O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, prometeu neste sábado (5) que Teerã responderá com “mais força” se Israel lançar um ataque de retaliação pelo bombardeio iraniano com mísseis desta semana.
“Nossa reação a qualquer ataque do regime sionista [Israel] é clara”, declarou Araghchi em visita a Damasco, a capital da Síria, onde se reuniu com o presidente Bashar al-Assad, um aliado do Irã.
O Irã lançou em 1º de outubro uma salva de cerca de 200 mísseis contra Israel. Teerã indicou que o bombardeio foi uma medida de represália pelo assassinato do líder do movimento libanês Hezbollah, Hassan Nasrallah, e do general iraniano Abbas Nilforushan, mortos em 27 de setembro em um bombardeio de grande envergadura na periferia sul de Beirute.
“Para cada ação, haverá uma reação proporcional e similar do Irã, inclusive com mais força”, disse Araghchi.
Uma autoridade militar israelense, que falou à AFP sob a condição de anonimato neste sábado, indicou que o Exército “está preparando uma resposta”.
Antes de advertir Israel, Araghchi reiterou em Damasco o chamado que fez na sexta-feira por um cessar-fogo no Líbano e na Faixa de Gaza.
Fuga em massa de civis
Mesmo com a infraestrutura de Beirute comprometida, a movimentação de voos na capital libanesa foi intensa nesta sexta-feira (4). Cidadãos da Europa, Ásia e Oriente Médio seguem em fuga, enquanto Israel intensifica os bombardeios contra o Líbano.
Internamente, mais de um milhão de libaneses foram deslocados, principalmente do sul do país. Nos últimos dois dias, os ataques de Israel se intensificaram, principalmente na fronteira do Líbano com a Síria.
Os mísseis israelenses bloquearam a principal passagem entre os dois países. As bombas chegaram a formar uma cratera de 4 m de largura. Com essa passagem bloqueada, milhares de pessoas tentam deixar o Líbano a pé.
De acordo com o governo libanês, mais de 300 mil pessoas, a maioria síria, já deixaram o país nos últimos 10 dias.
O bombardeio nas primeiras horas de sexta, teve como alvo um oficial sênior do Hezbollah. Como resultado, no sudeste de Beirute, onde fica uma importante avenida comercial, prédios ficaram completamente destruídos.
Mais ataques de Israel
Neste sábado (5), as forças armadas de Israel realizaram novos ataques aéreos contra o Líbano. Os bombardeios israelenses em território libanês já resultaram em mais de 800 mortes e 5 mil feridos. Esses ataques têm causado grande deslocamento de civis, com centenas de milhares de pessoas fugindo de suas casas.
O dia mais letal foi em 23 de setembro, quando 558 pessoas foram mortas, incluindo 50 crianças e 94 mulheres. Além disso, ambulâncias e equipes de resgate também foram atingidas durante os bombardeios, aumentando a crise humanitária na região.
Os bombardeios deste sábado atingiram áreas no centro, norte e sul do Líbano. O exército israelense informou afirmando ter ter matado dois oficiais do Hamas e destruído "instalações de armazenamento de armas, centros de comando e infraestrutura terrorista" nos arredores de Beirute, incluindo a área de Dahiya, reduto do Hezbollah, onde colunas de fumaça foram vistas.
O Líbano segue contra-atacando. O sistema de defesa israelense interceptou vários mísseis na manhã de hoje. A fumaça podia ser vista de longe após restos dos foguetes destruídos caírem próximos a prédios no norte da fronteira com Israel.
O ministro de Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, em visita ao Líbano na sexta, afirmou que apoia um cessar-fogo desde que o acordo também passe a valer simultaneamente para a faixa de Gaza, e destacou que sua presença em Beirute é a prova de que o Irã está do lado do Líbano.
O porta-voz das Nações Unidas, Stefani Dujarric, disse que o secretário-geral da ONU está preocupado com o número de civis diretamente atingidos pela guerra. Ele disse que áreas densamente populosas têm sido atingidas diariamente pelos bombardeios de Israel, destacou ainda que o preço que os cidadãos estão pagando na campanha de Israel contra o Hezbollah é inaceitável.
Líder desaparecido
Neste sábado, o Hezbollah perdeu contato com um de seus líderes seniores, Hashem Safieddine, visto como possível sucessor do líder Hassan Nasrallah, morto recentemente. Safieddine está desaparecido desde sexta, após um ataque aéreo israelense no bairro de Dahiyeh, em Beirute, segundo uma fonte de segurança libanesa informou à Al Jazeera.
Safieddine, presidente do Conselho Executivo do grupo armado, é um membro de altíssima patente dentro da organização. Ele também é primo do falecido Nasrallah, o antigo secretário-geral, conforme relatado por Dorsa Jabbari, correspondente da Al Jazeera em Beirute.
Enquanto isso, o grupo Hamas, com base em Gaza, confirmou a morte de um de seus comandantes em Trípoli, no norte do Líbano, e, posteriormente, Israel afirmou ter eliminado outro alto comandante do Hamas no país.
Neste sábado, o Hezbollah disparou cerca de 90 foguetes contra o norte de Israel, mas a maioria foi interceptada pelos sistemas de defesa aérea, sem relatos imediatos de feridos.
Tensões crescentes
Crescem as preocupações de que o Irã, que apoia tanto o Hamas quanto o Hezbollah, possa se envolver ainda mais no conflito. O Irã já lançou mísseis balísticos contra Israel, e seu líder supremo, Ayatollah Ali Khamenei, sugeriu que novos ataques podem ser realizados "se necessário".
Israel intensificou sua campanha de bombardeios no Líbano há duas semanas, concentrando-se em sua fronteira norte após um ano de trocas de tiros que forçaram milhares de civis a fugir de ambos os lados.
O objetivo de Israel é garantir o retorno seguro de seus cidadãos ao norte do país enquanto ataca posições do Hezbollah. Na semana passada, Israel também iniciou uma "operação terrestre limitada" no sul do Líbano. Até agora, nove soldados israelenses morreram em confrontos terrestres com combatentes do Hezbollah.
Israel emitiu novos avisos de evacuação para residentes de Nuseirat e Bureij, no centro da Faixa de Gaza, enquanto sua atenção continua focada no Líbano.
O presidente Biden afirmou que Israel ainda não decidiu como responder aos ataques do Irã, mas sugeriu que, se estivesse no lugar de Israel, consideraria "outras alternativas" além de atacar instalações petrolíferas iranianas.
O Departamento de Estado dos EUA expressou preocupação com a morte de Kamel Ahmad Jawad, cidadão americano, em um ataque aéreo israelense no Líbano.
No sul do Líbano, pelo menos quatro hospitais interromperam suas atividades devido aos bombardeios, incluindo o Hospital St. Therese, próximo a Dahiya, que relatou danos significativos causados pelos ataques.
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