GOVERNO EM COLAPSO

Alemanha antecipa eleições em meio à crise política; extrema direita vem com força

Coalizão liderada por Olaf Scholz, que comandava a maior economia da Europa desde 2021, foi desfeita após demissão do ministro das Finanças

O chanceler alemão Olaf Scholz, que deve ter governo abreviado com convocação de eleições antecipadas.O chanceler alemão Olaf Scholz em discurso no parlamento federalCréditos: Tobias Koch/Bundestag/Divulgação
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De BERLIM | O Partido Social-Democrata Alemão (SPD), legenda do chanceler Olaf Scholz, entrou nesta terça-feira (12) em um acordo com o principal partido de oposição, o conservador CDU, sigla da ex-chanceler Angela Merkel, para antecipar as eleições ao parlamento federal (Bundestag). O pleito, que inicialmente estava marcado para setembro de 2025, deve ocorrer mais de 7 meses antes, em 23 de fevereiro. 

A decisão vem em meio à grave crise política que assola a Alemanha e que culminou no colapso total do atual governo. A crise escalou a última quarta-feira (6), quando Scholz demitiu o ministro das Finanças do país, Christian Lindner, acusando-o de quebra de confiança.

Lindner pertence ao FDP, o Partido Liberal Democrático, que até então compunha a coalizão de governo junto ao Partido Social-Democrata (SPD) de Scholz e com Os Verdes (Die Grüne). A aliança improvável entre as três legendas, apelidada de "semáforo" por conta das cores vermelho (SPD), amarelo (FDP) e verde (Die Grüne), teve início em 2021 e governa a maior economia da Europa desde então. 

Scholz demitiu Lindner pelo fato do agora ex-ministro das Finanças se opor à política econômica dos sociais-democratas. Enquanto o chanceler defende um orçamento mais robusto para 2025 e maior intervenção estatal, Lindner segue a cartilha liberal e propõe a intervenção estatal mínima, além de cortes no orçamento e em benefícios sociais. 

Após a demissão de Lindner, os outros ministros do FDP que compunham o governo Scholz renunciaram ao seus cargos e, desta maneira, a coalizão governista ruiu e o chanceler deixou de ter maioria no parlamento, ficando em uma situação extremamente frágil e correndo o risco de ver seu mandato ser interrompido de forma antecipada. 

Diante da crise política, Scholz decidiu se submeter a um "voto de confiança" no Bundestag em 16 de dezembro. Caso ele perca, o presidente Frank-Walter Steinmeier, que tem poderes mais limitados, poderá decidir pela dissolução do parlamento e pela convocação de novas eleições. No entanto, essa data ainda não foi confirmada oficialmente.

Se a situação se desenrolar dessa maneira, Steinmeier precisaria decidir sobre a dissolução do Parlamento já próximo ao Natal. De acordo com a Constituição alemã, ele teria até 21 dias para tomar essa decisão. Em seguida, entra em vigor o prazo de 60 dias para a realização das eleições, o que levaria à realização do pleito 23 de fevereiro. Após o rompimento da coalizão governista, Steinmeier enfatizou que poderia viabilizar a dissolução do Parlamento, afirmando que a Alemanha "precisa de maiorias estáveis e de um governo com capacidade de ação. Esse será meu critério de avaliação”.

Entenda a crise política na Alemanha 

Na noite da última quarta-feira (6), o chanceler Olaf Scholz decidiu demitir o ministro das Finanças do país, Christian Lindner, acusando-o de quebra de confiança. Lindner pertence ao FDP, o Partido Liberal Democrático, que até então compunha a coalizão de governo junto ao Partido Social-Democrata (SPD) de Scholz e com Os Verdes (Die Grüne). 

Scholz demitiu Lindner pelo fato do agora ex-ministro das Finanças se opor à política econômica dos sociais-democratas. Enquanto o chanceler defende um orçamento mais robusto para 2025 e maior intervenção estatal, Lindner segue a cartilha liberal e propõe a intervenção estatal mínima, além de cortes no orçamento e em benefícios sociais. 

As propostas de Lindner foram interpretadas por Scholz como uma provocação e o chanceler considerou sua permanência no governo insustentável. 

"Por várias vezes, o ministro Lindner bloqueou leis de maneira irrelevante. Por várias vezes, seguiu por táticas partidárias mesquinhas. Por várias vezes, quebrou minha confiança. Ele chegou até a se retirar unilateralmente do acordo orçamentário, depois de já termos chegado a um consenso em longas negociações. Não há qualquer base de confiança para uma futura cooperação. Não é possível trabalhar seriamente com o governo dessa forma", disparou Scholz em discurso no Bundestag. 

Lindner, por sua vez, acusou o chanceler de falhar na capacidade de reformular a economia do país e de colocar a Alemanha em um caminho de "incertezas'. 

"Olaf Scholz há muito tempo não reconhece a necessidade de um novo impulso econômico para o nosso país. Ele minimiza há tempos as preocupações econômicas dos nossos cidadãos. Mesmo agora, está questionando as decisões necessárias para que os cidadãos possam voltar a se orgulhar da Alemanha. Suas contrapropostas são repetitivas, pouco ambiciosas e não ajudam a superar a fraqueza fundamental do crescimento no nosso país, para que possamos manter nossa prosperidade, nossa segurança social e nossa responsabilidade ecológica", declarou. 

Após a demissão de Lindner, os outros ministros do FDP que compunham o governo Scholz renunciaram ao seus cargos e, desta maneira, a coalizão governista ruiu e o chanceler deixou de ter maioria no parlamento, ficando em uma situação extremamente frágil e correndo o risco de ver seu mandato ser interrompido de forma antecipada. 

A oposição ao governo, representada em sua maior parte pelos conservadores do CDU (União Democrata-Cristã da Alemanha), entrou em campanha pela convocação de eleições antecipadas no país logo após o rompimento da coalização governista. 

"A Alemanha precisa de novas eleições – agora. Estamos prontos para assumir a responsabilidade pela Alemanha. Apelamos ao chanceler para que levante um voto de confiança no Bundestag alemão na próxima semana e, assim, abra caminho para novas eleições antecipadas", diz comunicado divulgado pela legenda. 

Extrema direita vem com força

A crise política na Alemanha é um prato cheio para a extrema direita, representada pelo AfD (Alternativa para a Alemanha), partido com claras aspirações neonazistas e que possui ligações comprovadas com grupos extremistas. 

Fundada em 2013, a legenda conseguiu uma cadeira no parlamento alemão, pela primeira vez, em 2017 - hoje, já são 77 deputados. 

Trata-se de uma organização ultrarradical que abriga os membros mais extremistas da Alemanha. O AfD defende abertamente ideias xenofóbicas, racistas, segregacionistas e violentas. A principal plataforma política da sigla são os projetos anti-imigração, permeada de retóricas ultranacionalistas que remetem ao nazismo. Diversos membros do partido, inclusive, já tiveram comprovadamente relações com grupos neonazistas e fizeram falas com tal teor. 

Desde 2021, o AfD é monitorado pelo serviço de inteligência interno da Alemanha, o BfV, por tentativa de enfraquecer a constituição democrática do país.

Este ano, o partido foi o mais votado na eleição regional da Turíngia – a primeira vez que uma legenda de extrema direita vence um pleito estadual desde o regime nazista – e garantiu a segunda maior bancada no parlamento da Saxônia. Situação parecida se deu em Brandemburgo, onde o AfD também ficou em segundo lugar e, por pouco, não vence o pleito. 

O crescimento do AfD está intimamente ligado à atual crise política que abala o governo de Olaf Scholz. Com uma série de impasses internos e a falta de consenso entre os partidos da coalizão, temas como economia, inflação e política migratória vêm gerando insatisfação entre os eleitores, que enxergam na legenda extremista uma resposta à instabilidade governamental. A postura crítica do AfD em relação à União Europeia e ao euro também ganha força em meio às dificuldades econômicas que impactam a população alemã. Enquanto o governo de Scholz enfrenta dificuldades para avançar com reformas, o AfD se aproveita do descontentamento generalizado, apresentando-se como alternativa para eleitores que veem no partido uma maneira de protestar contra o status quo e a paralisia do governo.

Pesquisas apontam que, se as eleições gerais fossem hoje, o partido conservador CDU, liderado por Friedrich Merz, venceria com mais de 30%. Já o AfD vem despontando como a segunda maior força política do país e projeções dão conta de que a sigla somaria, em um eventual pleito antecipado, cerca de 16% dos votos. 

O CDU já sinalizou, em outras ocasiões, que não aceitaria formar um governo com o AfD. O fato é que a social-democracia e a esquerda na Alemanha vivem uma crise tão profunda que qualquer cenário aponta para o fortalecimento da direita e extrema direita

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