RACISMO

Magnata da tecnologia dos EUA banca secretamente grupo internacional de 'ciência racial'

A infiltração dessas ideias na política mainstream é um fenômeno preocupante com o uso de argumentos pseudocientíficos para justificar ações discriminatórias

Créditos: Reprodução/Hope Not Hate
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A rede internacional de ativistas conhecida como Human Diversity Foundation (HDF) surgiu há dois anos com o objetivo de influenciar o debate público com ideias pseudocientíficas sobre raça e eugenia. Esses ativistas têm buscado financiar suas atividades com o apoio secreto de Andrew Conru, um multimilionário do setor de tecnologia dos EUA, que contribuiu com mais de US$ 1 milhão para a organização antes de cortar laços, alegando que o grupo havia se desviado de sua proposta original de “pesquisa acadêmica apartidária”.

A instituição antirracismo Hope Not Hate revelou, através de uma investigação secreta, a verdadeira natureza da HDF. O grupo utiliza uma variedade de plataformas, como podcasts, vídeos e uma revista online, para disseminar teorias racistas, promovendo uma "ciência racial" que busca legitimar a falsa noção de superioridade genética entre grupos étnicos. Essa ideologia, muitas vezes descrita como "racismo científico", é amplamente desacreditada pela academia, mas continua a ser promovida por grupos como a HDF para justificar políticas anti-imigratórias e a manutenção de desigualdades raciais.

No centro dessas atividades, estão figuras como Erik Ahrens, um ativista da extrema direita na Alemanha e colaborador da HDF. Ahrens foi flagrado em eventos onde promoveu a ideia de "remigração", um eufemismo para a remoção forçada de minorias étnicas. Seu discurso ecoa o racismo institucionalizado de regimes passados, como o nazismo, e ele foi descrito pelas autoridades alemãs como um "extremista de direita", representando um perigo "extremamente alto", especialmente no que se refere à radicalização de jovens. 

Outro personagem central da HDF é Matthew Frost, ex-professor em Londres e editor da revista online Aporia, que se tornou um dos principais veículos de disseminação das ideias do grupo. Frost, que publica sob o pseudônimo Matthew Archer, afirmou que seu objetivo é influenciar as elites acadêmicas e políticas, utilizando um discurso de fachada científica para justificar as teorias raciais e promover o conceito de "realismo racial". Embora tenha se afastado publicamente da HDF após 2023, Frost desempenhou um papel crucial no crescimento do grupo.

A Hope Not Hate, em parceria com o jornal britânico The Guardian e parceiros de reportagem na Alemanha, revelou que a HDF, embora marginal, faz parte de um movimento crescente que tenta reabilitar as ideologias de superioridade racial e eugenia. Essas ideias, frequentemente disfarçadas de debates sobre diversidade humana, têm encontrado espaço na política contemporânea, especialmente em discursos de figuras públicas como Donald Trump e no crescente apoio a partidos de extrema direita, como a Alternativa para a Alemanha (AfD).

A infiltração dessas ideias na política mainstream é um fenômeno preocupante, especialmente considerando o uso de argumentos pseudocientíficos para justificar políticas discriminatórias. A ciência racial, como destacado por especialistas no tema, é uma ideologia perigosa que tem consequências diretas no mundo real, sendo utilizada para promover políticas de imigração restritivas e reforçar desigualdades estruturais.

A investigação também destacou o papel de Andrew Conru, que inicialmente financiou a HDF acreditando estar apoiando uma pesquisa legítima. Após ser informado das atividades do grupo, ele retirou seu apoio financeiro e ordenou uma revisão de suas doações filantrópicas. A revelação do financiamento secreto, bem como as conexões entre grupos de extrema direita e pseudociência, sublinha os riscos da proliferação dessas ideias na era digital, onde teorias conspiratórias e desinformação podem se espalhar rapidamente.

Com informações de Hope Not Hate e The Guardian