CONGRESSO EM BUENOS AIRES

Argentina: Manifestação contra Ley Omnibus é marcada por repressão e uso político das polícias

Aparentemente, “la Libertad, carajo” não é válida para o direito à manifestação; Policial é flagrado com bandeira da ideologia ultraliberal de Milei na farda; Veja fotos e vídeos

Manifestação contra Ley Omnibus é marcada por repressão e uso político das forças de segurança.Créditos: Reprodução/X
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Milhares de argentinos foram para a frente do Congresso, em Buenos Aires, nesta quarta-feira (31) para protestar contra a Ley Omnibus do presidente Javier Milei, cuja votação começou na mesma data. A lei prevê um aumento dos poderes do Executivo durante o atual mandato, desregula a legislação trabalhista abrindo espaço para a legalização da superexploração do trabalho, facilita a privatização de estatais e, entre outras coisas, impõe fortes restrições ao direito à manifestação.

A sessão do Congresso argentino que discute a Ley Omnibus começou nesta tarde e a previsão é de que dure pelo menos 40 horas. O que ficou marcado em mais essa jornada de protestos na Argentina foi justamente a repressão e o uso político da Polícia Nacional e da Gendarmeria (Tropa de Choque), sem as quais semelhante proposta jamais teria chances de ser aprovada dado o rechaço popular aos seus efeitos.

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A Radio Gráfica, um meio de comunicação popular de Buenos Aires, registrou a presença ostensiva das forças policiais ainda na concentração.

Em meio a um clima tenso em Buenos Aires, que misturou a ampla mobilização com um também amplo aparato de repressão, um policial foi flagrado usando na farda a famosa bandeira ultraliberal criada nos Estados Unidos, que representa ideologicamente o presidente Milei.

Trata-se da Bandeira de Gadstein, de fundo amarelo, com representação de uma cobra cascavel e a inscrição: “don´t thread on me”, ou “não pise em mim”, em alusão ao bote dos répteis peçonhentos. Reincorporada pela nova extrema direita dos EUA, representa a doutrina conhecida como “libertarianismo” ou “anarcocapitalismo”, a mesma que Milei reivindica para si.

Policial da Gendarmeria com a bandeira de Gadstein na farda. Reprodução/X

“Não estamos em estado de sítio”

Entre as organizações que compuseram a manifestação estão a CTA e a CGT, as principais centrais sindicais do país, e também dois dos principais alvos da Ley Omnibus que, com a desregulação trabalhista, pretende desfinanciar os sindicatos, cortando os programas de saúde do trabalhador que atualmente estão nas mãos das organizações.

Presente à manifestação, Oscar de Isasi, secretário da Associação de Trabalhadores do Estado, fez um balanço da mobilização.

“Esta é mais uma jornada de mobilização popular e queremos que os deputados votem pelo que pedem as ruas. Esperemos que assim seja. Terão de definir em que lado da história querem estar. Para nós a Ley Omnibus e o DNU (Decreto de Necessidade de Urgência) entregam as áreas estratégicas, saqueiam as riquezas e recursos naturais, fazem ajustes às maiorias e abrem caminho para a legalização da mão de obra escrava como a reforma trabalhista prevê. Por sorte essa reforma sofreu um revés na Justiça”, declarou à Rádio Grafica.

E emendou: “Quando as coisas não se discutem nas ruas, mas apenas nos escritórios e salas de reuniões, a tendência é aprovarem o que quiserem. Por isso hoje estamos aqui na rua, discutindo essas questões”.

Também esteve presente Cele Ferro, vereadora da cidade de Buenos Aires pela Frente de Esquerda dos Trabalhadores. Entrevistada pela Rádio Grafica na frente do Congresso, ela cita a Ley Omnibus, o DNU e o protocolo repressivo como os principais objetos de rechaço dos manifestantes.

“Quando íamos começar a marcha eles montaram essa provocação com esse tanto de policiais. Queremos deixar claro que não estamos em estado de sítio. Não há um estado de exceção. Se querem votar essas leis no Congresso, saibam que estamos em democracia e temos todo o direito de rechaçar essas políticas de ajuste. É uma vergonha que mobilizem a polícia dessa forma”, protestou.

Repressão

De acordo com reportagem do Uol, que enviou um repórter a Buenos Aires, minutos antes de começar a repressão comerciantes locais já começavam a fechar as portas. A movimentação das forças de segurança pelas ruas do entorno do Congresso, no coração da cidade, denunciavam o que viria a seguir.

Segundos depois, os policiais distribuíram bombas de gás lacrimogênio e pancadas de cassetete a fim de dispersar a mobilização. A expectativa é que os protestos continuem ocorrendo.