Usando especialmente o X, de Elon Musk, apoiadores de Donald Trump estão associando Kamala Harris ao diabo na reta final da campanha.
Em 10 de agosto deste ano, a democrata fez uma aparição em Las Vegas, Nevada. Sobre o ombro dela, as luzes incidiram nos olhos de uma apoiadora negra. Por isso, os olhos da mulher ficaram brancos no vídeo.
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Bastou para dar início à onda de fake news de que o diabo em pessoa estava presente em um evento de Kamala.
O assunto chegou a um tabloide sensacionalista britânico, o Daily Star, que manchetou: "Mulher 'demoníaca' filmada em comício de Kamala Harris no momento em que republicanos temem esquerda satânica".
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Em 2016, concorrendo contra Hillary Clinton, Trump usou a mesma tática que aplica agora: a demonização de uma mulher, forma de canalizar o machismo e a misoginia de eleitores homens.
Famosamente, ele se referiu a Hillary como "corrupta" e prometeu prendê-la em todos os comícios.
Os republicanos contam com uma vantagem significativa no voto masculino para enfrentar a vantagem de Kamala Harris entre as mulheres.
Na Pensilvânia, as chances de Trump repousam no fato de que eleitoras chefe de família enfrentam problemas econômicos, como o preço dos alimentos. Por isso, a vantagem de Kamala entre as eleitoras pode ser menor que a necessária para vencer no estado.
Anticristo e Jezebel
O uso do diabo na campanha foi propagado no comício gigantesco que Donald Trump promoveu no Madison Square Garden, em Nova York, quando David Rem se referiu a Kamala como "o anticristo".
Rem foi apresentado como amigo de infância de Trump, mas é mentira. Eles estudaram na mesma escola, mas com 17 anos de diferença.
Esta retórica traz à memória a demonização de mulheres negras no Sul dos Estados Unidos, que acompanhava o estupro e a morte delas em ataques de fundo racial.
De acordo com a Associated Press, líderes evangélicos associados ao nacionalismo cristão tem se referido a Kamala Harris como tomada pelo "espírito de Jezebel".
Segundo o Velho Testamento, Jezebel era uma mulher promíscua perseguida pelos profetas e teve o corpo comido por cães.
Lance Wallnau, pastor evangélico associado à Nova Reforma Apostólica, disse a respeito de Kamala:
Com Kamala você tem um espírito de Jezebel. A personificação da intimidação, sedução, dominação e manipulação. Um amálgama do espírito de Jezebel que será ainda mais ameaçador que Hillary [Clinton], porque ela trará um componente racial e é mais jovem.
O uso do diabo para atacar Kamala vem no momento em que o jornalista Tucker Carlson deu depoimento a um documentário narrando um episódio em que diz ter sido atacado pelo diabo quando dormia com a mulher e seus cães.
Tucker fez várias aparições com o republicano ao longo da campanha.
Em comícios, Trump é frequentemente cercado por pastores evangélicos, alguns dos quais o associam à figura de Jesus.
O candidato, que agora tem apoio do católico Robert F. Kennedy Jr., tem denunciado sem qualquer base factual que Kamala Harris e os democratas perseguem católicos.