Nesta quarta-feira (20), em meio a protestos de agricultores franceses que se opõem à assinatura do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, por verem ameaçadas suas atividades econômicas em vista de uma maior penetração das commodities agroexportadoras do bloco, uma gigante nacional do varejo cedeu a pressões internas e anunciou que não comprará mais carnes provenientes de países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai).
O presidente global do Carrefour, Alexandre Bompard, anunciou a decisão por meio de uma carta enviada a Arnaud Rousseau, presidente da Federação Nacional dos Sindicados de Agricultores da França (FNSEA), atendendo às demandas do setor.
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A França é um dos principais destinos de carne bovina do Mercosul, com importações que somam cerca de 99 mil toneladas anuais de carne proveniente desses países. Pelo menos 80% de toda a carne importada pelo bloco europeu, ademais, vem do bloco sul-americano.
Mas setores agrícolas franceses têm sido um grande empecilho na assinatura de um acordo que tornaria o setor ainda mais flexível à importação. O argumento usado também tem migrado para as questões ambientais, e a França exerce pressão sobre o Brasil por seu "não atendimento" das metas propostas pelo bloco nessa área.
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O acordo entre União Europeia e Mercosul tem enfrentado dificuldades no alcance de um lugar comum para suas negociações desde a primeira vez em que foi proposto, em 1995.
Inicialmente estabelecido como uma forma de liberalizar o comércio e aumentar a cooperação entre os países sul-americanos e o bloco europeu, o acordo tinha a intenção de reduzir tarifas e integrar mercados, com benefícios ao primeiro setor do Brasil, um exportador de commodities-chave para o bloco, e barateamento dos setores industriais de consumo dos europeus.
Ao longo de 2010, as negociações se seguiram com maiores pressões por parte da UE para a flexibilização do mercado agrícola do Mercosul, enquanto os países latino-americanos pediam por mais acesso aos mercados de serviços e investimentos do bloco europeu.
Finalmente, em 2019, um acordo preliminar foi adotado, que previa a redução de tarifas nas trocas comerciais entre os blocos, a eliminação de barreiras técnicas e, o mais importante, a adoção de critérios ambientais exigentes, delimitados pela UE — especialmente apoiados pela França — para um maior compromisso com a sustentabilidade.
Os produtos brasileiros que interessam ao acordo são, no entanto, extensivos na agricultura: a soja, o café e as carnes são algumas das principais pautas exportadoras, alvos de questões polêmicas no campo das legislações sanitárias e ambientais.