetivo angariar apoio político na América Latina para a causa ucraniana na guerra contra a Rússia.
Neste sábado (30), Moro divulgou um vídeo nas redes sociais no qual presta apoio a Zelensky, condena a invasão russa e afirma que "o Brasil apoia a Ucrânia".
“A população brasileira apoia a causa da Ucrânia e repudia claramente a agressão vinda da Rússia. Por mais que tenhamos também relações amigáveis históricas com a Rússia, entendemos que essa é uma guerra de agressão, injusta contra a Ucrânia (...) Quero dizer que a posição do atual presidente Lula não reflete o sentimento de solidariedade da maioria da população brasileira", declarou o senador.
Em sua postagem, Moro reforçou a crítica à posição de Lula: “Na conferência com o Presidente Zelensky, disse a ele o que todo brasileiro gostaria de dizer: o Brasil apoia a Ucrânia, o povo brasileiro é contra a agressão russa e a posição de Lula não representa o sentimento do povo brasileiro”.
Repercussão negativa
A declaração de Moro, contudo, gerou uma reação negativa nas redes sociais. A maioria dos comentários criticou a tentativa do senador de falar em nome do povo brasileiro.
“Você não está falando pelo povo brasileiro. Até porque você NUNCA representou os interesses nacionais”, escreveu uma internauta. Outro usuário comentou: “Não autorizei falar por mim, toma vergonha”. Comentários semelhantes se multiplicaram na postagem.
Damares Alves, por sua vez, publicou uma declaração sem qualquer sentido, sugerindo que há um “regime comunista” na Rússia com o qual o governo brasileiro estaria "flertando".