De BERLIM | Anualmente, em 3 de outubro, a Alemanha celebra o Dia da Unidade Alemã (Tag der Deutschen Einheit), um feriado nacional que marca a reunificação do país em 1990. Essa reunificação ocorreu quando a Alemanha Oriental (República Democrática Alemã), de regime socialista e alinhada à União Soviética, e a Alemanha Ocidental (República Federal da Alemanha), de regime capitalista e apoiada pelos Estados Unidos, se uniram após mais de quatro décadas de divisão. O processo de reunificação foi desencadeado pela queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, levando ao fim da Alemanha Oriental e integrando as duas "Alemanhas" em uma única nação.
O dia 3 de outubro foi escolhido como o Dia da Unidade Alemã porque, nessa data, em 1990, o Tratado de Reunificação entrou oficialmente em vigor, encerrando formalmente a divisão do país que existia desde o final da Segunda Guerra Mundial.
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Embora na data ocorram cerimônias oficiais, como a realizada na cidade Schwerin, capital de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, onde o chanceler Olaf Scholz fez um discurso alusivo ao dia, este ano o feriado, ao menos em Berlim, o que marcou o feriado não foram celebrações, mas protestos.
Milhares de pessoas – organizadores esperam um público de até 25 mil pessoas – saíram às ruas da capital alemã em manifestações pela paz e pró-Palestina. Uma das bandeiras dos protestos foi o repúdio ao massacre de palestinos em Gaza, promovido por Israel – segundo os manifestantes, apoiado pela Alemanha por conta da venda de armas ao governo israelense.
Protestos pró-Palestina são frequentes em Berlim, assim como a repressão policial contra esses atos. No entanto, as manifestações desta quinta-feira se destacaram pelo grande número de participantes e pela diversidade de pautas. Em diferentes pontos da cidade, os manifestantes ampliaram suas reivindicações, incluindo o apoio ao Líbano, que também tem sido alvo de ataques israelenses, e a crítica à política armamentista alemã que, segundo eles, alimenta conflitos ao redor do mundo.
Com faixas e cartazes, os manifestantes exigem que o governo alemão interrompa a venda de armas tanto para Israel quanto para a Ucrânia. Além disso, pedem que a Alemanha assuma um papel mais ativo nas negociações de paz e no cessar-fogo no Oriente Médio e entre Rússia e Ucrânia.
"Educação em vez de bombas, OTAN e guerra", dizia um dos cartazes erguidos por manifestantes. Outro cartaz trazia a mensagem: "Temos que acabar com a guerra ou a guerra acabará com os humanos".
Vale ressaltar que os protestos pró-Palestina ocorrem em um contexto delicado na Alemanha. O país carrega uma responsabilidade histórica ligada ao Holocausto e à Segunda Guerra Mundial, o que torna a discussão sobre o conflito entre Israel e Palestina um tema sensível.
Críticas às ações do governo israelense, muitas vezes, geram debates acalorados, uma vez que a Alemanha mantém um forte compromisso de apoio a Israel desde o pós-guerra. Essa tensão interna é exacerbada pelo crescente número de manifestações pró-Palestina, que frequentemente entram em choque com o governo alemão, que vê qualquer crítica a Israel como potencialmente antissemita.
O que disse Olaf Scholz
Apesar dos protestos em Berlim, o chanceler alemão Olaf Scholz não fez qualquer menção às guerras no Oriente Médio e Ucrânia e a relação de seu governo com esses conflitos.
Em seu discurso oficial alusivo ao Dia da Unidade Alemã, Scholz falou sobre as expectativas relacionadas à unificação entre o leste e o oeste da Alemanha. Ele argumentou que a ideia de que a unificação só seria completa quando as condições econômicas e sociais entre ambas as regiões forem completamente iguais é irrealista e gera frustrações.
Segundo Scholz, essa visão desconsidera a diversidade existente no país, tanto no leste quanto no oeste, enfatizando que o futuro da Alemanha depende passa por abraçar essa diversidade, em vez de buscar uma homogeneidade inalcançável. "A diversidade não é um déficit, mas sim um ponto forte", declarou.
O chanceler, contudo, chamou a atenção para diferenças sociais entre o leste, região considerada mais pobre, e o oeste alemão.
“É claro que a unidade alemã não está completa mesmo depois de 34 anos”, pontuou.